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Ameaçada por guerra comercial, Huawei paralisa produção de celulares

A Huawei vai reavaliar a meta de produção para este ano, diante da possibilidade de não poder usar mais o sistema Android em seus aparelhos, segundo jornal

Huawei e Google: restrições do governo americano podem impedir a empresa chinesa de usar o sistema Android em seus aparelhos a partir de agosto (Rafael Henrique/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)

Huawei e Google: restrições do governo americano podem impedir a empresa chinesa de usar o sistema Android em seus aparelhos a partir de agosto (Rafael Henrique/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 3 de junho de 2019 às 14h18.

Última atualização em 4 de junho de 2019 às 13h04.

A guerra comercial entre China e Estados Unidos já começou a mostrar seus efeitos na empresa de tecnologia chinesa Huawei. Temendo queda nas vendas nos próximos trimestres, a empresa paralisou parte da produção, segundo o jornal chinês South China Morning Post.

O jornal aponta que o corte foi verificado na Foxconn, uma fabricante de eletrônicos de Taiwan e que é fornecedora da Huawei.

Citando várias "pessoas próximas ao assunto", o jornal chinês afirmou que a Foxconn teria verificado uma redução nos pedidos da Huawei em "várias linhas de produção". Não está claro se a pausa é temporária ou permanente.

A Huawei foi particularmente afetada pela intensificação da guerra comercial sino-americana depois que o presidente americano, Donald Trump, colocou a companhia chinesa em uma "lista proibida".

Isso fez com que a americana Alphabet, dona do Google, que fabrica o sistema operacional Android usado nos celulares da Huawei, afirmasse que precisaria parar de oferecer o sistema para a empresa. A data limite é 19 de agosto, após uma extensão do prazo concedida pelo governo americano.

Se nada mudar até agosto, o bloqueio fará com que os celulares Huawei parem de receber atualizações e sejam proibidos de usar aplicativos do Google, como o Gmail, o Waze e a loja de aplicativos Play Store, onde a maioria dos apps de outras empresas está disponível.

Pisando no freio

Um representante da Huawei já havia afirmado a jornalistas na semana passada que a empresa vai reavaliar os objetivos deste ano. A expectativa da empresa para 2019 era tornar-se a maior fabricante de smartphones do mundo.

"Como uma nova situação apareceu, é muito cedo para dizer se seremos capazes de alcançar esse objetivo", disse Zhao Ming, presidente da Honor, uma marca da Huawei voltada a consumidores mais jovens.

No primeiro trimestre de 2019, a Huawei já havia passado a americana Apple, fabricante dos iPhones, e se tornado a segunda maior fabricante, atrás somente da sul-coreana Samsung. Agora, mesmo a vice-liderança pode estar ameaçada.

 

 

A Huawei já havia sido proibida de vender nos Estados Unidos e de comprar componentes americanos sem aprovação especial. Mas o bloqueio do Google é um dos principais problemas da empresa chinesa no momento.

A ausência do Android prejudicaria sobretudo usuários da Huawei fora da China. O maior grupo é Europa, África e Oriente Médio (contabilizados juntos), que representaram 28% do faturamento da empresa em 2018, seguido por 11% de Ásia e Pacífico (excluindo a China) e 7% das Américas (com exceção dos EUA, onde a Huawei não pode vender), além de 2% de outros lugares.

Na China, onde está 52% do faturamento da Huawei, a empresa terá mais facilidade para emplacar um possível sistema operacional próprio, que afirmou já estar desenvolvendo para se defender do possível fim do Android.

Serviços de empresas ocidentais são majoritariamente proibidos na China e os usuários chineses já usam aplicativos e serviços de e-mail oferecidos por empresas chinesas, como a Tencent.

Além do Google, a Huawei terá problemas com fornecedoras de chips americanas, como Intel, Qualcomm, Xilinx e Broadcom, que também vão parar de fornecer produtos à empresa.

E quem comprou um Huawei no Brasil?

O bloqueio no Android pode afetar amplamente as vendas da Huawei, que desembarcou no Brasil em maio com seu celular topo de linha, o P30. Por aqui, mais de 90% dos usuários usam o sistema Android, com uma pequena parte sendo usuário do iOS, que vem com os iPhones da Apple.

O Procon-SP, órgão de defesa do consumidor, anunciou na última quinta-feira, 30, que notificou a Huawei, o Google, empresas varejistas e operadoras de telefonia, pedindo explicações sobre como fica a situação dos consumidores que comprarem os telefones da marca chinesa no Brasil.

A Huawei garantiu em comunicado que somente os próximos lançamentos seriam afetados com o bloqueio do Android, e que os celulares já à venda não terão problemas.

https://twitter.com/huaweimobilebr/status/1130632096324685824

Ainda assim, o caso gerou dúvidas nos consumidores, e o medo de uma ausência dos aplicativos do Google e de atualizações de segurança nos celulares Huawei pode ser um fator que desencoraje os brasileiros a comprarem os produtos.

Por enquanto, o bloqueio só afeta a Huawei, e não outras empresas chinesas, como Xiaomi e Lenovo. Ainda não se sabe se o bloqueio pode ser estendido a outras empresas pelos Estados Unidos.

A Xiaomi, tal como a Huawei, também voltou ao Brasil oficialmente e inaugurou neste sábado, 1º de junho, sua primeira loja no país, em São Paulo (SP). A estreia da loja gerou filas quilométricas em frente ao shopping Ibirapuera, com muitos consumidores ansiosos para testar os produtos da marca.

 

 

Como mostram as filas da Xiaomi, a chegada das chinesas ao Brasil era aguardada com ansiedade. O P30 da Huawei, cuja versão mais completa pode passar de 5.000 reais, é visto como uma aposta no mercado super premium, capaz de concorrer com aparelhos como o Samsung S10 e os iPhones da Apple.

Lançamentos da Xiaomi, como seu topo de linha, o Mi 9 (vendido por cerca de 4.000 reais), além de produtos mais baratos na categoria intermediária, também eram aguardados por terem qualidade boa e preços competitivos.

Apesar da guerra comercial, a estreia das chinesas no Brasil veio cercada de festa -- ainda que com muitos questionamentos pela frente.

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