Aline Cardoso, da EQI Research: eleições, aperto monetário nos EUA e PIB demandam cautela | Foto: Leandro Fonseca/EXAME (Leandro Fonseca/Exame)
Marília Almeida
Publicado em 13 de fevereiro de 2022 às 08h00.
Última atualização em 13 de fevereiro de 2022 às 10h34.
Em um cenário econômico mais complexo, tanto no Brasil como no exterior, 2022 exigirá maior seletividade na compra de ações. Mas isso não significa que não haja boas oportunidades no mercado. Essa é a visão de Aline Cardoso, co-head da EQI Research, a casa de análises da EQI Investimentos. "Há diversas empresas que, mesmo com um custo de capital mais alto agora, por causa do aumento dos juros, ainda registram potencial de valorização."
Antes da arrancada do Ibovespa no começo deste ano, em média a bolsa estava negociando a 7x o seu preço/lucro. Agora, esse valor subiu para 9x, mas ainda está abaixo da média dos últimos cinco anos, de 11x, disse Cardoso à EXAME Invest. "No segundo semestre de 2021, os papéis caíram demais, especialmente as small caps."
A casa de análises da EQI começou a ser montada em outubro do ano passado, sob coordenação de Aline Cardoso e Luís Fernando Moran de Oliveira. A nova divisão é parte do processo para que a empresa de investimentos se torne uma corretora. A expectativa é que a licença seja obtida com as autoridades regulatórias no mês que vem.
Cardoso tem passagens pelo HSBC e pela Trafalgar Asset e soma 20 anos de experiência no atendimento a clientes institucionais. O objetivo da nova casa de análise será levar a experiência que o investidor institucional tem em uma corretora para o pequeno investidor, contou a especialista em investimentos. "Queremos oferecer uma análise aprofundada e acesso a reuniões com analistas e executivos de empresas listadas", explicou.
Veja abaixo a entrevista completa de Aline Cardoso para a EXAME Invest.
Neste início de ano o mercado acionário americano interrompeu uma sequência longa de valorização que levou o S&P 500 e o Nasdaq a recordes. Qual será o impacto nos investimentos lá fora e no Brasil?
Depois de ter passado por uma recessão e registrado uma recuperação, a economia americana está agora no final dessa retomada, o que denominamos late cycle. Esse período antecede uma nova recessão.
Na pandemia da covid-19 tivemos a recessão mais aguda e rápida da história dos Estados Unidos: a atividade econômica despencou em linha reta, mas, com a vacinação, voltou de maneira muito rápida também. Até que a aceleração atingiu seu pico no segundo trimestre de 2021.
Desde então entramos em um cenário morno, até que a atividade começou a desacelerar ante uma inflação crescente e um mercado de trabalho aquecido. O Fed [o banco central americano] já demonstrou estar preocupado com o cenário e deve iniciar um ciclo de aperto monetário.
A pergunta que aparece é se o pouso da economia americana será suave ou forçado. Se for suave, será um ótimo cenário para o mercado financeiro. Mas, se o Fed errar a mão e promover um aperto mais intenso, caso a inflação se torne persistente, isso pode levar à recessão da economia americana.
A precificação de uma recessão já está acontecendo nas taxas do mercado de juros e crédito privado. Mas o mercado de ações continua resiliente. Neste ano, o S&P perdeu 7% e o Nasdaq 12%. Acredito que o mercado pode desvalorizar mais.
No Brasil, temos o Banco Central subindo juros, eleições e um começo do ano bom para a bolsa. Qual é a perspectiva?
Há um grande fluxo de investidores estrangeiros entrando desde dezembro no país, porque esse cenário de late cycle é bom para commodities e bancos. O investidor lá fora, geralmente gestores de fundos de ações globais, fazem uma análise top down e buscam valor neste ciclo econômico. Geralmente, é o que oferece o Brasil.
Somado a isso, as ações brasileiras caíram muito no segundo semestre do ano passado e o mercado acionário nacional está muito descolado do de outros países emergentes.
Se o pouso da economia americana for suave, que é uma probabilidade maior, será bom para os países emergentes e especialmente o setor de commodities. Mas se tender a um pouso forçado, o fluxo de investidores estrangeiros para, e o mercado de ações por aqui sofre também.
Quais são as recomendações da casa para 2022?
Em um ano de eleição no Brasil, PIB praticamente zero e aperto monetário nos Estados Unidos, montamos a nossa carteira Barbell, estratégia desenvolvida pelo Nicholas Taleb. Tem dado certo.
Essa carteira tem dois pesos, e em uma das pontas colocamos ativos defensivos que dependem pouco do PIB.
Na outra ponta, investimos em ações arriscadas, como as de estatais e varejistas de eletroeletrônicos. Isso porque ainda existe uma chance, hoje pequena, de uma terceira via crescer ou de quem está à frente da corrida eleitoral começar a ter um discurso mais amigável em relação ao mercado financeiro.
Na parte defensiva da carteira, temos nomes como Petz (PETZ3), Weg (WEGE3), Vale (VALE3), Taesa (TAEE3) e Ambev (ABEV3). Do lado agressivo, apostamos em Cyrela (CYRE3), Renner (LREN3), Petrobras (PETR4), B3 (B3SA3) e Banco do Brasil (BBSA3).
Também gostamos de cases com dinâmicas próprias que surfam tendências, como Mercado Livre (MELI34), Sequoia Logística (SEQL3), Jalles Machado (JALL3), Boa Safra (SOJA3) e Alupar (ALUP11).