O que diz a Ambev após repercussão de anúncio com monja Coen
"O tema da moderação deve ser tratado por todos", diz Carla Crippa, VP de relações com a sociedade da Ambev. Executiva comenta detalhes da iniciativa após internautas discutirem se campanha com monja Coen faz sentido
Marina Filippe
Publicado em 14 de agosto de 2021 às 09h00.
Última atualização em 16 de agosto de 2021 às 11h15.
A fabricante de bebidas Ambev anunciou a monja Coen como "embaixadora da moderação" da companhia. A novidade dividiu os internautas entre os que acharam a iniciativa boa e aqueles que estranharam ver uma budista de 74 anos, que acumula 2,7 milhões de seguidores somente no Instagram, em propaganda institucional de empresa de cerveja .
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Em uma das análises é possível associar a força de marca da monja com a intenção da companhia de ser socialmente mais responsável, como apontaMichel Alcoforado no Instagram:"Como antropólogo, com anos de experiência ajudando as marcas a se conectarem com seus consumidores, afirmo que o co-branding entre Ambev e a Monja é um golaço (...) Monja foi hábil na construção de uma marca repleta de atributos valorizados pelos consumidores na contemporaneidade. Do outro lado, temos uma empresa de cerveja feliz com resultados financeiros, mas preocupada com o futuro de suas marcas".
Já para Fabio Mariano Borges, professor de tendências do consumo da ESPM, o ponto principal é o estranhamento. "O budismo ainda é envolto nessa aura sagrada, que lhe dava um tom imaculado e, quando a monja se rende ao mercado, isso se perde. Assim, a questão que paira no ar é se até a esfera do zen agora está contaminada por uma marca. E se fosse a Natura causaria o mesmo espanto?”, diz.
E a Ambev?
Em meio as análises, a Ambev se pronuncia a favor da ação e a geração da visibilidade acerca do consumo moderado de bebidas alcoólicas. "O tema da moderação é muito importante e deve ser falado por todos na sociedade, inclusive pela monja. É um convite para o autoconhecimento e o equilíbrio", diz Carla Crippa, vice-presidente de relações com a sociedade da Ambev no Brasil.
Essa não é a primeira vez que a empresa debate o tema, mas é a que mais repercute. "As pessoas escutam 'beba com moderação' nos comerciais e não associam a mensagem. Passamos os últimos anos fazendo campanhas com o tema e não pegou como agora, então a conscientização é importante", diz a executiva.
A Ambev anunciou, em 2020, a meta de ajudar 2,5 milhões de brasileiros a reduzirem o consumo excessivo de álcool até 2022. Trata-se de um compromisso público, que oferece ferramentas de ensino para que as pessoas compreendam suas relações com o álcool a partir de cinco comportamentos: autoconhecimento, contar doses, planejar o consumo, hidratar-se e diversificar o consumo.
"Na plataforma as pessoas podem entender o quanto consomem e se isto é saudável, além de outras iniciativas. Em parceria com a Secretária da Saúde do Distrito Federal, por exemplo, criamos um protocolo de triagem e intervenção para identificar e prevenir casos de consumo nocivo de álcool, junto aos profissionais de Saúde da Família. A medida apresentou queda de 15% nas internações hospitalares".
A repercussão da campanha ocorre poucos dias depois da companhia anunciar uma área dedicada ao desenvolvimento de bebidas alcoólicas que não cerveja e os resultados do segundo trimestre:lucro líquido de R$ 2,885 bilhões, alta de 135,2% sobre o lucro líquido de R$ 1,226 bilhão no mesmo período do ano passado. Além de aumento de 19% no volume, chegando a 39,8 milhões de hectolitros -- recorde desde 2015.
Para Crippa, a questão principal sobre o volume é o padrão de consumo moderado. "Estudos mostram que é melhor para as pessoas, e para a sustentabilidade dos negócios, consumir doses espalhadas ao longo dos dias e não ter um consumo exagerado ou de uma vez só. Não há inconsistência em buscar o padrão de consumo ideal para a sociedade e ser uma fabricante de bebidas alcoólicas". A executiva destaca ainda que a campanha conta com outros influenciadores, como Neli Pereira, Raul Santiago e Bárbara Gancia.