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Fundos de crédito compram mais debêntures e tomam lugar do BNDES

Os fundos de renda fixa locais registraram entradas líquidas de R$ 106 bilhões neste ano até agosto, depois de levantarem R$ 232 bilhões em todo o ano passado

SPX: é uma das gestoras independentes que iniciaram estratégias de crédito ou compraram empresas especializadas (Leandro Fonseca/Exame)
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Bloomberg

Publicado em 13 de outubro de 2022 às 12h05.

Última atualização em 13 de outubro de 2022 às 13h20.

A indústria de gestão de fundos no Brasil está se movendo em direção ao crédito à medida que juros mais altos atraem investidores e os bancos estatais recuam em empréstimos baratos subsidiados para empresas.

A Vinland Capital e a Occam Brasil estão entre as gestoras independentes se preparando para oferecer produtos de crédito depois que a Selic saltou de 2% no ano passado para 13,75%.

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Os fundos de renda fixa locais registraram entradas líquidas de R$ 106 bilhões neste ano até agosto, depois de levantarem R$ 232 bilhões em todo o ano passado, segundo a Anbima , a associação do mercado de capitais. E desta vez esses fundos não estão comprando apenas títulos do Tesouro como no passado, e sim começando a deter mais dívida corporativa — principalmente de grau de investimento, mas também de maior risco e inclusive inadimplente — e financiando projetos de infraestrutura, fintechs, pequenas empresas e o agronegócio.

“Esta é uma grande revolução no sistema financeiro do Brasil”, disse Daniel Sorrentino, sócio gestor e country manager para o Brasil no Pátria, empresa de investimentos alternativos com US$ 26,3 bilhões sob gestão na América Latina. “Agora não preciso de um grande banco para conseguir um empréstimo — tenho outras alternativas. E essa conexão direta entre o investidor que vai fornecer o financiamento e o tomador está sendo feita por fintechs, corretoras e gestoras de recursos independentes.”

O resultado é que, pela primeira vez, fundos de investimento junto com investidores individuais estão comprando uma quantidade significativa de títulos corporativos — quase tanto quanto a carteira de empréstimos do banco de desenvolvimento estatal BNDES, que costumava ser um dos principais fontes de financiamento para empresas brasileiras.

Em junho, os investidores detinham R$ 442 bilhões em debêntures e notas promissórias, 82% mais do que há dois anos, segundo a JGP Gestão de Recursos. O BNDES no mesmo mês tinha uma carteira de empréstimos de R$ 463 bilhões, 40% abaixo de seu pico em 2015, de acordo com suas demonstrações financeiras.

“O governo reduziu os subsídios ao financiamento corporativo no Brasil, cortando o volume de novos empréstimos de seus bancos e trazendo as taxas de juro do BNDES para os níveis de mercado”, disse Alexandre Muller, sócio e gestor de carteiras no Rio de Janeiro da JGP, que tem R$ 1,3 bilhão em fundos de crédito sob gestão. “Os mercados de crédito os substituíram e estão crescendo.”

À medida que fundos e indivíduos compram mais títulos corporativos, mais corretoras negociam esses papéis e assessores financeiros independentes trazem mais transações diretamente das empresas para o mercado, disse Muller, acrescentando que os mercados secundários também estão se desenvolvendo.

Não são apenas os bancos estatais que vêm reduzindo o financiamento para grandes corporações, de acordo com Daniela Gamboa, chefe de crédito privado e imobiliário da SulAmérica Investimentos. Os maiores bancos do país enfrentam exigências de capital mais restritivas e estão favorecendo os indivíduos em detrimento das grandes empresas porque os clientes de varejo oferecem spreads mais atraentes.

A SulAmérica tem cerca de R$ 13 bilhões em fundos de renda fixa com mais de 50% de seus ativos em crédito corporativo, ante R$ 5 bilhões há cerca de dois anos. Considerando-se o mercado todo, esse tipo de fundo de crédito teve 17 meses de ingressos líquidos consecutivos até julho, segundo a JGP.

A maioria dos clientes ainda busca fundos que lhes permita sacar dinheiro no mesmo dia ou no dia seguinte à solicitação, que normalmente detêm títulos corporativos líquidos e com grau de investimento, disse Gamboa. Mas estratégias sofisticadas e de longo prazo estão sendo trazidas ao mercado todos os dias, afirmou ela.

As fintechs também podem obter financiamento com a venda de empréstimos do cartão de crédito ou até mesmo financiamento para a compra de veículos diretamente para fundos, usando estruturas como FIDCs, fundos que compram títulos lastreados em crédito. A quantidade de FIDCs, ou fundos de investimento em direitos creditórios, atingiu o recorde de R$ 313,2 bilhões em agosto, um aumento de 10% em relação a dezembro, segundo a Anbima.

Essas estruturas também são utilizadas por investidores de longo prazo que se especializam na compra de crédito para agronegócios, créditos inadimplentes ou precatórios. Outras empresas oferecem fundos que compram títulos lastreados em ativos isentos de impostos de renda para pessoas físicas.

Alguns fundos podem oferecer aos investidores rendimentos de até 19%, mas exigem períodos de espera de 60 a 180 dias para saques após a solicitação, disse Rafael Fritsch, diretor de investimentos da Root Capital, empresa com sede no Rio fundada em abril especializada em crédito e com R$ 1,7 bilhão em capital comprometido de clientes.

A Vinci Partners, a SPX, a Legacy e a Ibiúna estão entre outras gestoras independentes que iniciaram estratégias de crédito ou compraram empresas especializadas. Muitas novas gestoras focadas apenas em crédito também estão sendo formadas.

Há muito espaço para o mercado crescer, pois os bancos ainda detêm de longe a maior parte do crédito corporativo no Brasil, o oposto do que acontece no mercado dos Estados Unidos, de acordo com Jean-Pierre Cote Gil, gestor de crédito na Vinland.

Alguns investidores, no entanto, temem que o boom do mercado de crédito se evapore se Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as pesquisas de opinião para o segundo turno da eleição presidencial de 30 de outubro, trouxer de volta a polêmica política de conceder bilhões de reais em empréstimos baratos para grandes empresas. A carteira de empréstimos do BNDES saltou para um recorde de R$ 700 bilhões em dezembro de 2015, após os dois mandatos anteriores de Lula e de sua sucessora Dilma Rousseff.

“Espero que qualquer novo governo, quando eleito, não aumente os subsídios ou empréstimos para o setor corporativo, a fim de evitar asfixiar os mercados de capitais em expansão”, disse Muller, da JGP.

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