Putin se reúne com líderes africanos em meio a temor de escassez de grãos
Moscou tenta mostrar ao mundo que tem aliados e quer tranquilizar os países africanos sobre os efeitos da suspensão do acordo que permitia exportações de alimentos ucranianos
Agência de notícias
Publicado em 27 de julho de 2023 às 08h50.
O presidente russo, Vladimir Putin , se reunirá com líderes africanos, a partir desta quinta-feira, em um encontro de cúpula em São Petersburgo — um esforço para demonstrar ao mundo que tem aliados, apesar do isolamento com a invasão da Ucrânia e a escalada de tensão após o fim do acordo de exportação de grãos pelo Mar Negro, que atinge diretamente a África.
Alvo de sanções internacionais desde o lançamento da ofensiva militar, Putin conta com a parceria de Pequim, mas aposta também nos aliados africanos.
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"Hoje, a aliança construtiva, confiante e voltada para o futuro entre a Rússia e a África é particularmente significativa e importante", disse Putin em um artigo publicado, na segunda-feira, no site do Kremlin.
Em São Petersburgo, antiga capital imperial, são esperados diversos chefes de Estado africanos, entre eles o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa. Esta será a segunda edição do encontro de cúpula, que ocorreu pela primeira vez em Sochi, às margens do Mar Negro.
O Kremlin indicou que "49 países africanos confirmaram participação" e observou que haverá "uma declaração final", que "estabelecerá abordagens coordenadas para o desenvolvimento da cooperação russo-africana".
O porta-voz do Kremlin Dmitri Peskov acusou os países ocidentais, na terça-feira, de tentar desencorajar os líderes africanos de participarem da cúpula.
"Praticamente todos os estados africanos foram submetidos a uma pressão sem precedentes dos Estados Unidos — disse o porta-voz, que acusou ainda as embaixadas francesas na África de agirem contra o engajamento de lideranças do continente no encontro — Hoje, mais do que nunca, é importante nos encontrarmos com os africanos e conversarmos, em particular, a respeito do acordo sobre grãos.
Entrega de grãos
O Kremlin detalhou, na terça-feira, que durante um almoço de trabalho marcado para sexta, Putin vai falar com líderes africanos sobre assuntos relacionados à Ucrânia.
A questão central é a decisão russa de não renovar o acordo que permitia aos ucranianos exportarem grãos através do Mar Negro, o que atinge vários países compradores, principalmente africanos.
Em um ano, o pacto permitiu a exportação de quase 33 milhões de toneladas de grãos ucranianos, principalmente milho e trigo, ajudando a estabilizar os preços mundiais de alimentos e evitando o risco de desabastecimento e de inflação.
Nos últimos dias, a Rússia tentou tranquilizar os aliados da África dizendo que entende a "preocupação" com o assunto e que Moscou “sem dúvida” está disposta a entregar sua produção de grãos gratuitamente para os países que mais precisam no continente.
Putin afirmou que a Rússia pode voltar ao acordo no futuro, mas impõe a condição de que as exigências sobre as exportações russas, sob sanções internacionais, sejam aceitas "na totalidade".
Desde o início da ofensiva na Ucrânia, em fevereiro de 2022, a Rússia busca estreitar laços diplomáticos com a África, concorrendo com a França em alguns países, particularmente pela presença de paramilitares do Grupo Wagner.
Contra o ‘imperialismo’ ocidental
Como sinal deste interesse, o ministro das Relações Exteriores russo, Sergey Lavrov, fez duas viagens à África este ano, na tentativa de atrair aliados para o campo de Moscou, com um discurso de defesa da luta contra o "imperialismo" ocidental.
"Apoiamos constantemente os povos africanos em sua luta pela libertação da opressão colonial, ajudamos a formar Estados, fortalecemos a soberania e as capacidades de defesa", enfatizou Putin.
Segundo especialistas, o aumento da influência russa aparece, especialmente, nos contratos de cooperação militar e campanhas de comunicação nas redes sociais. No entanto, a rebelião fracassada do Grupo Wagner na Rússia, no fim de junho, levantou dúvidas sobre o futuro das operações dos paramilitares na África.
Enquanto o presidente francês, Emmanuel Macron, sustenta que Moscou está "desestabilizando" a África, o governo russo alega estar "desenvolvendo" com os países africanos "relações amistosas e construtivas, baseadas no respeito".
Em meados de junho, uma delegação de chefes de Estado africanos visitou Moscou e Kiev, em uma missão de paz que levou pedidos de interrupção das hostilidades aos dois líderes, em um movimento que não teve nenhuma repercussão prática.