Mario Souto Silva e Erick Wendel (Carlo Cauti/Exame)
Nascer na periferia de uma megalópole brasileira não representa, necessariamente, uma condenação à uma vida de pobreza e marginalidade. É possível se tornar uma estrela em um setor tão avançado - e competitivo - como a programação informática, ajudar a resolver problemas de códigos da NASA e do Google (GOGL34) e ser convidado a palestrar em um dos eventos mais importantes do mundo do setor, o Universe 2022, organizado pela GitHub, controlada pela Microsoft (MSFT34).
É essa a história de dois jovens paulistanos, Erick Wendel e Mario Souto Silva, que vieram de bairros pobres de São Paulo e graças a muito trabalho e dedicação foram proclamados "estrelas da programação", com direito a estrela na "calçada da fama" do evento.
Erick e Mario estão entre os dez brasileiros que conquistaram esse resultado, sendo os únicos dois a serem convidados pela controlada da Microsoft a participar do evento em São Francisco. No total, foram 101 "estrelas da programação" selecionadas em mais de 19 mil candidatos. O Brasil foi o país que mais expressou "estrelas" este ano, após os Estados Unidos, e na frente de países muito mais populosos como China ou Índia.
"Nasci e cresci na zona leste de São Paulo, no bairro Arthur Alvim. Graças ao Prouni me formei na Unip em Análise de Sistemas Informáticos. Sempre gostei de programar e me dediquei muito a melhorar minhas habilidades", conta Mario em entrevista à EXAME.
O jovem de 25 anos chegou a resolver um ajuste de documentação em um código de programação da NASA, a agência espacial dos EUA, e dois bugs do Google Chrome, graças as plataformas open source do GitHub. Com a experiência acumulada, Mario chegou a ensinar programação para mais de 100 mil pessoas e criou o canal do YouTube DevSoutinho, que reúne mais de 69 mil inscritos.
Para Mario, "poder cursar a faculdade teve um impacto importante", mas o que permitiu que ele desenvolvesse suas habilidades foi o constante trabalho de programação realizado através do GitHub. A empresa se tornou referência mundial em programação open source, tanto que foi adquirida pela Microsoft há quatro anos por US$ 7,5 bilhões.
Segundo o jovem, a programação pode ser um caminho para muitas pessoas que gostariam de melhorar de vida, pois existe uma grande demanda por parte do mercado, os salários normalmente são em dólares ou euro, "pois muitos programadores são recrutados no Brasil por parte de empresas estrangeiras", e para começar não precisa de um grande investimento em termos de infraestrutura tecnológica. "É suficiente um PC bem básico para começar a programar. Existem inúmeros cursos gratuitos na internet. Mas a questão é, precisa querer pagar preço de ficar horas sentados programando, aprendendo e trabalhando. E nem todos tem essa força de vontade", explica Mario.
A história dele é muito parecida com a de Erick, 27 anos, também nascido na Zona Leste de São Paulo, no bairro de São Matheus, e que começou sua carreira formatando computadores para ganhar dinheiro. Hoje se tornou um programador famoso no mundo todo, tanto que já foi convidado para palestrar em mais de 10 países.
"Eu me formei na Faculdade Impacta Tecnologia, mas aprendi a programar com comunidades de programação no YouTube. A velocidade de aprendizado nesses ambientes colaborativos é muito maior do que em faculdade, pois as pessoas acabam dando feedbacks um com o outro. Com o tempo, e muito esforço, cheguei a resolver um bug que afetava sites como Google, Netflix e Facebook, entre outros", conta o jovem à EXAME.
Além de ser uma estrela do GitHub, Erik é o segundo programador do mundo a ganhar o Google Dev Expert e o Microsoft Most Valuable Professional, os maiores e mais prestigiados reconhecimentos em software do mundo. Graças a esses feitos, o paulistano é chamado constantemente como palestrante no mundo inteiro, para ensinar para outros programadores como resolver problemas informáticos. Hoje o jovem montou uma empresa para formar novos programadores e faz parte do time do Node.js, o mais popular ambiente de desenvolvimento informático do mundo.
"Os programadores brasileiros se destacam mundo afora pois a gente atua em um ambiente hostil. Trabalhamos mais de 12 horas por dia com entregas muito próximas. No exterior, o clima é muito mais relaxado, se trabalha com mais qualidade de vida e um planejamento maior das entregas. É tudo muito mais organizado. Por isso os brasileiros acabam se destacando lá fora", explica Erick,
Mario e Erick palestraram nos três dias da Universe 2022 em São Francisco, sendo convidados pela GitHub a compartilhar suas competências para milhares de programadores do mundo inteiro que participaram do importante evento, que voltou pela primeira vez presencialmente após dois anos de pandemia.
As duas "estrelas da programação" brasileiras não pensam em ficar nos Estados Unidos. Ambos querem voltar para aumentar o número de programadores formados entre jovens brasileiros e expandir seus negócios.
"Hoje as empresas brasileiras disputam com as empresas globais os talentos locais. E a demanda é muito superior a oferta de programadores. Formamos muitos poucos desenvolvedores de sistemas informáticos nas faculdades brasileiras. Queremos ajudar a melhorar esse mercado no Brasil. Existem oportunidades gigantescas para jovens brasileiros que querem entrar nesse mundo", concluem.
O repórter viajou pra São Francisco a convite da GitHub, controlada da Microsoft.