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Obama pós-Casa Branca

Sérgio Teixeira Jr., de Nova York Ao contrário do Brasil, país em que ex-presidentes continuam se manifestando sobre política e atuando vigorosamente nos bastidores – às vezes nem tão discretamente assim –, nos Estados Unidos a despedida da Casa Branca é basicamente um adeus definitivo aos círculos políticos. Ex-presidentes se ocupam de suas fundações, escrevem […]

OBAMA E MICHELLE: ele é o primeiro ex-presidente que continuará morando em Washington em quase um século / Brendan McDermid/ Reuters
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Da Redação

Publicado em 21 de janeiro de 2017 às 07h42.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h18.

Sérgio Teixeira Jr., de Nova York

Ao contrário do Brasil, país em que ex-presidentes continuam se manifestando sobre política e atuando vigorosamente nos bastidores – às vezes nem tão discretamente assim –, nos Estados Unidos a despedida da Casa Branca é basicamente um adeus definitivo aos círculos políticos. Ex-presidentes se ocupam de suas fundações, escrevem livros de memórias, tornam-se palestrantes requisitados e jogam muito golfe, mas raramente comentam sobre o desempenho dos seus sucessores. Em um discurso fechado para a imprensa semanas depois de passar o poder para Barack Obama, George W. Bush disse: “Ele merece meu silêncio e, se precisar da minha ajuda, pode me ligar.”

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Depois do juramento de Donald Trump, Barack Obama embarcou nesta sexta-feira num helicóptero que o levou à base aérea de Andrews, fez um discurso para sua equipe e alguns apoiadores – que foi cortado pela CNN para mostrar o novo presidente assinando seus primeiros documentos, como a nomeação de seus ministros – e seguiu diretamente para Palm Springs, na Califórnia, onde vai passar alguns dias de férias com sua família. A ideia é “refletir e ficar em silêncio”. Obama disse que pretende escrever e aproveitar para passar mais tempo com suas duas filhas adolescentes. E, é claro, jogar golfe: Palm Springs, um oásis no deserto californiano, é um destino famoso para amantes do esporte.

Mas o ex-presidente já indicou que também vai acompanhar a vida política americana de perto. Em sua última entrevista coletiva, na semana passada, ele afirmou que pode se manifestar publicamente caso alguns limites sejam ultrapassados. “Coloco nessa categoria discriminação sendo ratificada de alguma maneira. Coloco nessa categoria obstáculos explícitos ou funcionais que impeçam as pessoas de votar, de exercitar seus direitos. Colocaria nessa categoria esforços institucionais para silenciar o dissenso ou a imprensa. E, para mim, pelo menos, colocaria nessa categoria esforços para prender crianças que cresceram aqui e que são crianças americanas, para todos os propósitos.” Foram referências claras a temas recorrentes da campanha de Donald Trump.

Outro sinal de que Obama pretende se manter politicamente ativo é seu endereço depois das férias na Califórnia: ele e a mulher, Michelle, vão continuar morando em Washington – o primeiro a fazê-lo desde Woodrow Wilson, que governou entre 1913 e 1921. A ideia é ficar na capital até pelo menos 2019, quando Sasha, a filha mais jovem, vai terminar o ensino médio. Segundo conversas de Obama com amigos relatada pela imprensa americana, uma de suas vontades é voltar a participar de organizações sociais, atividade que o lançou na política, mas com alcance global. Em seu último discurso oficial, Obama ressaltou a importância do envolvimento político e do exercício da cidadania, especialmente entre os jovens.

No âmbito doméstico, também há esperanças de que Obama ajude a reconstruir o Partido Democrata depois da derrota surpreendente nas eleições de novembro passado. Obama deixou o cargo com um índice de aprovação pessoal de 60%, um dos mais altos já registrados, e reconheceu parte de sua responsabilidade pela derrota do partido em Estados rurais ou industriais que acabaram por garantir a eleição de Trump. Segundo Obama, os democratas naturalmente atraem questões de importância nacional ou internacional, o que teria deixado um flanco aberto para que os republicanos, e especialmente Trump, dominassem questões mais locais.

O núcleo de apoio do bilionário foram justamente os eleitores que se sentem abandonados pela globalização. “Estou interessado em desenvolver uma nova geração de talentos. É algo que acho que posso fazer bem, porque conheço as pessoas prontas para liderar. Quando elas começarem a ocupar mais e mais posições de autoridade, acho que as questões importantes para mim estarão bem servidas”, afirmou o ex-presidente à rede pública de rádio NPR.

Obama também vai querer proteger seu legado. Uma das maiores conquistas de sua presidência, o sistema de cobertura de saúde conhecido como Obamacare, deve ser derrubado por Trump, e não se sabe que garantias os mais de 20 milhões de beneficiários do programa terão no futuro. Parte da solidificação do legado inclui fundar uma biblioteca, e para isso o ex-presidente deve fazer uma ronda entre os doadores tradicionais do seu partido para arrecadar dinheiro.

A biblioteca de Obama deve ficar na parte sul de Chicago, a região mais pobre da cidade, e sua organização está a cargo da Fundação Obama, liderada por um de seus assessores mais próximos, David Simas. Embora uma meta de arrecadação ainda não tenha sido divulgada, Obama pode dedicar seus primeiros dias de volta ao trabalho a bater o recorde estabelecido por seu antecessor: as doações para a construção da Biblioteca Presidencial George W. Bush ultrapassaram 500 milhões de dólares.

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