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"Inimigo estrangeiro" protagoniza campanha do referendo turco

O governo turco multiplicou as aparições de seus membros na televisão e em atos públicos

Erdogan: "Vivemos em uma época na qual a Turquia se vê submetida a enormes ataques de dentro e fora do país." (Umit Bektas/Reuters)

Erdogan: "Vivemos em uma época na qual a Turquia se vê submetida a enormes ataques de dentro e fora do país." (Umit Bektas/Reuters)

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EFE

Publicado em 14 de abril de 2017 às 15h40.

Istambul -- No penúltimo dia da campanha do referendo constitucional que acontece neste domingo, a luta da Turquia contra seus "inimigos estrangeiros" voltou a ganhar relevância nos discursos do presidente Recep Tayyip Erdogan.

"Vivemos em uma época na qual a Turquia se vê submetida a enormes ataques de dentro e fora do país. As organizações terroristas que tentam nos destroçar acreditam que esta nação vai ter medo, vai se assustar, vai se render", disse Erdogan.

"A Alemanha faz isso, a França faz, a Bélgica faz, a Suécia faz, a Áustria faz", acrescentou o governante durante um ato público na cidade de Konya, em Anatolia Central, informou a agência semipública "Anadolu".

"Mas façam o que fizerem, não são mais fortes que esta nação. Neste domingo vamos responder ao Ocidente. Seus votos do 'sim' serão uma resposta ao Ocidente", acrescentou Erdogan.

O governo turco, em um esforço para conquistar votos a favor da reforma que prevê entregar todo o poder executivo ao presidente, multiplicou as aparições de seus membros na televisão e em atos públicos, onde insistem na necessidade de "defender a nação" por meio do voto a favor.

Pelas ruas circulam furgonetas com alto-falantes a todo volume para divulgar canções nas que se repete como um "mantra" o nome de Recep Tayyip Erdogan, em uma estranha contradição com o discurso do presidente, que afirma que se trata de uma reforma do sistema, não de um mandato para maior glória pessoal.

O interesse dos cidadãos varia segundo o bairro: se nas áreas conservadoras os postos do 'sim' têm muito público, nos distritos com uma população de orientação liberal estão praticamente abandonados e ninguém se aproxima.

Na rua Istiklal, a principal avenida comercial de Istambul, o governante Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP), que impulsiona a reforma, alugou uma passagem decorada com bandeiras e fotografias do premiê, Binali Yildirim, que se encontra na contraditória tarefa de fazer campanha para perder o trabalho, já que a reforma prevê a abolição de seu cargo em favor do presidente.

Enormes letras vermelhas compõem a palavra EVET (Sim) e a música soa de grandes alto-falantes, mas, além de dois senhores de terno, só um jovem refugiado sírio anima o local.

Cem metros mais abaixo se encontra um pequeno posto do HAYIR (Não), decorado com um sol de cores e a foto de uma menina com tranças que pede: "Por meu futuro, NÃO", uma imagem que nas últimas semanas também tem se tornado habitual em anúncios de jornais, televisão e cartazes.

Dois homens mais velhos trabalham no posto e uma sorridente mulher dança ao som de uma alegre música enquanto agita uma bandeira do 'não' e distribui folhetos.

Na televisão é principalmente Kemal Kiliçdaroglu, o líder do Partido Republicano do Povo (CHP), laico e social-democrata, que defende a opção do 'não', mas nos bairros também os voluntários do esquerdista e pró-curdo Partido Democrático dos Povos (HDP) realizam campanha contra a reforma.

No entanto, com uma dezena de deputados em prisão preventiva, entre eles os dois líderes do partido, Selahattin Demirtas e Figen Yüksekdag, bem como outros milhares de cargos locais e ativistas detidos nos últimos meses, a capacidade de campanha do HDP se viu minguada.

Na visão da oposição, o campo do jogo não está equilibrado, entre outros motivos porque todas as televisões transmitem ao vivo os discursos do presidente a favor do 'sim', apesar de, pela Constituição em vigor, seu cargo lhe obrigar a ter neutralidade.

Porém, as últimas pesquisas mantêm uma enorme incerteza a respeito do possível resultado do referendo, embora a maioria se incline por um triunfo do 'sim' com 51% ou 52% dos votos, mas advertindo que a margem de erro é superior à vantagem obtida.

Outras sondagens dão uma vitória ajustada ao 'não', ressaltando que, devido à pressão governamental, é difícil que os eleitores confessem sua verdadeira intenção aos institutos de pesquisa.

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