Israel: neste ano, o Estado de Israel comemora 70 anos (Ammar Awad/Reuters)
EFE
Publicado em 14 de maio de 2018 às 10h12.
Jerusalém - Ivan chegou a Israel nos anos 50, após a "revolução", como chama a criação do Estado em 1948 e que para muitos palestinos, como o pai de Raje-a Busailah, foi a materialização do temor de que os milhares de imigrantes judeus chegados naqueles anos "vinham para ficar" com o país.
Original da Hungria, Ivan viajou com a família em Jerusalém "porque não lhes restava nada depois da Segunda Guerra Mundial", explicou à Efe junto com Judy, sua esposa, nascida no Reino Unido e emigrada após a Guerra dos Seis Dias de 1967 quando se ocupou Jerusalém Oriental, Cisjordânia e Faixa de Gaza.
"Os meus pais eram sionistas, um londrino e uma austríaca que sobreviveu ao Holocausto. Sempre falavam de vir. Antes da Guerra pensavam em outros lugares, mas depois, decidiram que o único lugar onde queriam estar era Jerusalém", destacou Judy.
Ela continua na mesma cidade, na qual há 30 anos gerencia uma loja de quadros, muito perto da Cidade Velha, e lembra a emoção de "ir viver em um país onde a grande maioria do povo também era judeu", uma experiência que começou em um centro de absorção onde se instalaram junto com novos imigrantes que chegavam maciçamente de Rússia, Estados Unidos, Austrália e Canadá.
"Ainda há fronteiras em Jerusalém", opinou Judy sobre as barreiras invisíveis entre o leste palestino e o oeste israelense. Antes disse que passeava "com liberdade" e agora evita algumas áreas, como a cidade murada, onde vive uma maioria árabe, uma parte que no entanto Ivan frequenta: "Porque vou onde me dá vontade", alfinetou, isso sim, tirando da sua cabeça o quipá (solidéu judaico).
Tsurit tem dois anos a menos que o país onde nasceu. Criou-se em um kibutz (coletivo agrícola) e depois foi viver em Kiryat Gat (sul), onde constantemente chegava gente "de Marrocos, outros países do norte da África, Polônia... Viviam em tendas, em casas feitas de tecidos, e muitos mal conseguiam encontrar trabalho", relembrou.
"Era muito importante para Israel que viessem e vivessem aqui e, para eles, o novo país lhes dava um lugar para onde ir. Embora estivessem assustados, não tinham outra opção", disse Tsurit à Efe.
Ele acredita que o que aconteceu aqui nos últimos 70 anos "é algo parecido a um milagre" e agradece as "boas decisões" que permitiram um crescimento dos 600 mil habitantes que havia nos anos 40 para os mais de oito milhões que há agora, uma melhor economia, o desenvolvimento urbano, industrial e tecnológico.
"Mas nem tudo foi bom", avaliou. "Quero ser otimista sobre Israel. Nossa vizinhança não é a mais fácil. Temos que fazer algo muito sincero para encontrar uma solução e resolver o conflito", desejou Tsurit.
Busailah, refugiado da cidade palestina de Lyda que com o estabelecimento de Israel se transformou em Lod e autor de um livro no qual narra sua infância, lembra aos seus 88 anos a deriva de uma região que se transformou enormemente.
"O nosso país está em perigo. Estes judeus vêm para ficar com o nosso país", repetia em referência à Palestina o seu pai, perante a incredulidade da sua família, que acreditava que ele "exagerava".
"Mas os recém-chegados não eram tão frágeis ou simples como pensava (...) Começou um sentimento de receio que se tornava mais e mais forte até a realidade do que aconteceu em 1948", narrou este idoso, que descreve o posterior exílio e usurpação de cerca de 700 mil palestinos forçados a deixar seus lares no que passou a se chamar na sua história de "Nakba" (Catástrofe).
"Foi espantoso. E continua sendo. O que fizeram foi imperdoável e inesquecível. Mas compreensível, infelizmente. A maneira com que a Europa tratou os judeus foi feia. Desde o começo da cristandade houve centenas e centenas de anos de antissemitismo que culminaram no Holocausto. Sofreram muito injustamente (...) Foram perseguidos e depois vieram ao nosso país e nos perseguiram", opinou.
Entre as vielas de pedra da Cidade Velha, sede de alguns dos lugares santos mais importantes para o cristianismo, o judaísmo e o islã, o jornalista Abu Youssef conta que antes de 1948 "judeus e árabes, ou palestinos, viviam juntos sob o Mandato Britânico. Como em qualquer outro país do mundo. Mas quando a política interfere, tudo se estraga".
"Os nacionalistas queriam represálias contra Israel, libertar suas casas, terras e cidades, mas com a Guerra de 1967, a ocupação militar se instalou e todo mundo continua hoje com muitos problemas, embora não perca a esperança de que tudo tenha um final", comentou Youssef.
"Acredito que o Estado palestino esteja mais perto. Não pela luta palestina ou pela liderança, nada disso. Pela comunidade internacional: Europa, EUA etc. Querem ter um Estado palestino, acabar com este conflito. É a única ocupação que se mantém. É um dever que tenhamos um Estado", concluiu, 70 anos depois que em 14 de maio nasceu o Estado de Israel.