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Presidentes que queriam ser reis caem, mas monarcas permanecem

Analistas acreditam que é natural que as revoltas nos países árabes tenham menos forças em nações governadas por famílias reais

Hosni Mubarak, ex-presidente egípcio: um dos primeiros a cair (Getty Images)

Hosni Mubarak, ex-presidente egípcio: um dos primeiros a cair (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 25 de março de 2011 às 15h50.

Dubai - As revoltas árabes estão tirando presidentes de seus postos e ameaçam outros, que se aferram ao poder, mas os monarcas parecem resistir bem até o momento a esse desejo de mudança que se propaga do norte da África ao Golfo Pérsico.

O paradoxo é explicado pelas tentações dinásticas dos chefes de Estado destituídos e pela legitimidade, ainda conservada, dos soberanos que se mantêm no poder.

"É evidente que os manifestantes políticos visaram primeiro aos presidentes", explica o especialista do Brookings Institute em Doha, Salman Shaikh.

O primeiro a cair foi o tunisiano Zine Al Abidine Ben Ali, seguido do egípcio Hosni Mubarak. Atualmente, a ira dos protestos se volta para os presidentes do Iêmen, Ali Abddulah Saleh, da Síria, Bashar al Assad, e da Líbia, Muamar Kadhafi.

"As pessoas se insurgem contra os regimes presidenciais que queriam virar famílias reais", observa Mustafá Alani, do Centro de Pesquisa sobre o Golfo Pérsico, em Dubai.

Ben Ali e Mubarak pretendiam deixar seu cargo nas famílias, com Saleh já tendo manifestado seu desejo de ver o filho como sucessor.

Esta transmissão de poder dinástico, a princípio alheio ao regime republicano, levou o presidente sírio, Bashar al Assad, a substituir seu pai Hafez, em 2000, o que provocou outro mal-estar em Damasco.

Os protestos já começaram na Síria para reclamar reformas do regime de Damasco.

Na Argélia, o presidente Abdelaziz Buteflika, no poder há 12 anos, enfrenta uma crescente oposição que o acusa de abuso de poder. O presidente argelino pretende apresentar-se para outro mandato de cinco anos em 2014.

Na Líbia, a rebelião armada, que conta com o apoio dos países ocidentais, tenta acabar com quase 42 anos do regime autoritário de Muamar Kadhafi; seu filho, Seif al Islam, se apresentava com herdeiro designado.

"As pessoas se revoltam também contra os dirigentes chegados ao poder como revolucionários e que se converteram, com o tempo, em tiranos", explica Jamil Mroue, jornalista que vive em Abu Dabi.

Além da ira dos povos, a intervenção dos exércitos na Tunísia, Egito e Iêmen, ao lado dos manifestantes, cumpriu um papel essencial para defender os direitos de seus cidadãos.

Por outra parte, as monarquias do Marrocos, Jordânia ou reinos petroleiros do Golfo continuam sem mostrar sinais de nervosismo, aguentando bem o vendaval popular, mas, mesmo assim, providenciando algumas reformas.

Em Bahrein, a manifestação contra a dinastia sunita por parte dos xiitas - majoritários - começou a ser reprimida quando as exigências de maior participação política pelos manifestantes se transformaram em exigência da queda da família real.

"As monarquias desfrutam de uma maior legitimidade e maior estabilidade associadas a suas raízes nas sociedades tradicionais", indicou Shaikh.

Além disso, o processo de transferência de poder, apesar de pouco transparente e, com frequência, objeto de negociações internas, não é questionado.

"Um rei tem o direito de transmitir o poder a seu filho ou irmão. No entanto, os monarcas devem realizar reformas se quiserem resistir. Sua legitimidade histórica não os protegerá para sempre", conclui Alani.

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