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Israel suspende GPS em parte do país por ameaça de ataque do Irã

Militares temem resposta de Teerã após bombardeio de consulado do país em Damasco; risco maior é de ação nesta sexta-feira, quando iranianos marcam o 'Dia de Jerusalém'

Veículos militares israelenses trafegam por área próxima à divisa com a Faixa de Gaza  (Jack Guez/AFP)

Veículos militares israelenses trafegam por área próxima à divisa com a Faixa de Gaza (Jack Guez/AFP)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 4 de abril de 2024 às 18h19.

Última atualização em 4 de abril de 2024 às 18h39.

Autoridades de Israel suspenderam parcialmente os serviços de GPS e cancelaram todas as folgas de militares em unidades de combate diante da ameaça de retaliação vinda do Irã e seus aliados após o ataque contra o complexo diplomático do país em Damasco, na segunda-feira.

Apesar de apoiar o grupo terrorista Hamas na guerra em Gaza, e de ter vários de seus oficiais mortos em ações atribuídas a Israel nos últimos meses, Teerã tem evitado uma ofensiva direta contra os israelenses, diante do risco de uma guerra regional de grande escala.

Ainda na quarta-feira, o Exército israelense incrementou suas defesas aéreas ao redor do país e convocou reservistas para atuarem na operação desses sistemas. Nesta quinta, ainda diante de um cenário de alerta, folgas dos militares em unidades de combate foram suspensas.

"Disse, mais de uma vez, que não está claro se o pior para nós ficou para trás, e nós teremos dias complexos pela frente", disse a oficiais, o chefe da Diretoria de Inteligência do Exército israelense, Aharon Haliva, citado pelo Times of Israel.

Moradores da região Central de Israel também reportaram problemas de conectividade com sistemas de navegação, como o GPS, o que afetou o trânsito em cidades como Tel Aviv e o funcionamento de aplicativos de transportes. Esse tipo de bloqueio temporário, confirmado pelos militares israelenses, vinha sendo aplicado no norte de Israel desde o início da guerra em Gaza, mas até agora ele não tinha sido relatado em áreas como Tel Aviv e Jerusalém. Segundo as autoridades, esse tipo de ação faz parte de uma estratégia mais ampla de defesa contra ameaças externas.

Na segunda-feira, 13 pessoas morreram em um ataque contra o prédio onde funcionava o Consulado do Irã em Damasco, na Síria, localizado dentro do complexo diplomático iraniano na cidade. Entre as vítimas estavam altos generais das Forças Quds, o braço da Guarda Revolucionária iraniana para ações no exterior, incluindo Mohammed Reza Zahedi, responsável por operações na Síria e Líbano, assim como relações com governos e milícias regionais.

Com o assassinato, que não foi reivindicado oficialmente por Israel, Zahedi entrou para uma “lista” crescente de oficiais iranianos mortos, supostamente por Israel, desde o início da guerra em Gaza. Imediatamente o discurso em Teerã passou a incluir a palavra “vingança”: horas depois do ataque, uma manifestação foi convocada na capital iraniana, e cartazes pedindo uma retaliação surgiram ao redor do país.

"A derrota do regime sionista em Gaza vai continuar, e esse regime estará mais próximo do declínio e da dissolução", afirmou o lider supremo do Irã, Ali Khamenei, em discurso na quarta-feira.

No X, o antigo Twitter, Khamenei emitiu uma mensagem em hebraico, na qual afirma que "com a ajuda de Deus, faremos com que os sionistas se arrependam do crime de agressão contra o consulado iraniano em Damasco". O presidente Ebrahim Raisi afirmou que o bombardeio “não passará impune”.

Principais rivais no Oriente Médio, Irã e Israel têm conduzido há anos um conflito indireto, mantido por meio de milícias pró-Teerã no Líbano, Iraque e Síria, que inclui ataques pontuais com foguetes e retaliações por meio de bombardeios aéreos. Mas com o início da guerra em Gaza, e ações mais contundentes de Israel, como o alegado ataque à embaixada em Damasco, o risco de um enfrentamento direto aumentou exponencialmente.

O Irã não comenta publicamente seus planos, mas cenários estabelecidos pelos israelenses incluem um ataque com mísseis vindo dos aliados do Irã no Líbano — Hezbollah —, Síria, Iraque e Iêmen, no caso, os houthis, que já lançaram mísseis e drones contra Israel nos últimos meses. Há um cenário que seria inédito, o lançamento de mísseis diretamente de território iraniano, o que traria um risco de escalada ainda maior. Os israelenses afirmam que os sistemas de defesa aérea locais são capazes de enfrentar todas as ameaças.

Segundo o site israelense Walla, integrantes do governo de Israel afirmaram à Casa Branca que pretendem responder caso sejam atacados pelos iranianos.

"Durante anos o Irã tem trabalhado contra nós, diretamente e por meio de seus emissários. Portanto, Israel está trabalhando também contra o Irã e seus emissários, defensivamente e ofensivamente", disse nesta quinta-feira, durante reunião ministerial, o premier Benjamin Netanyahu, citado pelo Walla. "Saberemos como nos proteger, e agiremos de acordo com o simples princípio de que quem nos machuca ou planeja nos machucar, nós também o machucaremos."

A mobilização em torno da sexta-feira é simbólica: esta será a última sexta do mês sagrado do Ramadã, o principal do calendário muçulmano, e quando o Irã marca o chamado “Dia de Jerusalém”, uma data celebrada desde 1979, ano da Revolução Islâmica, e que é marcada por protestos e atos em defesa dos palestinos.

Apesar das convocações e do aparente alerta entre as forças militares, o governo israelense pede calma à população.

“As diretrizes do Comando da Frente Interna permaneceram inalteradas. Não há necessidade de comprar geradores, armazenar alimentos e sacar dinheiro em caixas eletrônicos”, afirmou, no X, o antigo Twitter, o porta-voz do Exército israelense, Daniel Hagari. “Como temos feito até hoje, atualizaremos imediatamente qualquer alteração se for de forma oficial e ordenada.”

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