O que esperar da conferência da Berkshire de Warren Buffett
O histórico de Buffett na criação de valor para os acionistas tornou a assembleia geral anual da Berkshire Hathaway um dos eventos mais esperados do ano no mundo das finanças
Redação Exame
Publicado em 2 de maio de 2024 às 16h15.
Última atualização em 2 de maio de 2024 às 16h48.
* William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue
Esta será a minha terceira visita à conferência anual de acionistas da Berkshire Hathaway em Omaha, Nebraska, e gostaria de compartilhar um pouco das minhas expectativas para a reunião deste ano.
O que é a conferência anual de acionistas da Berkshire Hathaway?
Para quem não sabe, todos os anos muitos investidores, analistas, gestores, jornalistas e algumas celebridades vão até Nebraska para ouvir e aprender com a sabedoria de Warren Buffett, conhecido como o Oráculo de Omaha e uma das maiores referências em investimentos em ações no mundo.
Em resumo, trata-se de uma assembleia de acionistas, onde a gestão da empresa presta contas aos seus acionistas. O objetivo principal da reunião é fornecer uma visão geral do desempenho da Berkshire nos últimos 12 meses, além de apresentar os planos da empresa.
A diferença é que o histórico de Buffett na criação de valor para os acionistas tornou a assembleia geral anual da Berkshire Hathaway um dos eventos mais esperados do ano no mundo das finanças. Mais de 20 mil pessoas viajam até Omaha para participar do evento, que ficou conhecido como "Woodstock para Capitalistas" na imprensa financeira.
Primeira vez sem Charles Munger
Pois bem, falando das expectativas, este ano teremos uma reunião diferente. Esta será a primeira vez em décadas que não teremos a participação de Charles Munger , que faleceu em novembro de 2023 aos 99 anos. Sem dúvida, uma grande perda e que faz com que o evento não seja o mesmo. Munger, com suas observações curtas, porém perspicazes e carregadas de bom humor, sempre arrancava risadas da plateia. Ainda assim, seus ensinamentos são eternos e devem ser relembrados este ano.
Portfólio: onde Buffett investe?
Um momento sempre muito aguardado é ouvir a respeito das mudanças nos portfólios da Berkshire. O mercado sempre observa com cuidado cada palavra e comentário que forneça indicações de possíveis aquisições, desinvestimentos e/ou mudanças de alocação. Em especial, o fato de a Berkshire carregar atualmente mais de US$ 165 bilhões em caixa gera essa expectativa quanto a novos possíveis investimentos.
Economia
Falando sobre isso, apesar dos questionamentos sobre o uso do caixa da Berkshire, Buffett já deu indicações de que tem se aproveitado dos juros mais elevados. Em agosto de 2023, questionado sobre o rebaixamento do rating americano pela Fitch, ele comentou que a única preocupação na Berkshire era sobre qual título do Tesouro (t-bill) eles comprariam na segunda-feira, relativizando e demonstrando não ter nenhuma preocupação com isso. No entanto, na última conferência em 2023, tanto Buffett quanto Munger criticaram o aumento dos gastos americanos, atribuindo-o aos políticos. Com os juros e a dívida ainda elevados, vamos ver qual é a sua opinião sobre o tema.
Falando de economia, tradicionalmente ele não faz previsões econômicas e aconselha os investidores a não se preocuparem com isso nem se atentarem muito às projeções dos economistas. Como de praxe, ele deve ressaltar a força e resiliência da economia americana – lembrando sua célebre frase na reunião de 2020: “Never bet against America”.
Mercado e setores
Se, por um lado, ele não se prende a projeções e expectativas econômicas, Buffett é um profundo conhecedor dos setores e empresas dos Estados Unidos. Então, o mercado sempre para e ouve o que ele tem a dizer sobre diferentes indústrias.
Nas últimas duas edições, ele demonstrou uma visão positiva com o setor petrolífero, por exemplo. Tanto que isso se refletiu no portfólio da Berkshire com a aquisição de participações na Occidental Petroleum e Chevron. Juntas, somam cerca de 10% da carteira da Berkshire – lembrando que a primeira acabou sendo uma das maiores altas do S&P 500 em 2022, com suas ações subindo 117%. Será que ele continua otimista com o setor?
Os investidores também devem estar curiosos sobre sua recente venda de cerca de 10 milhões de ações da Apple (cerca de US$ 2 bilhões) . A empresa segue sendo a maior posição da concentrada carteira da Berkshire, com uma fatia de cerca de 50%. Será interessante entender sua visão sobre o ativo.
Outro setor importante na carteira da Berkshire é o financeiro. Nomes como Bank of America, American Express, Visa, Moody’s, Citibank e outros representam mais de 20% de seu portfólio. Além disso, parte relevante do sucesso da Berkshire e de Buffett se deu por meio de seus investimentos no ramo de seguros – a Berkshire é a controladora da Geico, atualmente a terceira maior seguradora de carros dos EUA. Portanto, são sempre relevantes seus comentários sobre o tema, assim como a visão atual da empresa sobre ele.
E obviamente perguntarão a opinião dele sobre tecnologia e inteligência artificial. Na última conferência, Munger, de certa forma, diminuiu sua importância ao comentar que nada substituirá a inteligência humana. Além disso, tanto ele quanto Buffett agregaram seu desenvolvimento à expansão do uso de robótica para otimizar e potencializar os resultados das empresas.
Sobre o bitcoin e criptomoedas, já ouvimos alguns comentários bem pesados contra as moedas virtuais – Buffett já comentou que as pessoas podem estar perdendo a fé no dólar, mas isso não quer dizer que o bitcoin seja a solução.
Política
Este ano, os Estados Unidos passam por uma eleição que projeta ser apertada e polarizada. Buffett, historicamente, possui uma afinidade maior com os democratas, embora nunca tenha se engajado ativamente na política. Ele mesmo já disse algo como "não sou um democrata de carteirinha". Além disso, nos últimos encontros anuais, ele criticou a polarização vista no Congresso americano, bem como a falta de cooperação entre os EUA e a China. Num mundo tão polarizado e cheio de insanidade, a sabedoria do "Oráculo de Omaha", que já viveu tantas guerras e presidências, deve ser um convite à lucidez e ao bom senso.
Filosofia
O maior valor e o que me faz retornar a Omaha é a oportunidade de beber diretamente na fonte da sabedoria e da filosofia de investimentos e vida que o "Oráculo de Omaha" proporciona. Não é à toa que tantos livros são escritos sobre sua história e filosofia de investimentos. Estarei lá no dia 4 de maio, cobrindo e narrando tudo nas minhas redes sociais @willcastroalves no Instagram e X, o antigo Twitter.