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Reis, da Meraki, alertou para a correção do S&P. Veja o que diz agora

Sócio fundador e CIO da gestora diz que o estresse de mercado nos EUA talvez não tenha começado e aponta dois fatores que podem desencadear quedas maiores

Roberto Reis, sócio fundador da gestora Meraki Capital, no videocast Clube, da EXAME Invest | Foto: Reprodução/YouTube/EXAME (EXAME Invest/YouTube/Reprodução)

Roberto Reis, sócio fundador da gestora Meraki Capital, no videocast Clube, da EXAME Invest | Foto: Reprodução/YouTube/EXAME (EXAME Invest/YouTube/Reprodução)

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Marcelo Sakate

Publicado em 24 de janeiro de 2022 às 16h08.

Última atualização em 24 de janeiro de 2022 às 17h20.

A correção dos índices acionários americanos neste início de 2022 pegou muito investidor desprevenido. O S&P 500 acumula queda próxima de 10% até o meio da tarde desta segunda-feira, dia 24. Mas, para Roberto Reis, sócio fundador e CIO (head de investimentos) da Meraki Capital, o cenário atual de queda nas ações nos Estados Unidos não só já estava no radar como a gestora havia montado posições de proteção para o momento.

Reis havia antecipado o risco de reversão do movimento de alta nas bolsas americanas — o S&P 500 encerrou 2021 com ganho de quase 27% — no podcast Clube, da EXAME Invest, no começo de dezembro. Assista ao programa.

"Não se iluda, se você quer investir em S&P, vai comprar um ativo que está caro. Pode continuar indo bem? Pode. Mas você tem de rezar para o momentum continuar positivo. Nada sobe para sempre", disse Reis na ocasião, explicando as razões que o levavam a ficar cauteloso apesar da trajetória contínua de alta de mais de uma década.

"A economia americana está em um processo de superaquecimento e o banco central [o Fed] está atrasado em retirar os estímulos, na nossa opinião. Já deveria estar subindo os juros há muito tempo."

O CIO da Meraki conversou novamente com a EXAME Invest nesta manhã de segunda-feira, dia em que as perdas nas bolsas americanas estão se aprofundando — S&P 500 e Nasdaq operam com queda de cerca de 2%.

Ele pontuou que a correção pode estar apenas no começo. E deu dois argumentos para sustentar sua visão.

"Talvez o estresse do mercado não tenha acontecido de verdade. Talvez aconteça quando os Estados Unidos subirem os juros e perceberem que não será suficiente para combater a inflação. Isso hoje é um cenário de cauda, não é cenário-base para ninguém. Mas pode se tornar uma dúvida. E, diante da dúvida, o mercado realiza."

O experiente gestor, que fundou a Meraki há um ano, depois de ter sido head de Total Return Equities da Bradesco Asset, head de Equities da Santander Asset, head da mesa proprietária de ações do ABN Amro Bank e portfólio manager no BankBoston, entre outras experiências, fez um paralelo com o ciclo de aperto monetário no Brasil. 

"Nós vimos esse movimento [de início de aperto na política monetária] por aqui no ano passado. Eu sempre me lembro que, quando o Banco Central brasileiro começa a subir o juro, ou quando começa a cortar, os ciclos normalmente são muito mais longos do que os economistas preveem. E foi exatamente o que aconteceu."

"Quando o Banco Central começou a subir o juro, que estava em 2% [ao ano em março de 2021], as pessoas falavam que iria para 500 [pontos-base, equivalente a 5%] ou 600 [6%] só para acalmar. E agora todo mundo está falando de 12% e não sei onde vai parar esse juro", destacou o sócio da Meraki Capital.

Reis destacou que, para boa parte do mercado, os juros americanos deveriam subir do atual intervalo entre zero e 0,25% para 2,5% para conter a inflação. E alertou que é nesse ponto que investidores podem ser surpreendidos.

"Houve uma disrupção muito grande com a covid, mas não é só isso. Tem muito mais acontecendo. Fala-se que a covid afetou a produção, mas isso já deveria estar normalizado. O grande risco para o mundo é se a inflação for muito mais duradoura."

"Todo mundo aponta que 2,5% seriam os juros ideais para controlar a inflação. E se não for verdade? E se acontecer, em outra magnitude, o que aconteceu no Brasil no ano passado? Os juros chegaram a 5%, 6%, e vimos que não era suficiente, que havia outros choques na economia. O mundo não vai estar preparado para isso."

Reis acrescentou mais um ponto que, em sua avaliação, deveria estar no radar dos investidores como um possível trigger ("gatilho") para uma correção ainda mais acentuada de ações nos Estados Unidos mais à frente.

"Acho que estamos em um momento de inflexão da economia americana. Junta a isso o resultado das empresas. Pode haver uma compressão de margens impactadas pela inflação, seja porque estão pagando mais caro por insumos ou tendo que pagar mais aos funcionários. Pode ser um momento ruim no ciclo econômico."

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A má notícia é que a virada nas bolsas acontece antes mesmo da divulgação de números verdadeiramente ruins, algo que deve ficar para os balanços referentes ao primeiro trimestre de 2022, que serão conhecidos a partir de abril.

"Não estou olhando para esta temporada de resultados, mas, se já vier ruim, o cenário vai ficar mais claro ainda. E mesmo que ela venha boa, o prognóstico não é tão bom assim. Estamos mais cautelosos e reticentes."

Comprado em bolsa brasileira

O gestor da Meraki contou como está posicionado diante do diagnóstico acima. "Ainda nos parece um bom hedge para a carteira de Brasil essa posição mais cautelosa com a economia americana. O ano começou meio drástico, com as bolsas americanas caindo bastante, mas não acho que vai ser um desastre. Não é por aí."

Reis contou ainda que sustenta a sua visão positiva para a bolsa brasileira, que, de fato, acumulava valorização de quase 4% nas três primeiras semanas do ano, antes da correção em torno de 1,5% nesta segunda-feira.

"Por enquanto estamos vendo um cenário positivo porque houve uma rotação de growth para value. Alguns fundos se protegem indo para países considerados value e o Brasil se beneficiou disso, principalmente no inflow [ingresso] de investidor estrangeiro."

"Eu ainda estou com a cabeça mais otimista para Brasil no que diz respeito a preço. Continuo achando que estamos muito baratos sob várias métricas. Mas também acho que, se lá fora passar por uma correção mais acentuada, acho difícil aqui não sofrer de alguma forma", disse o CIO da Meraki Capital.

"Mantenho o posicionamento long [comprado] em Brasil com proteções lá fora. Vale carregar por mais três ou quatro meses e depois vamos acabar caindo na dinâmica de eleições. Não vai ter como escapar disso."

O portfólio da Meraki, segundo o gestor de renda variável, inclui posições compradas em ações de empresas de commodities, como Vale (VALE3) e Suzano (SUZB3); bancos como um todo — desde fintechs até os bancos tradicionais —; consumo, como Renner (LREN3); e real estate, como Cyrela (CYRE3), MRV (MRVE3) e Multiplan (MULT3).

Assista ao podcast Clube com Roberto Reis, sócio fundador da Meraki Capital:

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