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Represas do NE geram dúvidas sobre desligamento de térmicas

Represas da região estão com nível baixo de armazenamento de água para o período e as perspectivas climáticas não são boas


	Represa: nível de armazenamento de reservatórios no Norte é de 76,82%, no Sul é de 92,9% e no Nordeste de 38,82%
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Represa: nível de armazenamento de reservatórios no Norte é de 76,82%, no Sul é de 92,9% e no Nordeste de 38,82% (.)

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Da Redação

Publicado em 20 de agosto de 2013 às 14h37.

São Paulo - Os reservatórios das hidrelétricas brasileiras estão, em geral, em níveis que não geram preocupações em relação ao abastecimento no próximo ano, mas as represas do Nordeste, onde o consumo de energia tem crescido, estão com nível baixo de armazenamento de água para o período e as perspectivas climáticas não são boas.

Apesar da situação estar melhor que no ano passado, os agentes do setor ainda não recomendam o desligamento de todas as usinas térmicas neste momento.

Os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste, onde ficam as principais bacias para abastecimento das hidrelétricas do país, estão em 57,76 por cento do nível total de armazenamento, segundo dados de 19 de agosto do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). O nível no Norte é de 76,82 por cento, no Sul é de 92,9 por cento e no Nordeste de 38,82 por cento.

O governo federal manteve em operação todas as termelétricas de outubro do ano passado até maio deste ano, para recuperar os reservatórios das hidrelétricas, o que encareceu o custo da energia no país. No início de julho, contudo, as térmicas movidas a diesel e óleo, que são combustíveis mais caros, foram desligadas. Outras térmicas que utilizam gás natural, carvão, biomassa ou energia nuclear continuam operando.

Agentes do setor consideraram correta a decisão de desligar as térmicas mais caras, já que reduz o custo de energia do país e não há nada que impeça que sejam religadas, caso necessário.

"A situação do Sudeste para agosto não preocupa e está em um nível (das hidrelétricas) que aponta para possibilidade de chegar a 85 por cento em março ou abril, faltando dois meses para o início do novo ano hidrológico,", avalia o consultor da Enecel Energia, Raimundo de Paula Batista Neto.

"Mas a expectativa é que vão continuar 'gerando térmicas' (mantendo as termelétricas ligadas). A parte hidrológica é sempre uma incógnita", disse ele.


Considerando o nível dos reservatórios atuais, o diretor da consultoria Excelência Energética, Erik Rego, avalia que a geração térmica na ordem de cerca de 10 mil megawatts (MW) ainda deve ficar ligada até o final do ano, de forma a garantir um cenário confortável para o ano que vem.

"Há uma tendência já, pelo nível dos reservatórios que melhorou bastante, de um comportamento para o ano que vem muito mais tranquilo do que foi o início desse ano... Desligar mais que isso (do que foi desligado), acho que não vale a pena não", disse Erik Rego.

Economia no Nordeste

Se todas as térmicas forem desligadas nesse momento, o Nordeste pode enfrentar problemas, dependendo também das chuvas na próxima temporada, segundo especialistas.

O nível dos reservatórios na região Nordeste atualmente é menor que o registrado ao final de agosto do ano passado, quando estava em 52 por cento. O nível é um dos piores da década e vem caindo desde abril, mês em que fechou em 48,77 por cento. Mas o nível na região ainda é bem superior ao verificado em agosto de 2001, ano do racionamento, quando estava em 16,87 por cento.

A previsão do ONS é que este seja o pior agosto do histórico em regime de chuvas para os reservatórios do Nordeste (Energia Natural Afluente - ENA), de acordo com o Sumário Executivo do Programa Mensal de Operação para a semana de 17 a 23 de agosto.

O presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica (ABCE), Carlos Ribeiro, acredita que já seria importante incentivar medidas de economia voluntária de energia no Nordeste.

"A situação no Nordeste não é nem um pouco confortável e a carga (consumo) está crescendo. Isso leva a crer que a redução do nível dos reservatórios da região tende a acontecer e continuar", disse ele, que já atuou como diretor de operação do ONS e é gerente do Departamento de Operação da Cteep.


O executivo considera que as medidas de economia de energia na região podem ser importantes principalmente se a próxima estação chuvosa também for ruim, conforme aconteceu no período 2012-2013.

"Não seria um racionamento, mas uma orientação para um consumo mais consciente... Cada 5 por cento de redução de consumo lá no Nordeste, por exemplo, significa 1 por cento a mais por mês de armazenamento dos reservatórios da região", disse.

Transmissão sobrecarregada

Ribeiro considera que a medida de economia seria prudente já que o consumo de energia no Nordeste está em forte expansão, influenciado pelas classes residencial e comercial, e para que não seja necessário sobrecarregar o sistema de transmissão que permite exportar energia para a região.

O sistema elétrico brasileiro é interligado, tornando possível exportar energia entre as regiões, mas sistemas de transmissão têm limites de volume de energia que podem transportar, e sobrecarregar essa capacidade pode resultar em blecautes.

Segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o consumo de energia elétrica no Nordeste cresceu 6 por cento no primeiro semestre, na comparação com mesmo período do ano passado, enquanto o consumo total no Brasil aumentou 2,8 por cento, na mesma base de comparação. No mês de agosto, a previsão é que a carga de energia no Nordeste cresça 6,6 por cento ante mesmo mês de 2012, segundo informações da ONS.

A operação do sistema elétrico nacional para garantir o abastecimento de energia depende, entre outros fatores, das previsões metereológicas, que influenciam o nível dos reservatórios das hidrelétricas, do cronograma de entrada de novos empreendimentos de geração e transmissão de energia, e de crescimento da economia.

Se as estimativas de crescimento da economia do país forem revistas para baixo, as expectativas para o consumo de energia também cairão, embora a relação entre crescimento da economia e aumento do consumo, nos últimos anos, tenha apresentado um certo descolamento. Nos últimos anos, o consumo de energia cresceu mais do que o Produto Interno Bruto (PIB).

"Em virtude da desaceleração do crescimento econômico, a gente acredita que o governo está no caminho certo, já começando a reduzir a geração térmica", disse o diretor de Regulação e Gestão de Energia da consultoria Thymos Energia, Ricardo Savoia.

A previsão da Thymos para o crescimento do consumo de energia do país em 2013 está entre 3,5 por cento e 4 por cento.

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