Selic: Copom eleva juros para 12,25% e consolida mais duas altas de 1 p.p. (Rafa Neddermeyer/Agência Brasil)
Repórter de finanças
Publicado em 12 de dezembro de 2024 às 14h36.
Última atualização em 12 de dezembro de 2024 às 14h52.
A decisão do Banco Central de contratar mais dois aumentos da Selic até março surpreendeu o mercado, no que vem sendo classificado como um "choque de credibilidade" da autoridade monetária -- disposta a controlar a inflação, a despeito da deterioração do cenário fiscal.
Mas se agora os 14,25% sinalizados pelo BC se tornaram um piso, a grande questão agora é: qual o teto?
No comunicado, o Copom já adiantou que pode ir mais longe na estratégia, que "será ditada pelo firme compromisso de convergência de inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica de inflação".
A decisão de ontem fez os analistas correrem para revisar suas expectativas e já há casas apostando numa Selic terminal de 15% no fim do ciclo de aperto.
Ativa e XP Investimentos ficaram na ponta mais pessimista e apontam para juros de 15% em 2025 (contra expectativas de 14% e 14,25%, nesta ordem, anterioramente). A Warren elevou a aposta de 14,25% para 14,75%, e o BTG Pactual (mesmo grupo controlador da EXAME) manteve sua projeção de juros terminais a 14,75%, com um novo aumento de 0,5 ponto percentual em maio. A Warren passou a perspectiva de 14% para 14,75%. Na ponta mais conservadora, comprando apenas os aumentos já contratados pela autoridade monetária, Barclays e UBS BB passaram a prever a taxa básica a 14,25%.
No mercado futuro, os juros seguem pressionados ao longo de toda a curva nesta quinta-feira, 12, com as taxas de curto, médio e longo prazo registrando altas - o contrato futuro para janeiro de 2027 já se aproxima da casa dos 15%.
A postura mais rígida do BC e o ‘choque’ na magnitude agradaram ao mercado, que há tempos demonstra uma grande preocupação com o controle da inflação -- reflexo da desancoragem das expectativas após a frustração com o pacote de corte de gastos.
“A reação dos agentes ao pacote de cortes de gastos anunciado pelo governo brasileiro foi negativa, levando a uma maior deterioração das expectativas de inflação e a mais depreciação cambial. Isso, por sua vez, contribui para uma dinâmica inflacionária mais adversa”, disse o Bank of America (BofA) em relatório.
As pesquisas dos economistas da Broadcast e Bloomberg previam um aumento de 0.75 ponto percentual nesta reunião, com cerca de 60% de probabilidade contra 40% para um aumento de 1 p.p..
Em relatório, o UBS BB inclusive explicou que apostava em um aumento mais gradual, ao acreditar que seria difícil alcançar unanimidade para um aumento de 1 p.p., fato que se concretizou.
“Portanto, consideramos justo classificar a decisão unânime como uma surpresa mais rígida”, escreve a equipe do UBS BB liderada pelo economista Alexandre de Azara.
Álvaro Frasson, estrategista-macro do BTG Pactual Portfolio Solutions também categoriza como “surpreendente” a alta parcelada de 3 p.p. e afirma que a decisão tira a sucessão do BC do holofote. “Comunicado faz trabalho positivo e importante para a credibilidade do BC”.
Mas, apesar dos esforços do BC em não perder a credibilidade monetária, demonstrando compromisso com a perseguição da meta, a saúde fiscal do Brasil pesa nas atenções dos investidores. O resultado é que o mercado já fala em ‘mais’, com diversos agentes revisando para cima a Selic em 2025.
Mansueto Almeida, estrategista-chefe do BTG, afirma que embora o maior crescimento do Brasil, com um Produto Interno Bruto (PIB) previsto para encerrar 2024 em 3,5% (versus os 1,7% projetados no começo do ano) seja um fator positivo, nas atuais circunstâncias, “acabou sendo percebido como um fator inflacionário, desancorando ainda mais as expectativas de inflação, o que aumentou as projeções para taxa de juros Selic.”
Para além da atividade aquecida, a preocupação com os gastos do governo, que podem elevar a dívida pública e injetar mais dinheiro na economia doméstica, também aumentam as expectativas inflacionárias.
No que classificou com um cenário "mais adverso e menos incerto", o BC enfatizou no comunicado que as expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus elevaram-se de forma relevante e encontram-se em torno de 4,8% e 4,6%, respectivamente (acima do teto da meta, de 3%).