Nova explosão no Líbano: dessa vez, culpado é grupo xiita
Dois meses após a tragédia no porto de Beirute, que deixou quase 200 mortos e 6.500 feridos, libaneses levam novo susto com acidente perto da capital
Carla Aranha
Publicado em 22 de setembro de 2020 às 18h35.
Um depósito de armamentos do grupo xiita Hezbollah explodiu nesta terça, dia 22, a 50 quilômetros de Beirute, no Líbano . Por enquanto, não há relatos de mortos ou feridos. O Hezbollah assumiu a culpa pelo acidente. Moradores relataram que os efeitos da explosão foram sentidos a quilômetros de distância.
Representantes do Hezbollah disseram que o acidente foi resultado de um " erro técnico ", sem detalhar a causa do problema. De acordo com a Al Jazeera, mídia do mundo árabe, jornalistas foram impedidos de acessar o local por membros do Hezbollah. A organização xiita possui um braço político com forte atuação no Congresso e no governo do Líbano.
A explosão aconteceu dois meses depois da tragédia no porto do Beirute, no dia 4 de agosto. A detonação incidental de 2.700 mil toneladas de nitrato de amônia, um material utilizado para a fabricação de bombas, causou a morte de 200 pessoas -- outros 6.500 cidadãos ficaram feridos.
O Líbano, país que já foi a joia doOriente Médio, passa por uma crise sem precendentes.
Com uma dívida que chega a 170% do PIB, o governo não tem recursos nem para pagar as suas próprias contas de energia, telefone e internet. Também acabou o dinheiro para importar o combustível que gera a eletricidade. Resultado: boa parte das cidades está vivendo às escuras. O fornecimento de energia elétrica tem durado apenas quatro horas por dia.
“O Líbano simplesmente faliu, depois de anos de uma política econômica que não fazia sentido e partidos políticos corruptos”, diz a pedagoga Layla Salash, de 40 anos, que está desempregada. Layla fez um estoque de velas para não ficar no escuro durante a noite.
Em agosto, a revolta da população diante da explosão no porto de Beirute levou à renúncia do primeiro-ministro Hassan Diab e de todo o seu gabinete. Até agora, no entanto, não foi formado um novo governo.
Sem energia elétrica e serviços básicos, parte da população tem optado por imigrar para a Europa e outros continentes. O governo não tem conseguido pagar em dia os salários dos funcionários públicos, inclusive das equipes médicas que trabalham nos hospitais públicos.
O coronavírus, que estava controlado, voltou a fazer novas vítimas. No último domingo, dia 20, foram registrados mais de 1.000 novos casos, um recorde. O aumento do poder do crime organizado e de interesses sectários, nas últimas décadas, é considerado um dos principais motivos dos problemas enfrentnados hoje pelo país.