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O desafio de atender a imigrantes traumatizados

Organização italiana detectou em estudo que a cada 100 pessoas que solicitam asilo na Sicília, mais da metade assistiram a morte de um companheiro de viagem


	Refugiados chegam pelo Mediterrânio: pesquisa do Conselho Italiano para os Refugiados (CIR), mostra que 82% deles apresentavam problemas psicológicos, mais da metade uma depressão grave
 (Juan Medina / Reuters)

Refugiados chegam pelo Mediterrânio: pesquisa do Conselho Italiano para os Refugiados (CIR), mostra que 82% deles apresentavam problemas psicológicos, mais da metade uma depressão grave (Juan Medina / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 3 de setembro de 2015 às 14h45.

Corpo que flutuam, crianças que se afogam, humilhações, agressões, torturas e atropelamentos são algumas das experiências dos imigrantes que chegam diariamente à Itália, traumas que provocam depressão, insônia e tendências suicidas difíceis de se curar, afirmam médicos e especialistas.

A organização italiana Médicos pelos Direitos Humanos detectou em um estudo recente que a cada 100 pessoas que solicitam asilo na Sicília (sul do país), mais da metade assistiram a morte de um companheiro de viagem, em muitos casos um parente próximo.

Uma pesquisa do Conselho Italiano para os Refugiados (CIR), baseado em dados de 2013, mostra que 82% deles apresentavam problemas psicológicos, mais da metade uma depressão grave.

Os dados se refletem claramente nos casos que os voluntários e especialistas devem encarar todos os dias.

Um dos casos mais emblemáticos aconteceu há seis meses, quando um homem se jogou pela janela durante a entrevista com a comissão que examina os pedidos de asilo. O demandante sofreu várias fraturas.

Perseguido em seu país, ele havia perdido a esposa e a filha em um dos muitos naufrágios no Mediterrâneo, um drama que não havia conseguido comentar com ninguém até então.

Segundo as estimativas, entre 10 e 30% das pessoas que solicitam asilo sofreram torturas em seu próprio país.

Também é necessário somar a dor do exílio e os pesadelos durante o longo percurso para chegar à Europa ou as dificuldades para atravessar o deserto, as humilhações na Líbia, a angústia no mar e a espera desesperadora, sem nada para fazer, nos centros de abrigo na Itália.

Saúde mental, uma urgência

Ter acesso à ajuda psicológica deveria ser fácil, já que, teoricamente, os refugiados podem comparecer aos mesmos centros de saúde pública dos italianos, mas nem sempre é possível anteder os estrangeiros.

"Precisamos trabalhar em equipe porque são casos muito pesados", admitiu à AFP Maria Chiara Monti, psicóloga de Palermo.

Ela recebe duas vezes por semana os solicitantes de asilo ao lado de uma antropóloga e um mediador que fala o idioma do paciente.

"Algumas histórias deixam feridas profundas", revela Monti.

Entre seus pacientes está um jovem africano, de 26 anos, que permaneceu durante vários dias na água, agarrado a um pedaço de madeira após um naufrágio. Muitas vezes, durante a noite, ele tem a sensação de afogamento.

A psicóloga também atende um migrante de Gâmbia, de 30 anos, com problemas de memória e que recorda apenas as torturas sofridas em seu país: cada sessão é complexa porque ele não absorve o que é falado durante os encontros e é como se o tratamento voltasse ao início.

A Itália, que tem um serviço de saúde público muito variado, de acordo com a região, oferece uma ajuda psicológica "muito desigual", segundo Gennaro Migliore, presidente da comissão parlamentar para a recepção dos migrantes.

"Há casos em que o serviço é muito eficaz, como nos centros para menores de idade não acompanhados", explica o deputado.

Em muitos centros de saúde, o psicólogo está ocupado, não está presente ou trabalha apenas alguns dias na semana. Em geral é jovem, recém-formado e com pouca experiência.

"Faltam os instrumentos para encarar traumas tão graves", opina Fiorella Rathaus, presidente do CIR.

Os especialistas concordam que em muitos casos o trauma é superado quando os migrantes começam a viver com dignidade, têm algum entretenimento ou observam um futuro melhor, explica Massimo Germani, psiquiatra que coordena um centro para vítimas de torturas em Roma.

"São pessoas que sofreram de forma repetida abusos e que permaneceram por muito tempo em ambientes isolados", disse.

"Se vivem sempre em grupo, com os demais, não conseguem concentrar-se, nem aprender italiano, seu estado piora, são instáveis", afirma o especialista.

"Se tornam fantasmas", resume o médico, que reconhece a existência de vontade tanto a nível público como privado, mas que faltam recursos devido à crise econômica.

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