Painel de negociações da B3 | Foto: Germano Lüders/EXAME (Germano Lüders/Exame)
Beatriz Quesada
Publicado em 27 de agosto de 2021 às 17h23.
Última atualização em 27 de agosto de 2021 às 17h45.
O Ibovespa encerrou o pregão desta sexta-feira, 27, em forte alta, com a bolsa brasileira acompanhando o exterior positivo após o discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, no Simpósio de Jackson Hole. O principal índice da B3 avançou 1,61% e fechou o dia aos 120.640 pontos.
Com o resultado desta sexta-feira, o Ibovespa conseguiu se recuperar das perdas dos pregões anteriores, acumulando alta de 2,26% na semana.
Os mercados de todo o mundo estavam aguardando o discurso de Powell em busca de pistas sobre o início da retirada dos estímulos mensais de 120 bilhões de dólares, o chamado "tapering".
Em discurso nesta tarde no Simpósio Jackson Hole, um dos maiores eventos de política monetária do mundo, o presidente do Fed afirmou que "pode ser necessário" iniciar o processo ainda neste ano. Na última ata do Fed, os membros do colegiado se mostraram divididos quanto à data do início, com 60%, no fim de julho, favoráveis ao início da retirada apenas no começo do próximo ano.
Apesar da sinalização de que o tapering pode começar ainda em 2021, Powell desassociou a medida de um movimento de elevação da taxa de juro. A possibilidade de haver alguma associação entre as duas medidas, inclusive, foi uma das preocupações presentes na ata da reunião de julho.
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, classificou o discurso de Powell como "dovish" (expansionista). "A autoridade reiterou inúmeras vezes a necessidade de se estimular o emprego até seu máximo, o que ainda permanece longe a despeito da inflação elevadíssima", disse em nota.
A falta de surpresas negativas e a sinalização de que o Fed manterá a taxa de juro inalterada por mais algum tempo alimentou o apetite de investidores por ativos de risco. Após o discurso, os índices americanos estenderam o movimento de alta, estabelecendo novas máximas históricas, enquanto o dólar perdia força no mundo.
No Brasil, a moeda americana registrou seu quarto dia de perdas na semana e o quinto dos últimos seis pregões. O dólar comercial encerrou a sessão em queda de 1,17%, sendo negociado a 5,196 reais. Na semana, o dólar acumulou queda de 3,5%.
Nos Estados Unidos, os índices S&P 500 e Nasdaq subiram 0,88% e 1,23%, respectivamente, atingindo novos recordes.
“O discurso abre espaço pro mercado e pros ativos retomarem um pouco a dinâmica positiva até o final do ano. Esperamos uma forte retomada das economias dos EUA e da China no quarto trimestre, o que pode ajudar ativos de risco e até mesmo a bolsa brasileira”, Sérgio Zanini, sócio e gestor da Galapagos Capital.
Zanini, no entanto, reforça que o cenário local pode ser impactado negativamente pelo ciclo de alta de juros do Banco Central e pelos ruídos políticos e fiscais.
Nesta sexta-feira, no entanto, o cenário fiscal também contribuiu para a alta do Ibovespa. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, ressaltou hoje em evento da Febraban que o pagamento do Auxílio Brasil – programa substituto do Bolsa Família – não irá romper o teto de gastos.
Lira reforçou que o Congresso Nacional vai cumprir o compromisso com a Lei de Responsabilidade Fiscal, e afirmou ainda que os pagamento de precatórios também irão permanecer dentro do teto.
Na bolsa, o maior destaque do dia foram as ações da PetroRio (PRIO3), que subiram 7,42% acompanhando a alta de 2,21% do petróleo Brent. Fora do Ibovespa, a 3R Petroleum (RRRP3) subiu 7,21%, após apresentar a maior proposta, superior a 1 bilhão de reais, pelo Polo Potiguar. A Petrobras (PETR3/PETR4), com a maior representação do setor no Ibovespa, subiu 3,05% e 3,64%, respectivamente, puxando o índice junto com a Vale.
Na vice-liderança do índice, as units do Banco Inter (BIDI11) dispararam 7,06% após o anúncio da aquisição da fintech USEND, especializada em remessas de dinheiro. Com mais de 150.000 clientes e com aportes já recebidos pelo investidor Jorge Paulo Lemann, a fintech será o primeiro braço do banco mineiro nos Estados Unidos.
As units acumulam alta de 10,8% nos últimos dois pregões. Na véspera, os papéis subiram 3,59% pegando carona no valuation bilionário que o concorrente Nubank pretende atingir em IPO.
Maiores altas |
Maiores quedas | |||||
PetroRio | PRIO3 |
7,42% | Americanas | AMER3 |
-2,71% | |
Banco Inter | BIDI11 |
7,06% | Yduqs | YDUQ3 |
-1,97% | |
Cyrela | CYRE3 |
6,87% | CVC | CVCB3 |
-1,31% |
As ações da Usiminas (USIM5) subiram 6,81%, após a empresa ter anunciado que irá distribuir 1,2 bilhão de reais aos acionistas por meio de dividendos e juros sobre capital próprio (JCP).
Na parte de dividendos serão 830 milhões de reais, o equivalente a cerca de 0,65 real por ação ordinária e 0,71 real por preferencial. O restante será distribuído por JCP, sendo o valor líquido de 0,23 real por ação ordinária e 0,33 real por preferencial.
A melhora da percepção sobre o minério de ferro, que fechou a semana com alta de mais de 9% na China, também contribui com a forte valorização da Usiminas. Além dela, as siderúrgicas CSN (CSNA3) e Gerdau (GOAU4) fecharam o dia em alta, avançando 2,43% e 1,72%, respectivamente.
A Vale (VALE3), com maior participação do Ibovespa, também se beneficiou do movimento e subiu 2,81%, sustentando a alta do índice.
Já as ações de construtoras reagiram após Powell afastar a possibilidade de uma alta de juros tão cedo, dando segurança para que outros bancos centrais mantenham suas taxas em patamares mais baixos. Com o discurso contribuindo para a queda dos juros futuros na B3, MRV (MRVE3), Cyrela (CYRE3) e EZTec (EZTC3) subiram 4,75%, 6,87% e 3,52%, respectivamente.
Na ponta negativa, os papéis da Americanas (AMER3) voltaram a cair após a alta da véspera. As ações recuaram 2,71%.