Repórter de finanças
Publicado em 10 de janeiro de 2025 às 07h49.
Última atualização em 10 de janeiro de 2025 às 10h19.
A semana, marcada pela divulgação de uma série de dados econômicos nos Estados Unidos, encerra nesta sexta-feira, 10, com o indicador mais importante de todos para medir a temperatura do mercado de trabalho americano. Hoje, é a vez do payroll, relatório de empregos não-agrícolas do setor privado.
Os dados divulgados nos últimos dias, como o relatório ADP e o relatório Jolts, mostraram que o emprego nos EUA não está desacelerando tanto quanto o previsto. Para somar à narrativa, o Índice de Gerentes de Compras (PMI) de serviços apontou que o setor – que é tem sido a maior preocupação para a inflação nos últimos dois anos -- ainda segue aquecido.
Com dados mais fortes, o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) deverá ser mais cauteloso nas próximas decisões. A grande maioria do mercado (93,1%) já estima que os juros serão mantidos na reunião do dia 29 de janeiro e, até o final do ano, alguns agentes já falam em um único corte.
Para o Brasil, o reflexo de um fim no afrouxamento monetário por lá é a disparada dos juros futuros, que nesta semana o de 10 anos chegou no maior patamar intraday desde abril de 2023. Consequentemente, o dólar se fortalece, o que é ruim para o câmbio por aqui, a inflação e a bolsa.
Entretanto, a curva futura dos EUA não sustentou a alta e os juros cederam, o que colaborou para a apreciação do real ontem, junto com a menor liquidez devido ao feriado de luto. Os piores momentos para o dólar, como em dezembro com o pico quase em R$ 6,30, parecem terem passado e a moeda se aproxima da casa dos R$ 6.
O Departamento de Trabalho americano publica, às 10h30, o payroll. O indicador deve apontar a criação de 150 mil empregos em dezembro contra o boom de 227 mil vagas em novembro, quando o relatório compensou o impacto negativo dos furacões e greves nos dados de outubro.
Além disso, a taxa de desemprego deve permanecer em 4,2% e o salário médio pago por hora, que serve de termômetro da inflação, deve avançar 0,3% na base mensal, ante 0,37% em novembro, e 4% na comparação anual, de 4,03% do mês anterior.
Mas em dezembro a inflação mensal provavelmente acelerou de 0,39% para 0,57%, de acordo com a mediana das estimativas de 20 economistas entrevistados de 2 a 8 de janeiro pela Reuters. Os dados oficiais do IPCA serão divulgados na sexta-feira (9) às 9h (horário de Brasília).
Por aqui, o destaque será a divulgação, às 9h, do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A alta nos preços dos alimentos deve pressionar a inflação em dezembro para 0,53%, após alta de 0,39% em novembro, de acordo com a mediana do Broadcast elaborada em um levantamento.
Já em uma pesquisa da Reuters, a mediana de 20 economistas entrevistados de 2 a 8 de janeiro aponta para uma alta de 0,57%.
Para o acumulado do ano passado, todas as casas que responderam ao levantamento do Broadcast projetam um IPCA acima do teto da meta (4,5%), entre 4,59% e 4,94%, com mediana de 4,84%, após 4,62% em 2023, quanto a tolerância era de 4,75%.
Na Reuters, o IPCA deve ter acumulado alta em 12 meses de 4,88% em dezembro, contra 4,87% em novembro, também fechando 2024 acima do limite superior da meta de 3%, com margem de 1,5 ponto percentual (p.p.).
Na última ata do Comitê de Política Monetária (Copom), o Banco Central (BC) já havia sinalizado o descumprimento da meta, ao estimar que a inflação somará 4,9% neste ano. Essa será a terceira vez, considerando os últimos quatro anos, que a meta de inflação será descumprida. De 2021 a 2024 (caso as projeções se concretizem), somente 2023 ficou dentro do limite.
Apesar da inflação alta ser tida como negativa para a economia, um IPCA mais forte, somado a um payroll mais fraco, seria a melhor combinação para um real mais apreciado. Isso porque a pressão inflacionária indicará uma Selic mais forte, talvez na casa dos 15%, como alguns agentes já falam, favorecendo o carry trade.
Nos EUA, a perda de fôlego do mercado de trabalho poderia baixar a pressão dos juros dos Treasuries e, consequentemente, dar um alívio no câmbio.