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JGP, RPS e SPX: Caixa, cautela e distância da bolsa brasileira

A bolsa reflete (e deve continuar refletindo) o risco de rompimento do teto de gastos e de novos afrouxamentos no compromisso fiscal

Continuo desanimado com bolsa no Brasil, não parece barata considerando os juros, disse Paolo Di Sora, sócio fundador e gestor da RPS Capital (Germano Lüders/Exame)

Continuo desanimado com bolsa no Brasil, não parece barata considerando os juros, disse Paolo Di Sora, sócio fundador e gestor da RPS Capital (Germano Lüders/Exame)

Juliana Machado*

Juliana Machado*

Publicado em 21 de outubro de 2021 às 19h09.

A grande dúvida gerada pela condução da política fiscal no Brasil tirou a atratividade das ações brasileiras. Embora ainda seja ideal para o ganho de capital de longo prazo e esteja recheada de ações "descontadas", a bolsa brasileira reflete (e deve continuar refletindo) o risco de rompimento do teto de gastos e de novos afrouxamentos no compromisso fiscal. Essa foi a visão apresentada e debatida pelas gestoras RPS Capital, SPX Capital e JGP Asset durante o BTG Bankers Experience, evento realizado pelo BTG Pactual com assessores de investimentos parceiros.

Diante desse cenário de enorme incerteza, os três gestores concordam que ter caixa, cautela e diversificação fora do Brasil são ideais para atravessar o período. "Continuo desanimado com bolsa no Brasil, não parece barata considerando os juros. Não vejo assimetria enorme para comprar ações das empresas líderes nos seus setores, temos preferido ficar fora do Brasil, no mercado americano", afirmou Paolo Di Sora, sócio fundador e gestor da RPS Capital. "Deveria existir um desconto para comprar companhias de qualidade no Brasil e, nas nossas contas, não existe."

Segundo Leonardo Linhares, membro do comitê executivo da SPX Capital, os agentes de mercado esperavam "alguma utilização" do espaço fiscal brasileiro, "mas não dessa maneira". "Se não resolvermos, e provavelmente não vamos resolver com eleição em vista, temos que ser cautelosos. Isso deveria produzir preços muito bons, mas ainda não chegamos lá", disse ele. "Ao longo dos próximos meses, vamos gerar oportunidades, especialmente em small caps, é do ciclo, mas quero aproveitar para estar cauteloso e com caixa."

 

"Não tenho dúvida de que as ações estão atrativas, mas qual o nome do regime político em que estamos agora? Eu não sei", questiona Márcio Roberto Correia, sócio da JGP Asset, referindo-se à guinada do governo pela "canetada", alinhamento ao Centrão e forte inclinação pelo furo do teto. "Caixa é uma coisa salvadora, se a sua visão é negativa. Eu gosto de empresas de commodities, só o real no nível em que está justifica estar muito barato, mas eu não sei o que será da política fiscal", afirmou.

Mais cedo, executivos da Kapitalo Investimentos, Vinci Partners e BTG Asset destacaram os aspectos a respeito da retomada da economia em 2022, uma probabilidade mais distante com a disparada da inflação e, consequentemente, dos juros -- e agora ainda mais difícil com a rusga na confiança dos investidores.

"Não somos pagos para acertar o futuro, e sim pra proteger o investidor das assimetrias ruins e comprar as boas, e essa última parece estar no juro americano. A economia deles está saudável, não precisa de corticoide. Isso não combina com emergentes", afirmou Paolo. "Como regra de bolo: maior dúvida, maior liquidez. Tem que ter mesmo uma alocação estrutural em bolsa que faça sentido no longo prazo, mas agora é defesa."

Linhares, da SPX, acredita que o melhor conselho para a pessoa física é ter um portfólio "em que você esteja pronto para todos os cenários", e não pensar em montar proteções "quando tiver sangue na rua". "Aí sairá muito caro", afirmou.

*Juliana Machado é analista CNPI e integra o time de análise de fundos de investimento do BTG Pactual digital. É jornalista formada pelo Mackenzie, com pós-graduação em economia brasileira pela Fipe-USP. Atuou com análise e seleção de fundos de investimento na EXAME e escreveu por quatro anos para o Valor Econômico, nas áreas de governança corporativa e bolsa de valores.

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