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Eleições na Argentina: Em crise, país vai às urnas para escolher entre Sergio Massa e Javier Milei

Durante o segundo turno, Milei buscou moderar seu discurso para atrair apoiou, enquanto Massa se manteve afastado de figuras tradicionais do peronismo

Eleições na Argentina: Relação com o Brasil esteve no debate do segundo turno ( JUAN MABROMATA/AFP /Getty Images)

Eleições na Argentina: Relação com o Brasil esteve no debate do segundo turno ( JUAN MABROMATA/AFP /Getty Images)

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 19 de novembro de 2023 às 06h00.

Última atualização em 19 de novembro de 2023 às 09h35.

Os argentinos vão às urnas neste domingo, 19, para escolher entre o ultraliberal Javier Milei e peronista e atual ministro da economia Sergio Massa. O vencedor do pleito vai assumir à presidência pelos próximos quatro anos de um país em severa crise econômica. As últimas pesquisas eleitorais mostraram que o pleito será decidido por indecisos e será apertado.

Durante o segundo turno, Milei buscou amenizar o seu discurso radical para buscar apoios e ampliar o seu eleitorado. Ele conseguiu atrair Patricia Bullrich, a terceira colocada na votação do primeiro turno, e o ex-presidente Maurício Macri. A decisão da dupla, porém, rachou a coalizão de centro-direita Juntos por el Cambio, que não apoiou Milei.

No campo das propostas, o ultraliberal não apresentou novidades, e apenas reforçou a sua disposição em acabar com o sistema político tradicional, com a corrupção no país, em diminuir o tamanho do estado, dolarizar a economia e decretar o fim do Banco Central.

Do lado de Sergio Massa, o candidato da situação se manteve afastado de figuras tradicionais do peronismo, como Cristina Kirchner, e o atual presidente, Alberto Fernandez. No único debate deste segundo turno, Massa se saiu melhor que o seu adversário. A estratégia do peronista foi explorar falhas e inconsistências do rival, o que funcionou durante boa parte do debate.

No campo das propostas, Massa também não apresentou novidades. A principal estratégia de campanha do ministro da economia foi colar em Milei a imagem de alguém que colocaria a democracia Argentina em risco.

Na última quinta-feira, a candidata a vice-presidente de Milei, Victoria Villarruel, colocou o tema em evidência há quatro dias do segundo turno ao afirmar que a única forma de resolver a crise no país seria com uma tirania. A fala provocou reação de peronistas e aliados do ultraliberal, e pode ter algum peso para o resultado de domingo.

Nos últimos dias de campanha, Massa e Milei concentraram atos nas duas províncias que concentram a maior quantidade de eleitores. O peronista encerrou sua campanha em uma escola pública de Buenos Aires para tentar atrair o eleitorado jovem, enquanto o ultraliberal realizou grande evento em Córdoba.

A Argentina tem 35 milhões de pessoas aptas a votar, segundo dados do Ministério do Interior. Destes, 13 milhões (37% do total) estão na província de Buenos Aires, que circunda a capital. Em Córdoba, há 3 milhões (8,6% do total). No primeiro turno, Massa teve 42% dos votos na província de Buenos Aires, com Milei em segundo lugar, com 25% dos votos. Em Córdoba, Milei venceu Massa e Juan Schiaretti, governador da região.

Brasil no debate do segundo turno

A relação com o Brasil também foi explorado durante a campanha. Enquanto Massa reforçou que vai manter os laços com Brasil e China para, segundo ele, manter milhões de empregos argentinos, Milei afirmou em entrevistas que não pretende falar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), além de chamá-lo de comunista e acusar o brasileiro de fazer campanha contra sua candidatura. Marqueteiros brasileiros ligados à esquerda brasileira foram contratados pela campanha de Massa nesse segundo turno.

Economia em frangalhos

Independente do vencedor, um fato é certo, o próximo presidente argentino assumirá um país com severa crise econômica. A inflação chegou a 142% nos últimos 12 meses em outubro, mesmo com o recuo mensal. Projeções apontam que o déficit fiscal do país em 2023 será de mais de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) — o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) era que rombo nas contas públicas fosse de apenas 1,9% neste ano.

As projeções indicam ainda uma economia em contração. No segundo trimestre de 2023, o PIB argentino encolheu 2,8% em relação ao trimestre anterior — e caiu 4,9% na comparação anual. A FMI estima que o PIB argentino terá retração de 2,5% neste ano.

No câmbio, o governo desvalorizou o peso e elevou o câmbio oficial em 22%, com cada dólar sendo vendido por 365 pesos na cotação. A moeda paralela, batizada de dólar blue, chegou a custar mais de 1.000 pesos no começo de outubro. Com essa defasagem em relação ao câmbio oficial e o paralelo, economistas esperam que na segunda, independente do resultado, o governo reveja o valor do dólar oficial.

Para agravar a situação fiscal, Massa, candidato-ministro, lançou um plano econômico-eleitoral para vencer Milei. As ações foram do congelamento do preço dos combustíveis até a redução do imposto de renda sobre o salário para quase toda população da Argentina. Segundo estimativa da Bloomberg, a medida pode custar quase 1% do PIB argentino.

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