No Reino Unido, debate entre finalistas abre contagem regressiva para eleição de novo premiê
Rishi Sunak e Liz Truss são os remanescentes na disputa para liderança do Partido Conservador e premiê do Reino Unido após renúncia de Boris Johnson
Carolina Riveira
Publicado em 25 de julho de 2022 às 06h00.
A última etapa na escolha do novo primeiro-ministro do Reino Unido começa nesta semana. Os parlamentares Rishi Sunak e Liz Truss, os dois remanescentes na disputa, fazem na noite desta segunda-feira, 25, seu primeiro debate televisionado nesta reta final, o início de uma maratona que vai até o anúncio do vencedor em 5 de setembro.
Desde que o atual premiê Boris Johnson disse que sairia do cargo em julho (em meio a uma acusação de assédio contra um parlamentar aliado que respingou no governo), seu Partido Conservador está em eleição interna para encontrar um sucessor.
A eleição diz respeito só aos filiados ao partido, pouco menos de 200 mil com direito a voto, mas afeta todo o país: como os conservadores têm maioria no Parlamento britânico, o escolhido será também o novo primeiro-ministro.
O debate de hoje acontece na BBC, rede de televisão pública britânica, às 21h (horário de Londres). Depois disso, há ainda mais uma série de debates ao longo do mês, o último em 31 de agosto.
Os parlamentares do Partido Conservador votaram nas primeiras etapas da campanha, processo ao longo do qual a mais de meia dúzia de candidatos foi reduzida aos dois finalistas. Agora, até o anúncio do resultado em setembro, votarão pelo correio os milhares de membros do Partido Conservador em todo o Reino Unido (que inclui Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales).
O Partido Conservador têm direito a eleger o premiê britânico até janeiro de 2025, quando acaba o atual mandato no Parlamento. O Partido Trabalhista, de oposição, tentou forçar eleições gerais antecipadas dado o caso de Johnson, mas um pleito não deve ocorrer por enquanto.
Sunak e Truss: quem são os candidatos a premiê
Rishi Sunak, de 42 anos, é parlamentar desde 2015 e foi chanceler do Tesouro no governo Boris Johnson (posto análogo a ministro das Finanças), um dos cargos mais importantes na economia do país.
Sunak foi um dos que abriram a porteira das renúncias no gabinete de Johnson depois que o caso de assédio de um aliado do governo veio à tona. A perda de apoio dos partidários levaria à renúncia de Boris Johnson dias depois, em 7 de julho.
Filho de indianos, Sunak poderá ser o primeiro premiê com ascendência indiana. Sua esposa também é filha de um bilionário indiano e o casal, por esse motivo, está entre os mais ricos do Reino Unido.
Durante a pandemia, suas medidas de auxílio governamental para retenção de empregos foram elogiadas no campo econômico, mas a inflação em alta no Reino Unido é um dos desafios da campanha.
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Além disso, ele próprio se viu no centro de um escândalo ao ser um dos nomes envolvidos no “Partygate”, em que festas ocorreram na residência do primeiro-ministro enquanto o Reino Unido passava por um lockdown. O caso colocou sua popularidade em xeque, assim como a do premiê Boris Johnson.
Sunak promete uma série de reformas liberais que, segundo ele, trarão de volta o legado da ex-premiê Margaret Thatcher e irão “incentivar o crescimento e a prosperidade em todos os cantos do Reino Unido e usar as liberdades que o Brexit nos deu”.
Já Liz Truss, de 46 anos, foi ministra das Relações Exteriores do governo Johnson, tendo participação ativa nas negociações para executar o Brexit. Se eleita premiê, ela promete acelerar reformas para, até o fim do ano, acabar com as leis remanescentes da União Europeia no Reino Unido.
Truss é parlamentar desde 2010. Antes de ser chanceler, atuou também nos gabinetes de Theresa May e David Cameron. Tal como Johnson, Truss é vista como da ala “linha dura” do Partido Conservador.
Como Sunak, ela promete medidas tradicionais nos costumes, mas reformas liberais na economia, como cortes de impostos. Segundo a ministra, suas medidas podem ser capazes de reverter o cenário de baixo crescimento econômico que o Reino Unido enfrentou nos últimos anos.
Na frente internacional, Truss também diz que será dura com o presidente russo, Vladimir Putin.
Quem lidera nas pesquisas
A chanceler tem se mostrado a favorita nas pesquisas entre os partidários conservadores no interior, e cresceu nas casas de aposta (na Betfair Exchange, ela tem hoje chance de 4/9, bastante à frente de Sunak, com 9/4).
Uma das poucas pesquisas recentes, da YouGov em 21 de julho, mostra Truss com 62% dos votos, e Sunak com 38%.
Sunak, por sua vez, é o favorito entre os conservadores que são parlamentares. Os resultados ainda podem mudar com a série de debates a partir de agora.
Inflação e Brexit são desafios para britânicos
Além de governar o país nos próximos dois anos, o escolhido para líder dos conservadores em setembro deve ser o nome a disputar a próxima eleição geral em 2025, se durar no cargo até lá.
Tanto Sunak quanto Truss têm tentado convencer seus partidários de que são os nomes com maiores chances de passar uma borracha no escândalo de Johnson e vencer os trabalhistas — que não elegem um premiê desde Gordon Brown (2007-10) e, por ora, lideram nas pesquisas para eleições gerais.
Embora só votem 180 mil partidários, a disputa no microcosmo conservador também reflete divergências que estão expostas em todo o resto do país.
A inflação no Reino Unido é a maior em 40 anos, superando 9% em meio à guerra na Ucrânia e choques de oferta com a crise do coronavírus. O desemprego está baixo, mas há riscos crescentes para a economia com a alta de juros esperada em todo o mundo.
Enquanto isso, o novo premiê britânico terá de lidar com os resquícios do Brexit, saída da União Europeia votada em referendo em 2016.
Embora concretizada de fato no ano passado (com apoio tanto de Sunak quanto de Truss), a saída ainda tem problemas, o maior deles a fronteira entre a Irlanda do Norte (que faz parte do Reino Unido) e a Irlanda (que faz parte da União Europeia).
Antes de renunciar, Boris Johnson vinha ameaçando romper um acordo com a UE sobre o caso.
Para além das Irlandas, a Escócia também pode gerar dor de cabeça em Londres, com o governo local ameaçando fazer um novo referendo para deixar o Reino Unido (na Escócia, a maioria da população votou contra o Brexit).
Da guerra à ameaça dos trabalhistas e fantasmas não resolvidos do Brexit, o novo premiê britânico terá muito trabalho pela frente. Sunak e Truss terão de convencer os partidários, ao longo do próximo mês, de que têm as melhores respostas a todos esses problemas.