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Petroleira dos EUA insiste na Venezuela — e pode ganhar bilhões com isso

Chevron aposta no longo prazo e sai ganhando em qualquer cenário na Venezuela, afirmam analistas

Chevron: uma posição única em meio à crise entre EUA e Venezuela (Marco Bello/Reuters)

Chevron: uma posição única em meio à crise entre EUA e Venezuela (Marco Bello/Reuters)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 21 de dezembro de 2025 às 12h00.

Enquanto a relação entre Venezuela e Estados Unidos se deteriora e volta a flertar com uma escalada militar, uma empresa americana segue operando em silêncio em meio ao caos: a petrolífera Chevron. Após quase duas décadas insistindo em permanecer no país, a companhia se vê hoje em uma posição singular — e potencialmente lucrativa — independentemente do desfecho do embate político entre Caracas e Washington.

Uma posição única em meio à crise

A Chevron é, atualmente, a única grande petroleira global com acesso direto às vastas reservas de petróleo da Venezuela. Em um cenário de confronto aberto, em que os Estados Unidos eventualmente derrubem o governo de Nicolás Maduro, a empresa estaria na linha de frente para ajudar a reconstruir uma indústria petrolífera debilitada por anos de sanções, subinvestimento e colapso operacional.

Se, por outro lado, houver um acordo político entre Maduro e o presidente americano Donald Trump, a necessidade venezuelana de gerar caixa rapidamente colocaria a Chevron, mais uma vez, em vantagem. Com capacidade operacional já instalada, a empresa poderia ampliar exportações quase de imediato.

Produção ativa, apesar das sanções

Mesmo em meio ao atual impasse diplomático e as sanções americanas à Venezuela, a Chevron segue produzindo cerca de 200 mil barris de petróleo por dia em joint ventures com a estatal PDVSA. Segundo dados de rastreamento de navios da Bloomberg, a companhia se preparava para exportar 1 milhão de barris de petróleo venezuelano — um movimento que ocorreu dias após Trump classificar o governo do país como uma “organização terrorista estrangeira”.

O petróleo extraído é direcionado, principalmente, para refinarias da Costa do Golfo dos EUA, projetadas para processar o tipo de óleo pesado produzido na Venezuela — um argumento central usado pela Chevron ao longo dos anos para defender sua permanência no país.

Uma exceção em um setor paralisado

O contraste com o restante da indústria venezuelana é evidente. Um bloqueio naval imposto pelos EUA no Caribe tem dificultado as exportações da PDVSA, que dependia de uma frota paralela de navios para enviar petróleo à China. Ataques cibernéticos, interrupções logísticas e a suspensão de voos internacionais agravaram ainda mais o isolamento do país.

Nesse contexto, a permanência da Chevron se deve a licenças especiais concedidas por Washington, que permitem contornar sanções impostas desde diferentes administrações americanas.

Embora o relacionamento não esteja livre de tensões — incluindo a prisão temporária de funcionários da empresa em 2018 —, Maduro costuma elogiar publicamente a companhia e defender sua permanência de longo prazo.

Críticas dos dois lados

A posição privilegiada da Chevron também gera resistências. Nos Estados Unidos, críticos acusam a empresa de canalizar recursos para um regime autoritário. Na Venezuela, setores mais duros do chavismo veem a companhia como um símbolo da influência americana sobre o principal ativo do país.

A empresa sustenta que sua atuação ajuda a estabilizar a economia local e regional, sempre em conformidade com as leis e sanções americanas. Internamente, segundo fontes ouvidas pela Bloomberg, a avaliação é de que os riscos valem a pena diante do potencial de retorno — além do sinal enviado a outros países produtores de que a Chevron é uma parceira de longo prazo.

Uma estratégia que já deu resultado

A aposta em “ficar onde o petróleo está” não é nova para a Chevron. A empresa mantém presença histórica em países politicamente complexos, como Arábia Saudita e Cazaquistão, onde enfrentou décadas de desafios técnicos e geopolíticos antes de colher resultados.

Na Venezuela, a estratégia custou caro ao longo do tempo, mas agora começa a mostrar valor. Em um momento em que quase todas as rotas de saída parecem fechadas para o país, a Chevron surge como uma ponte possível — tanto para o mercado internacional quanto para qualquer arranjo político que venha a surgir.

Como resumiu um executivo ouvido pela Bloomberg, sair diante de cada impasse político significaria abandonar praticamente todos os lugares onde há petróleo. Para a Chevron, insistir pode ser o maior ativo.

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