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Não é hora de sair do Brasil, diz Alexandre Gama

Com a compra da Neogama/BBH pelo grupo Publicis, sócio e diretor de criação assume do Brasil o posto de líder criativo global da BBH

Alexandre Gama: "Permanecer no Brasil foi uma condição minha para assumir a função de CCO global" (Sérgio Zachhi)

Alexandre Gama: "Permanecer no Brasil foi uma condição minha para assumir a função de CCO global" (Sérgio Zachhi)

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Da Redação

Publicado em 7 de julho de 2012 às 08h00.

São Paulo - "O Brasil é a bola da vez. Permanecer aqui foi uma escolha e uma condição minha para assumir o posto de Chief Creative Officer da BBH no mundo", diz Alexandre Gama.

Sócio e diretor de criação da Neogama/BBH, o brasileiro foi escolhido para substituir John Hegarty na liderança criativa global da BBH depois que a rede inglesa e a agência brasileira Neogama, sócia da BBH, foram compradas nesta semana pelo grupo Publicis, terceiro maior conglomerado de comunicação mundial.

Esta é a primeira vez na história da propaganda do país que um criativo brasileiro assume a frente em um rede global de agências de publicidade, de acordo com a Neogama/BBH, colocando o Brasil no epicentro de uma estratégia que envolve oito esccritórios da rede no mundo.

Em entrevista, Alexandre Gama explica detalhes da compra da agência e comenta o que o negócio significa para a publicidade brasileira.

EXAME.com - Você manterá suas funções no comando da Neogama/BBH aqui no Brasil?

Alexandre Gama - Sim. As duas funções andam juntas. Aqui no Brasil, eu tenho o chapéu do gestor e criativo. Agora, acumularei também a liderança criativa global. Meus sócios, o Roberto Mesquita e o Geraldo Rocha Azevedo, também continuam. A diferença é que a agência passa a ter mais força ainda, porque um de seus membros acumula a função de líder criativo global. A criação é a alma de uma agência. Nosso foco vai continuar sendo o produto final.

EXAME.com - Quando as negociações com o grupo Publicis começaram?

Gama - Acredito que uma transação é um meio para se conseguir um fim. Tudo começou pouco mais de um ano atrás, com a BBH lá fora me convidando pra ajudar a desenhar um futuro para a agência. Os fundadores - John Hegarty e Nigel Bogle - estavam querendo deixar as funções executivas e permanecer apenas no conselho, e acharam que o meu perfil e os dez anos de sociedade corroboravam para a possibilidade de eu assumir o lugar do John Hegarty. O plano de venda foi feito para viabilizar isso, na verdade. Tanto a venda, em si, quanto o projeto futuro, chegaram aos patamares que queríamos.

EXAME.com - O que pesou para que o Brasil fosse aceito como epicentro criativo da BBH?

Gama - Foi uma escolha e uma condição minha. Não é hora de sair do Brasil. O Brasil é a bola da vez. Cargo, posição e função estão aceitas, mas quero assumir do Brasil. Para minha surpresa e pelo bom senso deles, ouvi um "sim". É a primeira vez que se admite a liderança criativa de uma rede global em um país emergente. Esse gesto fala mais do que qualquer discurso, no sentido de aceitar a diversidade, de admitir o multiculturalismo na liderança. É uma quebra de paradigmas.

Na prática, o que eles estão comprando com esse modelo é a combinação de um perfil criativo com um perfil empresarial. Lá fora o expertise e o conhecimento são muito departamentalizados. O mundo criativo é exclusivamente criativo, e o mundo dos negócios não entra na criação. Eles não tem essa combinação em um único perfil, e me disseram que a escolha veio por causa dessa combinação de espírito empreendedor com criatividade.


EXAME.com - A BBH tem oito hubs em países muito diferentes entre si (São Paulo, Nova York, Londres, Xangai, Mumbai, Cingapura e Los Angeles). Como você pretende liderar a área criativa da BBH?

Gama - Vou coordenar todos os chief creative officers desses lugares, e faremos juntos um plano de globalização do recurso criativo da rede. Uma coisa é ser global a partir de um ponto, e outro é ser multinacional centralizando não apenas em um lugar, mas usando os recursos de todos os países como parte da rede. O esforço é construir um time de global de criaçlão que seja realmente multinacional, que essas nacionalidades tenham os mesmos pesos.

EXAME.com - Você vai importar algo do jeito inglês de fazer propaganda? Exportar alguma característica brasileira?

Gama - A publicidade inglesa tem qualidade de produção e atenção ao detalhe, às pequenas coisas que fazem as grandes ideias. Você olha um filme inglês, e vê que a execução da ideia foi perfeita. O Brasil é muito rápido, muito varejo e imediatista, e isso é cultural. Por causa da cultura da inflação, nunca sabíamos como estaria no dia seguinte. O cuidado com o tempo no Brasil é uma coisa a ser aprendida com os ingleses. A intenção é entender como usaremos isso para ter uma qualidade de produto melhor. Ter um olhar mais artesão. Vou tentar aplicar uma visão tropicalista, fagocitando essas coisas que estão lá fora, para combinar com o que somos.

EXAME.com - Você esteve recentemente em Cannes, onde a Neogama/BBH conquistou o Grand Prix de campanha mais efetiva de 2011, além de 21 Leões. Que percepção você traz de lá?

Gama - O Grand Prix de eficácia para mim é a tendência. É a criatividade não como um fim em si, mas um meio para a eficária. É muito difícil para um criativo olhar as coisas assim. O brilho do mundo da criação sempre foi muito tentador. Mas o GP para mim foi a estrela. Acredito na criatividade com o planejamento.

Achei também que os trabalhos na mídia eletrônica estavam melhores em 2011, mas é uma comparação injusta, porque cada ano tem uma verdade muito característica em si. Acho que o anunciante, que está participando cada vez mais do festival, também está fazendo o caminho inverso. É importante que ele perceba que para ter eficácia, precisa ter criatividade.

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