Mundo

Ex-policial Eric Adams é eleito 2º prefeito negro da história de Nova York

Candidato pelo Partido Democrata, Eric Adams, de 61 anos, foi eleito na noite desta terça-feira, 2, como novo prefeito de Nova York, segundo projeção da Associated Press

Eric Adams, novo prefeito eleito de Nova York: mensagem de combate simultâneo ao crime e à violência policial atraiu eleitores mais moderados (Andrew Lichtenstein/Corbis/Getty Images)

Eric Adams, novo prefeito eleito de Nova York: mensagem de combate simultâneo ao crime e à violência policial atraiu eleitores mais moderados (Andrew Lichtenstein/Corbis/Getty Images)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 2 de novembro de 2021 às 22h59.

Última atualização em 3 de novembro de 2021 às 00h04.

O democrata Eric Adams entrou para a história nesta terça-feira, 2, ao se tornar o novo prefeito da cidade de Nova York, nos Estados Unidos. Adams, que é ex-policial e atual subprefeito do Brooklyn, se torna o segundo prefeito negro eleito entre mais de 100 políticos que já comandaram a cidade.

A vitória de Adams foi projetada pela agência de notícias Associated Press por volta das 22 horas (horário de Brasília), cerca de 10 minutos após o fechamento das urnas. Os resultados oficiais ainda não foram divulgados, como é de praxe nas eleições americanas.

O eleito toma posse no próximo dia 1º de janeiro, substituindo o atual prefeito Bill de Blasio, do Partido Democrata e que está em seu segundo mandato, governando desde 2014.

“Para cada garotinho ou garotinha a quem foi dito que eles nunca seriam nada, para cada criança com deficiência, cada presidiário sentado em Rikers, cada lavador de pratos, cada criança em um abrigo para sem-teto, isto é para todos vocês", disse Adams após votar nesta terça-feira, no Brooklyn. 

Adams era o favorito na disputa. Sua vitória contra o republicano Curtis Sliwa já era dada como quase certa diante de seus acenos ao eleitorado de centro e o domínio do Partido Democrata na cidade nos últimos anos.

Os últimos prefeito republicanos de Nova York foram Michael Bloomberg (2002-2013, mas que também se desfiliou do partido no meio do mandato) e Rudy Giuliani (1994-2001). Antes disso, o último prefeito republicano havia sido John Lindsay, eleito em 1966.

Quem é o novo prefeito

Aos 61 anos, Eric Adams nasceu em Nova York, crescendo em áreas periféricas do Brooklyn e do Queens. Ele teve uma infância difícil, chegou a ingressar em uma gangue local e tirava notas ruins na escola, sendo mais tarde diagnosticado com dislexia.

Aos 15 anos, foi preso ao lado de seu irmão por roubo e apanhou da polícia até que um policial negro interviu, o que, segundo Adams diria mais tarde, foi um episódio marcante para que ele decidisse se juntar à corporação e buscar reformas.

Já adulto, Adams ingressou em um dos braços da NYPD, a tradicional polícia de Nova York, nos anos 1980, e trabalhou na corporação por 22 anos.

Na carreira política, seu primeiro cargo eletivo foi como senador estadual de Nova York, de 2007 a 2013 (os estados nos EUA possuem tanto uma Assembleia Legislativa, com deputados, quanto um Senado estadual).

Nos últimos anos, antes de se candidatar a prefeito, ocupava o cargo de subprefeito do Brooklyn desde 2014.

Eric Adams, eleito novo prefeito de Nova York (Noam Galai/Getty Images)

Apesar do histórico de líder na busca por reformas na polícia, Adams foi eleito com um aceno ao centro, em detrimento de alas mais à esquerda do Partido Democrata.

Sua mensagem é a de que poderá encontrar o equilíbrio ideal entre melhorar o sistema policial de modo a combater a violência racial por parte da polícia mas, ao mesmo tempo, combater a criminalidade.

Adams frequentemente aponta como ele próprio já foi vítima de violência policial, mas defende que o papel da polícia é crucial para garantir a segurança, uma preocupação crescente dos nova-iorquinos.

O tema da violência policial e racial se tornou central após os protestos pela morte de George Floyd no ano passado. Algumas alas democratas chegaram a levantar o mote de "desfinanciar a polícia", mas a vitória de Adams é vista como mostra de que parte do eleitorado, mesmo entre os progressistas, ainda acredita que é possível reformar o aparato policial de forma mais moderada.

Adams durante a campanha: o ex-policial será o segundo prefeito negro da história, após David Norman Dinkins, nos anos 1990 (Michael M. Santiago/Getty Images)

Ao mesmo tempo, a preocupação com a violência em Nova York tem crescido após alguns episódios de crimes. Nesse cenário, Adams também contou com o voto de eleitores mais velhos em várias regiões da cidade.

A cidade de Nova York, que fica no estado de mesmo nome, é uma das mais importantes dos Estados Unidos, com mais de 8 milhões de habitantes, cinco grandes áreas (Manhattan, Brooklyn, Queens, Bronx e Staten Island) e o maior orçamento municipal do país, acima de 100 bilhões de dólares.

Ao tomar posse em janeiro, Adams será o 110º prefeito de Nova York.

Antes dele, o primeiro prefeito negro eleito foi David Norman Dinkins, também pelo Partido Democrata, em 1989, tendo governado até 1993. Na reeleição, o ex-prefeito perdeu para o republicano Rudy Giuliani. Dinkins, que era uma liderança no tradicional bairro negro e latino do Harlem, em Manhattan, morreu no ano passado, aos 93 anos.

Os desafios de Nova York

Além da segurança pública, o prefeito eleito terá o desafio de liderar a retomada econômica, social e cultural de Nova York após a crise da covid-19, que levou a um êxodo de moradores, sobretudo no começo da pandemia.

Muitos ainda não voltaram ao trabalho presencial, e há uma preocupação sobre se a cidade conseguirá voltar a atrair turistas e retomar seu antigo esplendor pré-covid. Os EUA reabrirão as fronteiras para uma série de países (incluindo o Brasil) a partir de 8 de novembro, e voltaram a emitir vistos. A retomada das viagens deve ser uma boa notícia para o setor turístico da cidade.

Na campanha, Adams também se disse favorável ao passaporte da vacinação implementado pelo atual prefeito De Blasio (e que chegou a criar desavenças entre o prefeito e o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, durante viagem à Assembleia Geral da ONU).

Há ainda debates sobre a mobilidade urbana e acidentes relacionados a ciclistas - Adams prometeu construir centenas de quilômetros de ciclovias para melhorar a segurança -, segregação nas escolas devido ao modelo de seleção nova-iorquino, além de preço crescente das moradias, o que agrava a crise habitacional e a desigualdade na cidade, que é uma das mais caras do mundo.

Acompanhe as principais análises sobre o Brasil e o mundo: assine a EXAME por menos de R$ 0,37/dia.

Acompanhe tudo sobre:EleiçõesEstados Unidos (EUA)Nova York

Mais de Mundo

França utiliza todos os recursos para bloquear acordo UE-Mercosul, diz ministro

Por que a economia da Índia se mantém firme em meio a riscos globais?

Banco Central da Argentina coloca cédula de 20 mil pesos em circulação

Brasil é vice-lider em competitividade digital na América Latina, mas está entre os 11 piores