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Jihadistas atacam cidade próxima a Bagdá

Enviado da ONU a Bagdá declarou que ofensiva dos jihadistas no Iraque, que começou em 9 de junho, é "ameaça de morte" para o país e coloca em risco soberania

Xiitas levantam armas: 11 morreram em Sadr City, bairro com maioria xiita (AFP)
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Da Redação

Publicado em 17 de junho de 2014 às 21h15.

Os jihadistas atacaram nesta terça-feira a cidade iraquiana de Baquba, a 60 km de Bagdá, e tomaram grande parte de outra cidade do norte, em uma ofensiva que, segundo a ONU , ameaça o Iraque e todo o Oriente Médio.

Em uma entrevista, o enviado da ONU a Bagdá, Nickolay Mladenov, declarou que a ofensiva dos jihadistas no Iraque, que começou em 9 de junho, é uma "ameaça de morte" para o país e coloca em risco a sua soberania.

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As forças rebeldes lideradas pelos jihadistas sunitas do Estado Islâmico no Iraque e no Levante (EIIL) tomaram na semana passada a cidade de Mossul, a segunda maior do Iraque, e nesta terça controlavam outra cidade da província de Nínive, assim como partes das províncias de Saladino, Diyala (leste) e Kirkuk (norte).

O Exército iraquiano, que nos primeiros dias se mostrou incapaz de deter o avanço dos rebeldes, indicou no domingo que havia retomado o controle de duas cidades ao norte de Bagdá.

Mas na madrugada desta terça-feira, os insurgentes lançaram um "ataque com armas automáticas" em Baquba, que logo foi contido pelas forças iraquianas, indicou à AFP o general Abdelamir Mohamed Red.

De acordo com fontes médicas e de segurança, pelo menos 44 prisioneiros morreram em um ataque dos insurgentes a uma delegacia.

A polícia iraquiana também encontrou os corpos de 18 membros das forças iraquianas perto de Samarra, uma cidade 125 km ao norte de Bagdá.

As vítimas foram mortas com tiros na cabeça e no peito, mas ainda não está claro se foram executadas ou morreram em combate.

Em Bagdá, onze pessoas morreram nesta terça na explosão de um carro-bomba em um mercado de Sadr City, bairro majoritariamente xiita no norte de Bagdá.

Ainda na capital, um cinegrafista iraquiano foi morto e um correspondente do mesmo canal de TV ficou ferido enquanto cobriam a ofensiva dos jihadistas nessa região.

Khaled Ali foi morto perto de Baquba, capital da província de Diyala, segundo a Al-Ahad TV em seu site, que indicou que o seu colega, Moatez Jamil, tinha sido ferido.

Dezenas de mortos

Mais ao norte, os jihadistas assumiram o controle da maior parte de Tal Afar, uma cidade estratégica xiita, segundo uma fonte governamental.

Pelo menos 50 civis morreram nos confrontos, assim como dezenas de jihadistas e integrantes das forças de segurança, segundo Qabalan.

A cidade fica 380 km a noroeste de Bagdá, na estrada que segue até a fronteira com a Síria. A área é considerada de importância estratégica para o EILL, que já controla várias zonas do lado sírio, onde este grupo combate o governo e grupos rebeldes, incluindo a Frente Al-Nosra, o braço sírio da Al-Qaeda.

As forças governamentais ainda controlam vários setores do reduto xiita da província majoritariamente sunita de Nínive, segundo Nuredin Qabalan, número dois do conselho provincial.

A Frente Al-Nosra e outro grupo rebelde tomaram nesta terça o controle de Al-Qaem, um posto na fronteira entre o Iraque e a Síria, segundo Exército iraquiano.

Na província de Kirkuk, os jihadistas tomaram Multaqa, mas foram expulsos pelas forças de segurança de Bachir.

Enquanto isso, vários grupos de voluntários xiitas iraquianos, que até agora estavam lutando na Síria ao lado do regime de Bashar Al-Assad, voltaram ao Iraque para conter a ofensiva dos jihadistas em seu país.

O primeiro-ministro iraquiano, Nuri al Maliki, destituiu nesta terça-feira vários comandantes das Forças Armadas por sua incapacidade diante do avanço dos jihadistas.

Entre os destituídos estão o general Mahdi al Gharawi, comandante da província de Nínive, a primeira a cair nas mãos do EIIL.

Maliki também ordenou a formação de cortes marciais para investigar oficiais que teriam "abandonado suas posições".

O premier iraquiano, um xiita, acusou a Arábia Saudita de apoiar financeiramente os grupos insurgentes no Iraque e de estar ao lado do "terrorismo".

"Nós consideramos (a Arábia Saudita) responsável pela ajuda financeira e moral que os grupos (insurgentes) recebem", indicou em um comunicado o gabinete do premiê.

Preocupação com o petróleo

Enquanto os Estados Unidos, a Austrália e a ONU começaram a retirar parte de seus funcionários diplomáticos de Bagdá, a Turquia esvaziou nesta terça-feira seu consulado de Basra, no sul do Iraque, uma semana após o ataque contra o de Mossul (norte) cometido por combatentes jihadistas, que tomaram 80 cidadãos turcos como reféns, entre eles diplomatas, soldados e três crianças.

A ofensiva jihadista preocupa a comunidade internacional, a começar pelos Estados Unidos, que em 2011 retiraram suas últimas tropas no Iraque após oito anos de presença contínua.

O secretário de Estado americano, John Kerry, anunciou que Barack Obama considera "todas as opções à sua disposição" para conter a ofensiva, incluindo ataques aéreos com drones (avões não tripulados) ou mesmo aviões de combate.

Obama também anunciou a implantação de 275 militares "equipados para o combate" para proteger a embaixada americana em Bagdá.

Na segunda-feira, representantes dos Estados Unidos e do Irã, que não mantêm relações diplomáticas há 34 anos, tiveram uma "breve discussão" sobre o Iraque em Viena, onde realizam negociações sobre o programa nuclear iraniano, segundo um porta-voz americano.

No entanto, os Estados Unidos descartam no momento qualquer cooperação militar com o Irã.

Neste contexto, cerca de cinco mil iranianos se apresentaram como voluntários para defender os lugares sagrados xiitas no Iraque diante da ofensiva dos jihadistas sunitas, informou nesta terça-feira um site iraniano.

O Iraque conta com vários lugares sagrados para os xiitas em Najaf e Kerbala, ao sul de Bagdá, e em Samarra, ao norte da capital.

O Irã, majoritariamente xiita, apoia o governo do primeiro-ministro iraquiano.

A crise no Iraque também tem provocado preocupação nos mercados de petróleo. Existem grandes riscos para a produção petroleira no Iraque, de acordo com a Agência Internacional de Energia.

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