TR zerada em fevereiro afeta o rendimento da poupança e os financiamentos | Foto: GettyImages (Towfiqu Photography/Getty Images)
Bianca Alvarenga
Publicado em 16 de fevereiro de 2022 às 06h30.
Última atualização em 16 de fevereiro de 2022 às 06h49.
Com a disparada dos juros, a Taxa Referencial, conhecida como TR, voltou a fazer parte da vida financeira dos brasileiros. Para os poupadores, a TR representa uma fatia do rendimento da caderneta de poupança. Já para os mutuários, a TR compõe o cálculo de juros das parcelas e do saldo devedor de um financiamento.
Pela regra do Banco Central, quando a taxa básica de juros (Selic) está abaixo ou igual a 8,5%, a TR fica "hibernando" e zerada. Acima de 8,5%, patamar em que se encontra desde dezembro passado, a TR volta a ter um valor calculado diária e mensalmente. Em janeiro, por exemplo, a taxa ficou em 0,06%.
No entanto, a série do Banco Central de valores para a TR tem mostrado uma taxa em 0% desde o início de fevereiro, embora a Selic esteja em 10,75% atualmente. Questionado pela reportagem da EXAME Invest, o BC esclareceu que a taxa deve realmente permanecer zerada até o final do mês.
A razão para a Taxa Referencial ter ficado em zero em fevereiro tem a ver com a quantidade de dias úteis no período de cálculo considerado pelo Banco Central. Em nota, o BC apontou que a janela que engloba o período de 8 de fevereiro a 8 de março tem somente 18 dias úteis, em razão dos feriados e do próprio fato de o mês ter apenas 28 dias.
"A título de exemplo, um mês costuma ter 21 dias úteis, podendo chegar a um máximo de 23 dias úteis. Caso o período analisado compreendesse 23 dias úteis, a apropriação do fator de juro diário levaria a uma TR de 0,1113% em fevereiro, o que não é o caso", diz o parecer do Banco Central.
A fórmula de cálculo do Banco Central leva em conta a quantidade de dias úteis do mês e, por fim, abate os juros acumulados nesse período com um deflator (ou seja, um valor estipulado para ponderar os juros). Mas por que o BC só leva em conta dias úteis?
Explicando de forma simples, a Taxa Referencial está ligada ao rendimento dos títulos prefixados do Tesouro Direto, as chamadas LTN. Esses papeis, por sua vez, têm a ver com os juros futuros. O rendimento das LTN e de todos os outros títulos públicos é somente calculado em dias úteis.
"O dinheiro no Brasil não 'trabalha' aos feriados e finais de semana. O cálculo de rendimento dos CDBs, fundos de investimento e do próprio Tesouro Direto é todo baseado na quantidade de dias úteis do período. Ou seja, se um mês tem menos dias úteis, as taxas serão menores", explica Michael Viriato, especialista em finanças e estrategista da Casa do Investidor.
Ele diz que quando a taxa é menor, o deflator pode superar os juros acumulados nos dias úteis, o que faz com que a TR fique menor, ou até em zero, como é o caso de fevereiro – lembrando que, também pela regra do BC, a TR nunca é negativa.
"Se observarmos o histórico da TR, os meses de fevereiro costumam ter uma taxa menor", lembra Viriato.
Em 2012, quando a Selic estava em 10,5% (próximo do patamar atual), e quando, em razão do feriado de Carnaval, fevereiro teve menos dias úteis, a TR também ficou em zero.
Veja abaixo o histórico da Taxa Referencial:
Com a Selic acima de 8,5% ao ano, a poupança passou a ter uma nova fórmula de cálculo para a sua rentabilidade: em vez de render o equivalente a 70% da Selic ao mês, passa a render 0,5% ao mês acrescida da TR.
Na prática, a caderneta deve render, portanto, apenas a parte fixa, de 0,5%, em fevereiro, já que a TR deverá ser zero até o final do mês. No entanto, é esperado que a taxa volte a ficar positiva nos meses seguintes, o que significa que ela impactará o resultado da poupança até o final do ano.
Vamos a um cálculo em termos práticos, considerando o histórico da taxa: com uma projeção da TR entre 0,60% e 0,80% ao ano, o rendimento anual da caderneta de poupança ficará entre 6,77% a 6,97% em 2022.
Vale lembrar, no entanto, que apesar da pequena melhora do rendimento, especialistas explicam que a volta da TR não torna a caderneta de poupança mais vantajosa do que aplicações conservadoras de renda fixa, como títulos do Tesouro Selic, CDBs e até fundos DI.
Veja nesta matéria as comparações do rendimento de diferentes investimentos, com a TR.
Grande parte das linhas de financiamento estabelece como fórmula uma taxa de juros fixa somada à TR. No caso do crédito imobiliário, a proporção de contratos em relação ao volume total que usam esse modelo é de 94% (os outros 6% referem-se às linhas que usam o IPCA, a poupança ou um valor fixo para determinar os juros).
Por exemplo: se o mutuário contratou um financiamento com taxa de juros de 8% ao ano, ele deverá somar a esses 8% o valor da TR estimado ao ano para chegar ao seu custo final. Essa soma extra deve durar enquanto a Selic permanecer acima de 8,5%.
No entanto, como em fevereiro a taxa ficou zerada, a prestação deste mês não deve sofrer nenhuma correção adicional, além dos juros já estipulados no momento da contratação. É importante lembrar, no entanto, que o mês é atípico, e que a TR deve voltar a ser cobrada a partir do mês que vem.
Fizemos, nesta matéria, uma simulação para mostrar o impacto da Taxa Referencial nas parcelas e no saldo devedor de um financiamento.