Reclamação por causa de lixo soluciona 'crime do século' na Bélgica
Ladrões levaram US$ 100 milhões (R$ 565 milhões) em joias e diamantes de uma caixa-forte em uma das áreas mais seguras de Antuérpia, mas foram descobertos graças a um simples telefonema.
Redator na Exame
Publicado em 8 de agosto de 2024 às 10h26.
Em fevereiro de 2003, um roubo espetacular ocorreu em Antuérpia, Bélgica, quando uma caixa-forte no coração do distrito de diamantes da cidade foi invadida. Joias e diamantes avaliados em US$ 100 milhões (R$ 565 milhões) foram roubados sem que os ladrões deixassem vestígios. O crime, cometido em um prédio com um dos mais sofisticados sistemas de segurança, parecia insolúvel até que um simples telefonema mudou o rumo das investigações. As informações são da BBC.
A caixa-forte, situada em um edifício altamente protegido, foi encontrada aberta e saqueada na manhã de 17 de fevereiro, uma segunda-feira. Mais de cem dos 189 cofres individuais do local foram violados, com joias, moedas de ouro e diamantes espalhados pelo chão. A ousadia dos criminosos, que conseguiram desativar todos os alarmes e escapar com as fitas de segurança do edifício, deixou a polícia sem pistas iniciais.
Alguns dias após o crime, a polícia recebeu um telefonema de August Van Camp, um aposentado que reclamava sobre o lixo jogado em seu terreno, próximo a uma autoestrada. Ele notou que o lixo era incomum e suspeitou que poderia estar ligado ao roubo. Ao investigar o local, a polícia encontrou documentos rasgados, pedaços de dinheiro e envelopes com o selo do Centro de Diamantes de Antuérpia. Entre o lixo, um recibo de compra de um sistema de videovigilância levou os investigadores a Leonardo Notarbartolo, um comerciante de diamantes italiano com um histórico criminal.
Gangue da "escola de Turim"
Leonardo Notarbartolo, que tinha um escritório no Centro de Diamantes e um cofre na caixa-forte, rapidamente se tornou o principal suspeito. A investigação revelou que ele fazia parte de uma gangue conhecida como "Escola de Turim", composta por cinco membros, cada um com uma especialidade única. Os codinomes dos integrantes – o Gênio, o Monstro, Ligeirinho e o Rei das Chaves – lembram personagens de histórias em quadrinhos, mas suas habilidades eram reais e essenciais para o sucesso do roubo.
O Gênio, Elio D’Onorio, era o especialista em eletrônica e alarmes, enquanto o Monstro, Ferdinando Finotto, tinha um talento notório para abrir fechaduras. Ligeirinho, Pietro Tavano, foi o responsável por descartar o lixo comprometedor, que acabou levando à identificação do grupo. O Rei das Chaves, cuja identidade nunca foi descoberta, teria sido o responsável por recriar a chave de 30 centímetros necessária para abrir a porta da caixa-forte.
Punição
Com as provas recolhidas do lixo, nas filmagens da câmera de segurança de uma mercearia e nos objetos deixados no cofre-forte, a polícia belga conseguiu reconstruir o modus operandi do roubo.Em maio de 2005, o caso foi levado a julgamento. Ferdinando Finotto, Elio D’Onorio e Pietro Tavano foram condenados a cinco anos de prisão cada, enquanto Leonardo Notarbartolo, apontado como o orquestrador do crime, recebeu uma pena de 10 anos.
As joias e os diamantes roubados nunca foram recuperados. Todos os membros conhecidos da gangue cumpriram suas penas, com Notarbartolo sendo libertado condicionalmente em 2009, após cumprir quatro anos. Ele, no entanto, violou os termos da libertação ao viajar para a Califórnia para discutir um contrato de filme sobre o roubo, resultando em sua prisão no aeroporto de Paris e cumprimento do restante da pena.
Apesar da condenação dos envolvidos, o "roubo do século" permanece envolto em mistério, especialmente quanto ao paradeiro do Rei das Chaves e dos itens roubados. O caso, que começou com uma sofisticada operação criminosa, foi desvendado graças à simples observação de um homem preocupado com o lixo jogado em seu terreno, mostrando que até mesmo os crimes mais elaborados podem ser desvendados por detalhes inesperados.