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Blinken admite "surpresa" com ritmo de avanço do Talibã

A ofensiva do Talibã precisou de somente alguns dias para retomar o controle do Afeganistão. Antony Blinken, secretário de Estado americano, rechaçou comparações com a derrota no Vietnã

Antony Blinken, secretário de Estado americano: pressionado por rapidez com que o Talibã retomou o controle (TOM BRENNER / POOL/AFP)

Antony Blinken, secretário de Estado americano: pressionado por rapidez com que o Talibã retomou o controle (TOM BRENNER / POOL/AFP)

Drc

Da redação, com agências

Publicado em 15 de agosto de 2021 às 16h12.

No dia em que o Talibã chegou à capital do Afeganistão, Cabul, e oficializou seu controle do país, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Anthony Blinken, admitiu que o avanço do grupo fundamentalista aconteceu de forma "mais rápida que o esperado".

Neste domingo, 15, Blinken também rejeitou comparações com o final da Guerra do Vietnã.

"Isso não é Saigon", afirmou durante entrevista à CNN, em referência ao antigo nome da capital vietnamita, palco de uma semelhante retirada às pressas de tropas americanas em 1975.

Blinken defendeu a decisão do presidente dos EUA, Joe Biden, de encerrar a presença do país no Afeganistão. Segundo ele, quando iniciou a campanha militar, há 20 anos, os objetivo de Washington era garantir justiça pelos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.

"E fomos bem-sucedido nessa missão", disse, referindo-se à morte do antigo chefe da Al-Qaeda Osama Bin Laden.

O secretário afirmou também que manter as tropas no país do Oriente Médio por mais cinco anos seria contrário aos interesses nacionais americanos. Para ele, o Afeganistão não se tornará um "viveiro" de terroristas, sob o domínio do Talibã.

"Temos tremendamente mais capacidade do que antes do 11 de setembro no que diz respeito ao contraterrorismo", disse.

Em uma outra entrevista neste domingo, ao programa Meet the Press, da NBC, Blinken relatou que os EUA "foram claros" com o Talibã de que qualquer eventual ataque a americanos encontrará uma "resposta decisiva".

Já à ABC, o chefe da diplomacia americana deixo em aberto a possibilidade de a comunidade internacional reconhecer um governo liderado pelo Talibã.

"Eles têm que tomar essa decisão, mas é do seu próprio interesse se eles realmente buscam aceitação, reconhecimento internacional; se querem apoio, se querem o levantamento das sanções - tudo isso exigirá que defendam os direitos básicos, os direitos fundamentais", pontuou.

Anúncio do Talibã

Um integrante do Talibã disse no início da tarde deste domingo (pelo horário de Brasília) que o grupo deve declarar, em breve, do palácio presidencial na capital Cabul, a retomada do Emirado Islâmico do Afeganistão.

Esse era o nome do país sob o controle do Talibã antes de o grupo ser deposto pelas forças lideradas pelos Estados Unidos em 2001.

Além disso, a Embaixada dos Estados Unidos disse que foi reportado fogo no aeroporto de Cabul. Funcionários e cidadãos dos diversos países com operações no Afeganistão estavam sendo levados para o local, em preparação para a retirada do país.

"Há relatos de que o aeroporto pegou fogo e estamos instruindo os cidadãos dos EUA a se abrigarem no local. A Embaixada dos Estados Unidos no Afeganistão suspendeu as operações consulares com efeito imediato. Não venha para a embaixada ou aeroporto neste momento", informou.

A embaixada disse ainda ter recebido relatos de tiros no aeroporto. "A situação da segurança em Cabul está mudando constantemente e as condições no aeroporto estão se deteriorando rapidamente", afirmou a Embaixada em um comunicado.

O que levou à guerra no Afeganistão

A promessa do presidente americano, Joe Biden, foi de retirar todas as suas forças do Afeganistão antes do 20º aniversário dos ataques de 11 de setembro, que aconteceram em 2001.

Com a maior parte das forças americanas já fora do país, era esperado que o Talibã avançasse, mas a ofensiva aconteceu de forma ainda mais rápida do que o previsto.

Apesar dos avanços do Talibã, Biden disse que não mudará de ideia sobre a saída americana. Mais de 70% dos americanos apoiam a retirada.

Os EUA invadiram o Afeganistão em 2001, após o 11 de setembro, acusando o país, controlado então pelo Talibã, de estar escondendo o terrorista Osaba Bin-Laden, da Al Qaeda e que se disse responsável pelo ataque às Torres Gêmeas.

Desde então, o governo afegão conseguiu retomar parte do país com o apoio das forças armadas americanas, mas o Talibã nunca deixou de ser uma ameaça e a guerra nunca foi de fato vencida, diferente do que os EUA imaginavam.

Em dado momento, antes de 2012, os EUA chegaram a ter mais de 100.000 soldados no Afeganistão, e o custo da guerra com o Talibã chegou a 100 bilhões de dólares por ano.

A estimativa do Departamento de Defesa dos EUA é que a guerra no Afeganistão tenha custado só até 2019 mais de 770 bilhões de dólares, mas projeções apontam que o custo real já supera 1 trilhão de dólares.

Sucessivos governos americanos vinham sendo pressionados a encerrar a "guerra sem fim" no Afeganistão. O governo Biden foi eleito prometendo lidar com problemas internos dos EUA e encerrar guerras no exterior, que vinham drenando recursos públicos americanos.

Na outra ponta, nomes como o chefe da CIA, William Burns, e alguns generais dos EUA, como o ex-chefe militar David Petraeus, argumentaram que essa medida poderia mergulhar o país em mais violência e deixar os Estados Unidos mais vulneráveis a ameaças terroristas.

(Com Estadão Conteúdo e agências internacionais)

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(Com Estadão Conteúdo e Associated Press)

 

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