Invest

Novatas na bolsa sofrem com momento adverso no mercado

Gestores e estrategistas afirmam que o momento do mercado não favorece a manutenção de papéis com pouco histórico

Painel de cotações na B3 | Foto: Germano Lüders/EXAME (Germano Lüders/Exame)

Painel de cotações na B3 | Foto: Germano Lüders/EXAME (Germano Lüders/Exame)

R

Reuters

Publicado em 19 de agosto de 2021 às 11h47.

Última atualização em 19 de agosto de 2021 às 15h19.

Os últimos pregões foram particularmente dolorosos para ações de empresas que estrearam na bolsa neste ano, com a maioria trabalhando abaixo dos preços fixados nos respectivos IPOs, em meio a uma piora nos cenários político e fiscal no país e preocupações com o ritmo de crescimento mundial.

Gestores e estrategistas afirmam que o momento do mercado não favorece a manutenção de papéis com pouco histórico - boa parte divulgou apenas o seu primeiro ou segundo resultado publicamente - ou baixa liquidez em carteira. E isso não necessariamente tem a ver com a qualidade da companhia.

Mesmo que algumas das novatas sejam tidas como 'questionáveis' e que não tenham entregue o prometido nos roadshows das ofertas, a avaliação é de que há componentes conjunturais que são mais desfavoráveis a elas.

Um dos destaques negativos em agosto é a plataforma social para investidores TC, que recua cerca de 40% no mês, tendo encerrado a terça-feira a 7,60 reais, abaixo do preço fixado no IPO no mês passado, de 9,50 reais. A correção se intensificou após prejuízo no segundo trimestre, divulgado na semana passada.

A prestadora de serviços em ambiente marinho Oceanpact contabiliza baixa em torno de 14% no mês, mas a queda frente ao preço do IPO em fevereiro ronda 65%. No fim de julho, as ações chegaram a cair 27% em apenas um pregão após anuncio de acordo trabalhista. (https://bit.ly/3iVaPmB)

O diretor de investimentos da Reach Capital, Ricardo Campos, observa que há exceções, mas que investidores tendem a ficar mais ariscos em relação a essas empresas em momentos mais tensos no mercado dado o menor histórico, menor tempo de análise, o que ajuda a explicar a queda. "Há uma certa insegurança."

Ele ressaltou, porém, que a bolsa como um todo está sofrendo, com várias companhias registrando quedas relevantes, o que é explicado pelo ambiente político, com iniciativas do governo federal com potencial efeito negativo no desempenho fiscal do país, além da tensão entre os poderes.

O cenário externo também tem endossado vendas, com o aumento de casos de Covid-19 em meio à disseminação da variante Delta, adicionando preocupações sobre a retomada econômica.

O sócio-fundador e presidente da empresa de serviços financeiros G5 Partners, Corrado Varoli, acrescentou que, com a queda dos juros, "veio um caminhão de dinheiro" buscando retorno com renda variável. "Algumas das que vieram a mercado não têm liquidez."

O Ibovespa, referência da bolsa brasileira acumula em agosto perda de 3,2%, sendo o pior desempenho registrado por Lojas Americanas PN, com recuo de quase 24%.

O índice Small Caps, por sua vez, cede mais de 8% no mês, com Méliuz, que estreou no ano passado, respondendo pela maior baixa, de cerca de 29%, a 48,01 reais - ainda assim bem acima do preço de seu IPO de novembro, quando saiu a 10 reais.

Na visão do gestor e sócio-fundador da Trígono Capital, Werner Roger, os preços de alguns IPOs eram em grande parte absurdos em relação ao real valor das empresas e, em especial, frente a empresas listadas. "Agora, depois de ajustes de 40% a 50%, começamos a garimpar", afirmou.

No caso das estreantes, nomes como o banco de investimentos BR Partners e o grupo hospitalar Mater Dei resistem ao viés mais vendedor, com altas de 5,6% e 5,4%, respectivamente, em agosto, e desempenho forte também frente ao IPO - BR Partners sobe 58% e Mater Dei avança 12%.

Mas o principal destaque positivo entre as novatas é a Vamos, empresa de locação de caminhões e equipamentos, que mais do que dobrou o preço desde o IPO. A companhia, inclusive, anunciou neste mês desdobramento de ações de 1 para quatro. (https://bit.ly/2UtQk7l) Em agosto, porém, perde cerca de 20%.

Paciência

Os reflexos desse movimentos em novas ofertas de ações ainda não está claro, segundo os gestores e estrategistas ouvidos pela Reuters, com o apetite futuro dependendo da recuperação do otimismo no mercado, de outra janela de oportunidade, que no momento está difícil de prever.

A avaliação majoritária é de que as companhias que estão na fila para listar suas ações na bolsa precisarão ter paciência e devem encontrar investidores mais exigentes e céticos, não só em relação às teses de investimentos como também com o valuation oferecido.

Apesar da volatilidade e dos problemas do Brasil, o estrategista de renda variável da Ouro Preto Investimentos, Bruno Komura, avalia que, do ponto de vista das empresas, há ainda um ambiente favorável a IPOs, dado o cenário de liquidez elevada nos mercados externos.

Mas a efetivação de uma oferta, segundo ele, dependerá de a empresa aceitar o preço que o mercado quiser dar. Muitos IPOs recentes saíram no piso ou até abaixo da faixa estimada para a operação, o que sinaliza que investidores estão buscando desconto sobre o que está sendo mostrado no roadshow.

Da perspectiva dos investidores, em particular pessoas físicas, Komura reforçou que é muito importante que eles saibam bem o que estão comprando, analisem bem as empresas e o ambiente em que elas atuam.

"Tem um ano bastante turbulento daqui para a frente", disse.

Acompanhe tudo sobre:bolsas-de-valoresIPOsMercado financeiro

Mais de Invest

Dólar fecha em queda de 0,84% a R$ 6,0721 com atuação do BC e pacote fiscal

Alavancagem financeira: 3 pontos que o investidor precisa saber

Boletim Focus: o que é e como ler o relatório com as previsões do mercado

Entenda como funcionam os leilões do Banco Central no mercado de câmbio