Presidente da Sete Brasil, Luiz Eduardo Guimarães Carneiro: depois de oficializar o pedido de recuperação, a empresa terá 60 dias para apresentar uma proposta aos credores e acionistas (Lucio Bernardo Jr. / Câmara dos Deputados)
Da Redação
Publicado em 21 de abril de 2016 às 11h19.
Rio e São Paulo - Após dois anos à espera de um acordo com a Petrobras e com dívidas de R$ 14 bilhões, a Sete Brasil vai entrar com pedido de recuperação judicial.
A decisão ocorreu em assembleia de acionistas realizada ontem no Rio, onde o processo será aberto já na próxima semana. Depois de oficializar o pedido de recuperação, a empresa terá 60 dias para apresentar uma proposta aos credores e acionistas.
Em discussão desde dezembro do último ano, a opção pelo pedido de recuperação judicial só foi tomada após a mudança no voto da Petros, o fundo de pensão dos trabalhadores da Petrobrás.
Entre os grandes acionistas, o fundo dos petroleiros era o único acionista a resistir à recuperação, por orientação da própria estatal. Investidores como BTG, Funcef e Previ já reconheceram oficialmente perdas de R$ 2,6 bilhões com a empresa, e pressionavam pela recuperação judicial.
Com o Banco do Brasil, Bradesco, Caixa, Itaú Unibanco, Santander e Standard Chartered, a empresa pegou empréstimos de cerca de R$ 12 bilhões. Os bancos recuperaram cerca de R$ 4 bilhões desse total em fevereiro, quando conseguiram sacar recursos do Fundo Garantidor da Construção Naval (FGCN), que garantia os financiamentos à Sete.
O restante dos débitos, porém, deve entrar como baixa nos balanços. O BB é o maior financiador. Procurados, BB e Bradesco não comentaram. Os outros não responderam até o fechamento desta edição.
A recuperação da empresa será conduzida pelo escritório de advocacia Sérgio Bermudes, além da consultoria Alvarez & Marsal, que já atuava dentro da Sete Brasil, na análise de propostas para reestruturação do contrato com a Petrobrás desde fevereiro. A previsão dos sócios da empresa é de que o processo seja aberto em uma Vara Empresarial da Justiça do Rio de Janeiro na próxima semana.
"Temos confiança que a proposta da Sete é muito consistente, pois ela tem contratos com a Petrobras, tem sondas e a estatal precisa desses equipamentos", afirmou Sérgio Bermudes.
A empresa tem duas sondas com quase 90% de avanço físico e outras seis com mais de 40% de obras concluídas. Todas as obras estão paradas desde novembro, em função das dívidas com estaleiros. O contrato original previa a construção de 28 sondas e o aluguel para a Petrobrás por 25 anos a taxas superiores às do mercado.
Com a crise na estatal, as empresas iniciaram negociações ainda em 2014 para reduzir o número de sondas, o valor das diárias e o prazo dos contratos. Os sócios investiram cerca de R$ 8,3 bilhões no projeto. Parte do investimento seria financiada pelo BNDES, mas os recursos nunca foram liberados.
Petrobras
Além de cliente, a Petrobras é sócia da empresa, com mais de 5% de participação. No último ano, a estatal registrou perdas de R$ 922 milhões com o investimento na empresa. Procurada, a petroleira não se manifestou.
A criação da Sete Brasil estava atrelada à política dos governos petistas de fomentar a indústria naval. Para a construção das sondas, as principais empreiteiras do País investiram em estaleiros em sociedade com empresas estrangeiras.
Porém, as sociedades e os investimentos da Sete são alvo de investigação da Operação Lava Jato, por suspeita de desvio de recursos para propinas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.