Recomeço? Zimbábue vai às urnas na primeira eleição sem Mugabe
A repressão e a coação aos eleitores e a alguns candidatos têm reforçado a ideia de que o país ainda tem muito pela frente para se tornar democrático
EXAME Hoje
Publicado em 30 de julho de 2018 às 06h01.
Última atualização em 30 de julho de 2018 às 08h51.
A população do Zimbábue vai às urnas nesta segunda-feira para escolher um novo presidente e novos membros do Parlamento, e colocar um fim à crise política do país. A eleição pode encerrar o mandato interino do vice-presidente Emmerson Mnangagwa, que assumiu o país após a saída de Robert Mugabe, 94 anos e no poder há 37, e que foi deposto por um movimento militar, em novembro do ano passado.
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Mnangagwa, representando o partido Frente Patriótica, é um dos favoritos, junto com Nelson Chamisa, dirigente do Movimento para a Mudança Democrática (MDC). Os 23 candidatos à presidência podem até apontar para uma pluralidade política no país, mas, na prática, a repressão e a coação aos eleitores e a alguns candidatos têm reforçado a ideia de que o país ainda tem muito pela frente para se tornar verdadeiramente democrático.
Na semana passada, o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos pediu ao governo do Zimbábue para que o pleito seja realizado de forma pacífica e limpa, após ter recebido relatos de intimidações e coerções contra eleitores. Em diversas zonas rurais o escritório do Alto Comissariado identificou “um número crescente de relatos” de assédio e coerção de eleitores.
Outro problema são os insultos dirigidos às quatro candidatas mulheres nas redes sociais. Ataques verbais são motivados por questões de gênero e chegam a descrever as concorrentes como “candidatas abaixo da média” ou “feministas que queimam sutiãs”. Violência, intimidação e falta de recursos são as principais razões que afastam a candidatura de mulheres a cargos políticos, apesar de constituírem mais de 54% dos eleitores registrados do país.
Gêneros à parte, o candidato eleito terá o desafio de recuperar a economia do país. Após mais de duas décadas de corrupção, queda do PIB e falta de produção de alimentos, altas taxas de desemprego e desvalorização da moeda são alguns dos problemas do novo Zimbábue. Livrar-se do legado de um sanguinário ditador é das tarefas mais difíceis. Com ele vivo, mais difícil ainda.