Devido a reserva para cobrir possível calote, lucro líquido ajustado da empresa teve queda de 57,48% no trimestre (Pilar Olivares/Reuters)
Luísa Melo
Publicado em 23 de maio de 2016 às 10h03.
São Paulo - Por conta de uma reserva feita para cobrir o possível calote de uma empresa do setor de óleo e gás, no valor de 2,02 bilhões de reais, o Banco do Brasil teve um retorno sobre o patrimônio líquido (RSPL) abaixo do esperado no primeiro trimestre e precisou revisar as expectativas para todo o ano.
O indicador ajustado ficou em 5,6% de janeiro a março. O guidance para 2016, que estava fixado entre 11% e 14%, foi reduzido para entre 9% e 12%.
Se os volumes provisionados se mantivessem no mesmo nível do primeiro trimestre de 2015, o índice atual seria de 10,4%.
O BB não revelou o nome da empresa a que o colchão foi direcionado, mas o mercado especula que se trata da Sete Brasil, que recentemente decidiu pedir recuperação judicial.
Outros grandes bancos, como Itaú e Bradesco, fizeram movimentos semelhantes sob a mesma justificativa.
A provisão para esse crédito de liquidação duvidosa teve um impacto negativo de 1,04 bilhão de reais no lucro líquido ajustado da empresa, que ficou em 1,28 bilhão de reais no trimestre, queda de 57,48% ante os 3,02 bilhões de reais registrados em igual período de 2015.
Segundo o banco, a reserva, porém, não interferiu no índice de cobertura, que está em 193%, nem no nível total.
A quantia já havia sido separada em uma provisão adicional para os setores de commodities não agrícolas e de óleo e gás, feita no terceiro trimestre do ano passado.
Naquela época, o lucro do Banco do Brasil (e de outras instituições financeiras) atingiu um patamar excepcional devido a créditos tributários que compensavam o aumento da alíquota da CSLL (contribuição social sobre o lucro líquido).
"O que aconteceu foi que, ao identificarmos o risco (da tal empresa) alocamos o recurso para esse caso. Ele saiu de adicional e foi para requerido", explicou José Maurício Coelho, vice-presidente de finanças, em coletiva com jornalistas nesta quinta-feira (12).
De acordo com ele, o ligeiro crescimento das provisões para devedores duvidosos no trimestre, de 33,57 bilhões de reais em dezembro de 2015 para 35,39 bilhões de reais em março deste ano, não tem relação com o caso e segue o "fluxo normal" de revisões do banco.
Outros casos
Embora reconheça que grandes companhias têm sido afetadas pelo ciclo econômico, o Banco do Brasil não teme o aumento do risco de calote (e um consequente salto das provisões) para outros clientes, a exemplo do que houve agora.
"As empresas de grande porte têm mais alternativas para gerenciar seus endividamentos. Esperamos mais renegociações, mas sem prejuízos para o banco. Não há nenhum grande caso que não possa ser renegociado", disse Coelho.
Devido à recessão, o BB concedeu menos empréstimos a empresas no primeiro trimestre.
O saldo da carteira de crédito de pessoas jurídicas encolheu de 351,8 bilhões de reais em março do ano passado para 348,5 bilhões de reais no mesmo mês de 2016, baixa de 0,94%.
"Essa queda está concentrada em pequenas e médias empresas e é resultado da situação econômica. As grandes empresas também estão com uma demanda menor por crédito, preocupadas em gerir seu endividamento atual", afirmou Coelho.
Por outro lado, os financiamentos ao setor de agronegócios e às pessoas físicas cresceram, o que fez com que a carteira total somasse 775,6 bilhões de reais, alta de 2,3% ante o primeiro trimestre do ano passado.
Inadimplência
O índice de inadimplência para dívidas vencidas acima de 90 dias ficou em 2,60% em março, alta de 0,76 ponto percentual frente o primeiro trimestre de 2015.
A expectativa do BB é de que o indicador continue a subir até que a economia retome. A companhia, porém, não quis dar estimativas sobre quando acredita que isso deva acontecer.
"O que temos em vista é uma possível subida do nível atual. Mas é importante lembrar que a inadimplência está sob controle e abaixo do índice do sistema financeiro no geral, de 3,50%", disse Coelho.
O vice-presidente também ressaltou o bom desempenho do banco em outros quesitos.
Entre eles, estão o avanço de 13,7% na margem financeira bruta, o crescimento de 10,8% das tarifas e o aumento de 2,5% das despesas administrativas, abaixo da inflação, graças a um rígido controle de gastos.
Impeachment?
O banco evitou traçar perspectivas para o cenário macroeconômico caso Dilma Rousseff, que teve o processo de impeachment aceito pelo Senado, seja afastada de vez da presidência.
Questionado sobre se o banco revisará guidances e se vislumbra mudanças no comando ou privatizações diante do contexto político, Coelho desconversou.
"Não cabe a nós executivos opinar, só trabalhar. Não temos condições de avaliar o que vai acontecer daqui para frente. A estratégia do banco é de longo prazo, nosso orçamento é de três anos e ainda é cedo para fazer qualquer revisão", disse.