A história da Rainha Elizabeth II, a mais longeva monarca britânica
A rainha Elizabeth II morreu aos 96 anos. Foram 70 anos de reinado, após ter chegado ao trono em 1952
Da Redação
Publicado em 8 de setembro de 2022 às 16h20.
Última atualização em 19 de setembro de 2022 às 07h34.
A rainha Elizabeth II faleceu na tarde de quinta-feira, 8 de setembro, após deterioração em seu estado de saúde levantar alertas da equipe médica horas antes.
Nascida Elizabeth Alexandra Mary, em 21 de abril de 1926, em Londres, a rainha esteve no cargo por 70 anos, sendo a mais longeva monarca do Reino Unido.
Elizabeth II se tornou rainha aos 25 anos de idade, em 6 de fevereiro de 1952, mesmo dia da morte de seu pai, o rei George VI, que faleceu de um câncer de pulmão.
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A monarca esteve no trono em períodos de intensa transformação econômica, política e tecnológica no Reino Unido — incluindo a maior parte da reconstrução da Europa após a Segunda Guerra Mundial, a Guerra Fria, o fim do Império Britânico, a entrada e posterior saída do Reino Unido da União Europeia e, mais recentemente, a pandemia da covid-19.
Durante seu reinado, Elizabeth II viu passarem pelo governo britânico 15 premiês, a última delas a nova mandatária britânica, Liz Truss, que se encontrou com Elizabeth apenas dois dias antes de sua morte.
Como Elizabeth virou rainha
Quando nasceu em 1926, Elizabeth tinha poucas chances de se tornar rainha: seu pai, George, era o irmão mais novo do primeiro na fila de sucessão, o príncipe Edward.
Mas o papel de Elizabeth mudaria em 1936, quando Edward (nomeado rei Edward VIII) abdicou do trono para se casar com uma mulher americana que era divorciada, movimento proibido na monarquia da época.
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Assim, o pai de Elizabeth foi nomeado rei George VI e a então princesa, com somente 10 anos de idade e a mais velha das duas filhas do rei, se tornou a primeira na linha de sucessão.
Apesar disso, como mostram os registros da época, Elizabeth não esperava se tornar rainha tão cedo. A morte precoce do rei George VI, aos 56 anos com câncer de pulmão, pegou a todos de surpresa.
Na ocasião do falecimento, a então princesa Elizabeth e o marido, Philip, estavam em viagem para cumprir tarefas reais em países do chamado Commonwealth (organização que sucedeu o “Império Britânico” e então tinha mais de 50 colônias ou ex-colônias). Foi no Quênia que a agora rainha recebeu a notícia do falecimento do pai, dada por Philip.
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Casamento com o príncipe Philip
Antes de sua morte, a rainha Elizabeth II havia perdido recentemente o marido, príncipe Philip, em abril de 2021. Philip morreu aos 99 anos de idade. Os dois eram casados desde 1947.
Príncipe grego e dinamarquês, cuja família foi expulsa do país quando ele tinha 18 meses, Philip esteve ao lado da rainha Elizabeth II durante todo o reinado. Os dois se conheceram pouco antes da Segunda Guerra Mundial, quando Philip estava na Marinha.
Para se casar com Elizabeth, Philip renunciou a seu título de príncipe grego e se tornou um cidadão britânico, passando a usar a versão anglicana do nome de sua mãe, Mountbatten.
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É documentado, segundo biógrafos da realeza, que o começo do casamento de Philip e Elizabeth, sobretudo após ela ter se tornado rainha, foi conturbado - com reclamações do príncipe sobre o sobrenome dos filhos ou as obrigações da rainha, além de rumores de infidelidade.
Os dois, porém, permaneceram juntos até a morte do príncipe em 2021, e Philip se tornou o consorte a mais tempo servir no Reino Unido.
"Ele foi, simplesmente, minha força e minha permanência todos esses anos, e eu, toda a sua família, e este e muitos outros países, devemos a ele uma dívida maior do que ele jamais reivindicaria - ou que jamais saberemos", disse Elizabeth em comemoração aos 50 anos de casamento.
Quebra de protocolos
Biógrafos apontam que a rainha Elizabeth, ao longo das décadas de mandato e do mundo em transformação que presenciou, quebrou alguns protocolos então existentes na monarquia.
Um dos mais lembrados é a instituição da caminhada entre a população, o que Elizabeth fez pela primeira vez em 1970 em uma visita à Austrália. Até então, nas visitas oficiais, monarcas britânicos somente acenavam de veículos ou a uma distância segura das multidões.
Desde então, o gesto de cumprimentar a população mais de perto passou a ser seguido por outros membros da família real em visitas no exterior e eventos internos no Reino Unido.
Enquanto isso, a rainha também teve a primeira coroação televisionada da história, em 1953. A TV ganhava espaço na época, e a ideia do príncipe Philip, que defendeu o formato, era aproximar a família real da população. Estima-se que a cerimônia foi vista ou ouvida pelo rádio por mais de 80% da população.
Nos anos seguintes, os eventos da família real se tornaram marcos transmitidos mundialmente, com bilhões de espectadores.
Além disso, durante o reinado de Elizabeth II, foi encerrada uma antiga regra da linha de sucessão da monarquia que privilegiava irmãos homens na linhagem - o que faz com que a princesa Anne, segunda filha mais velha da rainha, esteja atrás dos irmãos mais novos Andrew e Edward. Por essa regra, a própria Elizabeth II só foi rainha porque não tinha irmãos homens.
Agora, com a mudança para as novas gerações, a princesa Charlotte (filha do príncipe William e bisneta da rainha) é a terceira na linha de sucessão, ficando à frente do irmão mais novo, Louis.
Relação com Charles
Elizabeth e Philip tiveram quatro filhos. O príncipe Charles, primogênito e agora novo rei com a morte da monarca, nasceu em 1948, quando Elizabeth ainda não era rainha. Charles foi seguido dois anos depois por sua irmã, Anne.
Anos depois, já como rainha, Elizabeth teria ainda outros dois filhos: Andrew, em 1960 (hoje envolvido em escândalos de abuso sexual) e Edward, em 1964.
Ao longo do reinado de Elizabeth, boa parte dos holofotes estiveram centrados em Charles, uma vez que esperava-se que, em breve, o herdeiro se tornaria rei (o que terminou demorando décadas a acontecer). Em 1968, ele foi nomeado “Príncipe de Gales”, título oficial conferido ao herdeiro do trono.
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Biógrafos apontam que a relação de Charles com a mãe foi, em vários momentos, conturbada. Os embates se tornariam claros após o casamento de Charles com Diana Spencer nos anos 1980.
Crise com Diana e 'Annus Horribilis'
A rainha Elizabeth II é a monarca mais popular da família real, com mais de 70% de aprovação, segundo pesquisa YouGov.
Mas, dentre os momentos mais sensíveis da rainha, a relação com Diana foi um marco negativo. Com Diana sendo altamente popular (chamada de “Princesa do Povo”), as sabidas desavenças entre a rainha e a esposa do filho levaram a uma crise de imagem na família real mesmo após o divórcio com Charles, em 1992.
A rainha foi especialmente criticada após a morte trágica de Diana, em 1997, incluindo com rumores de que a família real poderia ter relação com o acidente de carro envolvendo Diana (o que foi descartado pela polícia). A princípio, a família real se isolou no interior e não fez muitas declarações públicas sobre o acidente, mas a rainha, pressionada, terminou tendo de fazer um pronunciamento na televisão.
Além do divórcio de Diana e Charles, o ano de 1992 ficaria ainda marcado por outros episódios negativos para a rainha, com divórcios de outros dois filhos, Andrew e Anne.
Por fim, o castelo de Windsor, residência da família real, pegou fogo — e imagens de luxuosos artigos sendo salvos do incêndio fez a riqueza da família real ser exposta em rede nacional. Em meio às críticas, a rainha Elizabeth concordou em pagar impostos sobre sua renda privada. Mais tarde, ela descreveria 1992 como “Annus Horribilis” (“ano horrível”, em latim).
Atualmente, novas críticas à rainha surgiram nas redes sociais com mais uma esposa da família: Meghan Markle, casada com o príncipe Harry, filho de Diana e neto da rainha. Em entrevistas, o casal vinha questionando o tratamento dado a Markle (que é americana e de mãe negra) na família real.
Rocha britânica
Uma pesquisa Ipsos de 2022 mostra que mais de 40% dos britânicos consideram a rainha como um símbolo positivo do que há de melhor no Reino Unido.
Ao longo dos 70 anos como rainha, Elizabeth esteve ao lado de 15 primeiros-ministros do Reino Unido, conheceu cinco papas e assistiu a quase 20 Olimpíadas.
Em 2015, Elizabeth se tornaria a monarca a mais tempo governar o Reino Unido, quando superou a então recordista, a rainha Vitória, que é também sua tataravó.
Vitória governou de 1837 até sua morte, em 1901, em período chamado de “era vitoriana”. A rainha Vitória governou por quase 64 anos e a rainha Elizabeth II, por 70 anos.
Nos últimos anos, já com a saúde mais debilitada, Elizabeth II também esteve à frente do trono britânico durante a pandemia da covid-19, o que ela própria considerou como um dos maiores desafios do Reino Unido desde a Segunda Guerra Mundial.
“Isso me faz lembrar da primeira transmissão que eu fiz, em 1940, ajudada por minha irmã”, disse a rainha em um raro pronunciamento na televisão na pandemia, lembrando seu pronunciamento na guerra.
“Embora tenhamos enfrentado desafios antes, este é diferente. Desta vez, nos unimos a todas as nações do mundo em um esforço comum”, disse.
Elizabeth será lembrada como tendo trabalhado à frente do trono britânico até o fim. Sua última aparição fotografada ao público foi menos de três dias antes de sua morte, quando encontrou a nova premiê britânica, a conservadora Liz Truss, para oficializar o início do novo governo, na terça-feira, 6.
Em uma de suas frases mais marcantes e mais lembradas nesta quinta-feira, durante discurso em seu aniversário de 21 anos na África do Sul, ela afirma: "Declaro diante de todos vocês que toda a minha vida, seja longa ou curta, será dedicada ao seu serviço."