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Quem é o homem que foi intermediário entre Putin e Prigozhin

Alexander Lukashenko obteve um trunfo para sua imagem ao mediar o acordo que evitou um confronto armado na Rússia

O presidente de Belarus, Alexander Lukashenko (C), participa de desfile pelo Dia da Vitória, em Moscou, em 9 de maio de 2023 (AFP/AFP)
AFP

Agência de notícias

Publicado em 26 de junho de 2023 às 18h56.

Última atualização em 26 de junho de 2023 às 19h09.

O presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko , obteve um trunfo para sua imagem ao mediar o acordo que evitou um confronto armado na Rússia, mas no futuro poderia lamentar o pacto segundo o qual seu país receberá o líder do grupo paramilitar Wagner, Yevgueni Prigozhin , avaliam observadores.

Em um comunicado inesperado na noite de sábado, o serviço de imprensa de Lukashenko informou que ele havia passado o dia todo em negociações com Prigozhin, com o aval do presidente russo, Vladimir Putin , e o chefe do Wagner , que aceitou interromper sua marcha rumo a Moscou.

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O anúncio foi um reconhecimento para Lukashenko, que está no poder há quase 30 anos, mas é malvisto no Ocidente devido às eleições de 2020, que a oposição considerou fraudulentas, e seu apoio à invasão da Ucrânia pela Rússia.

Ocorreu também em um momento complicado para o dirigente de 68 anos, cujo estado de saúde é alvo de especulações.

Segundo o acordo, Prigozhin vai morar em Belarus, revelou o Kremlin. Não está claro se ele será acompanhado de outros milicianos do Wagner.

De acordo com a Presidência bielorrussa, Putin ligou para Lukashenko para lhe agradecer por seu trabalho.

No entanto, Katia Glod, pesquisadora das relações entre a Rússia e o Ocidente no European Leadership Network de Londres, relativiza o papel de Lukashenko.

"Não acredito que tenha sido vontade de Lukashenko. Penso que foi usado pelo Kremlin. Ele preferiria não ter Prigozhin" em seu território, declarou Glod à AFP.

A presença do líder do grupo Wagner em Belarus traz "múltiplos riscos" em um país onde a lealdade às forças de segurança é fundamental desde as eleições de 2020, quando ocorreram protestos multitudinários, sufocadas por uma repressão brutal, acrescentou.

"A única vantagem que o líder bielorrusso poderia obter seria usar os homens de Prigozhin como exército pessoal contra uma possível revolta", acrescentou.

O presidente da Lituânia, Gitanas Nauseda, cujo país vai sediar a cúpula da Otan, em junho, alertou que a aliança atlântica poderia ter de fortalecer suas fronteiras no leste "se Prigozhin ou parte do grupo Wagner for parar em Belarus sem planos ou intenções claros".

O presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, durante reunião no Kremlin, em Moscou, em 25 de maio de 2023 (AFP/AFP)

Anexação lenta

Desde 2020, Lukashenko se tornou mais dependente do Kremlin para sua sobrevivência política e parece ser o sócio minoritário em suas frequentes reuniões com o Putin.

Além disso, Belarus aceitou receber armas nucleares táticas russas após um acordo entre Lukashenko e Putin.

"Pôr armas nucleares em território bielorrusso é a anexação russa de Belarus em câmera lenta", comentou William Alberque, diretor de Estratégia, Tecnologia e Controle de Armas do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IIES).

"Penso que Lukashenko já se sente encurralado. Obviamente, se Putin diz 'me faça um favor', ele vai fazer com a esperança de que lhe dê alguma influência", acrescentou.

Para a líder da oposição bielorrussa, Svetlana Tsikhanouskaya, que partiu para o exílio após as eleições presidenciais que ela diz ter vencido, o acordo é perigoso para Belarus.

"Prigozhin não é um agrado para Lukashenko porque Putin, o autocrata, nunca vai perdoar a humilhação que sofreu", avaliou o ex-diplomata bielorrusso Pavel Latushko, atualmente na oposição.

"É uma vitória pequena, tática, artificial, superficial para Lukashenko, que poderia se tornar um problema estratégico para o ditador", acrescentou em um vídeo divulgado pelo canal opositor Nexta, no Telegram.

Os presidentes russo, Vladimir Putin (E), e bielorrusso, Alexander Lukashenko, conversam em Sochi, Rússia, em 9 de junho de 2023 (AFP/AFP)

Arriscado

Lukashenko, qualificado pelos Estados Unidos como líder da "última ditadura da Europa", tem uma presença variável em Belarus, onde aparece trabalhando no campo ou praticando esportes.

Mas ativistas afirmam que a repressão interna se intensificou desde os protestos de 2020, com cerca de 1,5 mil presos políticos, de acordo com o grupo de defesa dos direitos humanos Viasna.

Segundo Glod, o governo de Lukashenko se baseia em dois pilares: a violência e o apoio da Rússia.

"Claramente, agora está preocupado de que o Kremlin não pareça tão forte quanto antes", afirmou Glod.

Hanna Liubakova, do Atlantic Council, comentou que a posição de Lukashenko poderia ser fortalecida graças à mediação, mas "no longo prazo, seu regime vai enfrentar consequências".

Lukashenko tem demonstrado uma "lealdade inabalável" ao Kremlin, mas fez a "aposta arriscada" de que a Rússia venceria rapidamente a guerra na Ucrânia.

"Com a autoridade de Putin debilitada, o regime de Minsk poderia se deparar com um apoio reduzido de parte da Rússia", acrescentou Liubakova.

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