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Irã afirma que tem o 'dever de se defender' após os bombardeios israelenses

Diplomacia iraniana enfatizou que utilizará “todas as capacidades materiais e espirituais da nação iraniana para defender sua segurança"

Vista geral de Teerã após as explosões em 26 de outubro de 2024, depois que Israel anunciou que atacaria alvos militares específicos no Irã (AFP/AFP)

Vista geral de Teerã após as explosões em 26 de outubro de 2024, depois que Israel anunciou que atacaria alvos militares específicos no Irã (AFP/AFP)

Publicado em 26 de outubro de 2024 às 11h05.

O Irã afirmou neste sábado, 26, que tem o "dever de se defender" após os bombardeios israelenses efetuados durante a madrugada contra instalações militares, apesar da ameaça de Israel fazer Teerã pagar um "preço elevado" caso responda ao ataque.

“Como as autoridades competentes da República Islâmica do Irã destacaram muitas vezes, com base no direito inerente à autodefesa, que também se reflete no Artigo 51 da Carta das Nações Unidas, consideramos a defesa contra atos de agressão estrangeira”, disse o Ministério das Relações Exteriores em um comunicado.

A diplomacia iraniana enfatizou que utilizará “todas as capacidades materiais e espirituais da nação iraniana para defender sua segurança e seus interesses vitais”.

Ao mesmo tempo, considerou a “ação agressiva do regime sionista” como “uma clara violação do direito internacional e da Carta das Nações Unidas, especialmente do princípio da proibição da ameaça ou do uso da força contra a integridade territorial e a soberania nacional dos países".

Além disso, acusou Israel de ser a “principal causa de tensão e insegurança na região” e destacou os Estados Unidos e outros países ocidentais pelo seu “amplo apoio militar e político” ao Estado judeu.

Ele também apelou aos Países-membros da ONU para que parem “o genocídio, a guerra e a agressão contra Gaza e Líbano e parem com o belicismo do regime sionista”.

Ataques de Israel

DaO Exército israelense fez "ataques de precisão" contra instalações de produção e lançamento de mísseis no Irã, em resposta ao lançamento de mísseis iranianos contra seu território em 1º de outubro.
Os bombardeios acontecem em um contexto de extrema tensão na região. Israel trava uma guerra contra o movimento islamista palestino Hamas na Faixa de Guerra e contra o grupo islamista Hezbollah no Líbano.
Os dois grupos são apoiados pelo Irã, arqui-inimigo de Israel, e integram o chamado "eixo da resistência".
As forças de defesa aérea do Irã reconheceram ataques contra bases militares nas províncias de Teerã, Khuzeztan e Ilam, mas que provocaram "danos limitados". O Exército do país anunciou a morte de dois militares, sem revelar o local das fatalidades.
Os bombardeios receberam condenações de vários países da região e pedidos de moderação das potências ocidentais.
"O Irã considera que tem o direito e o dever de se defender contra atos de agressão estrangeiros", declarou o chefe da diplomacia do país, Abbas Araqchi.

"Assustador"

O Exército israelense afirmou que os bombardeios foram uma "resposta a meses de ataques contínuos da República Islâmica.
"O regime iraniano e seus aliados não cessaram os ataques contra Israel desde 7 de outubro de 2023", destacou, em referência ao ataque sem precedentes do Hamas em território israelense, que desencadeou a guerra em Gaza.
Na Síria, aliada do Irã, a agência de notícias oficial Sana informou que a defesa aérea do país havia interceptado "alvos hostis" nos arredores de Damasco, onde também foram ouvidas explosões.
A resposta de Israel ao ataque do Irã, que lançou quase 200 projéteis contra o território israelense no início do mês, era esperada há várias semanas.
Teerã apresentou os disparos de 1º de outubro como uma resposta aos bombardeios israelenses contra o Líbano que, no final de setembro, causaram as mortes de um general iraniano e do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah.
O Irã também justificou a operação como uma represália ao assassinato no território do país do então líder do Hamas, Ismail Haniyeh, uma ação atribuída a Israel.
O porta-voz militar israelense, Daniel Hagari, alertou neste sábado que se Teerã iniciar uma "nova rodada de escalada", o país será "obrigado a responder" e fará o Irã pagar um "preço elevado".
Na capital iraniana, Hooman, um operário do setor de construção de 42 anos que preferiu não revelar o sobrenome, disse à AFP que estava trabalhando quando ouviu as explosões.
"Foi um barulho terrível e assustador", disse. "Agora que há uma guerra no Oriente Médio, temos medo de sermos arrastados para ela, acrescentou.
"Consequências perigosas"
O governo dos Estados Unidos, principal aliado diplomático e militar de Israel, afirmou que foi informado com antecedência sobre o ataque. A Casa Branca considerou que esta foi uma ação de "autodefesa" de Israel.
O Iraque, vizinho do Irã, alertou para as "consequências perigosas do silêncio da comunidade internacional diante do comportamento brutal" de Israel.
O Paquistão, que também tem fronteira com o Irã, atribuiu "toda a responsabilidade da escalada e da extensão do conflito" a Israel, país que não reconhece.
A situação "ameaça a segurança e a estabilidade dos países e povos" do Oriente Médio, advertiu a Arábia Saudita.
A França pediu às partes que "se abstenham de qualquer escalada" e o Reino Unido considerou que o "Irã não deve responder" aos bombardeios.
O ataque israelense, que começou às 2H15 locais (19H45 de Brasília), forçou o cancelamento de todos os voos no Irã e no Iraque, mas o espaço aéreo da República Islâmica foi reaberto poucas horas depois.

70 alvos do Hezbollah

Na frente libanesa, a agência de notícias NNA afirmou que o Exército israelense "dinamitou" casas na cidade fronteiriça de Adaysseh.
As forças israelenses anunciaram que bombardearam 70 alvos do Hezbollah no Líbano, onde iniciaram uma operação terrestre em 30 de setembro, após a intensificação de seus bombardeios.
Depois de provocar o enfraquecimento do Hamas em Gaza, o Exército israelense deslocou a maior parte de suas operações para o sul do Líbano, onde o Hezbollah e as tropas de Israel estavam em uma batalha desde 8 de outubro de 2023. Na data, o movimento xiita começou a lançar foguetes contra o território israelense em apoio ao Hamas.
Mas desde 6 de outubro deste ano, as forças israelenses retomaram a ofensiva no norte de Gaza, onde afirmam que o Hamas tenta retomar suas operações.
A guerra no território palestino começou com o ataque do Hamas contra o sul de Israel em 7 de outubro de 2023, quando milicianos islamistas mataram 1.206 pessoas, a maioria civis, segundo um levantamento da AFP baseado em dados oficiais israelenses que inclui os reféns mortos em cativeiro em Gaza.
Das 251 pessoas sequestradas, 97 permanecem em cativeiro em Gaza, mas 34 foram declaradas mortos pelo Exército.
Em resposta ao ataque, Israel iniciou uma ofensiva contra o Hamas, que governa Gaza desde 2007, e matou pelo menos 42.924 palestinos - a maioria civis -, segundo dados do Ministério da Saúde do governo do Hamas, considerados confiáveis pela ONU.
Com AFP e EFE.
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