Leonardo Otero - sócio-fundador e gestor da Arbor Capital: "Todos os anos, o mercado prevê que as big techs serão reguladas, divididas ou que alguma nova tendência tomará o protagonismo delas. Apostamos na última década que elas se tornariam ainda mais fortes, e não vejo razão para isso mudar" (Gunther Werk/Exame)
Repórter
Publicado em 11 de outubro de 2024 às 15h54.
Última atualização em 16 de outubro de 2024 às 07h30.
O mercado financeiro global passou por uma transformação significativa nas últimas décadas, com o domínio das empresas de tecnologia entre as maiores do mundo. Esse movimento, no entanto, foi ignorado pela maioria dos fundos brasileiros. A Arbor Capital foi uma das poucas gestoras que souberam aproveitar essa tendência, alcançando um retorno expressivo de 500% em 10 anos.
"Todos os anos, o mercado prevê que as big techs serão reguladas, divididas ou que alguma nova tendência tomará o protagonismo delas. Apostamos na última década que elas se tornariam ainda mais fortes, e não vejo razão para isso mudar", diz Leonardo Otero, fundador e gestor da Arbor Capital, em entrevista ao Vozes do Mercado.
Otero fundou a Arbor Capital em 2014 como um clube de investimento. Se considerado o retorno desde então, a rentabilidade acumulada do principal fundo da gestora, criado em 2015, supera 600%.
Focada no mercado internacional, a Arbor adota a filosofia de identificar grandes tendências globais que possam beneficiar empresas específicas. "Um dos nossos principais acertos foi entender que a internet seria um grande negócio. Estudamos profundamente as empresas de tecnologia, pois compreendemos que essa dinâmica penetraria na sociedade", conta Otero.
Os principais ganhos do fundo incluíram investimentos em empresas de internet da Ásia, como a chinesa Tencent (da Riot Games) e a singapurense Sea Group (da Shopee e Garena), além de grandes empresas de tecnologia. Agora, Otero acredita que a próxima grande tendência é a inteligência artificial. "Não há dúvida", afirma.
Embora não tenha capturado toda a valorização gerada pela Nvidia, por considerar a avaliação das vantagens competitivas da empresa complexa, Otero apostou em uma tese mais "conservadora", investindo na taiwanesa TSMC.
"No passado, não era óbvio que a Nvidia ganharia a corrida da IA. Havia grandes players como Intel e AMD. Mas a TSMC sempre foi uma compra segura, pois, ao contrário do cenário competitivo entre as fabricantes de chips, todas essas empresas produzem seus chips na TSMC. A Nvidia é 100% focada em propriedade intelectual, enquanto a TSMC é intensiva em capital, investindo US$ 40 bilhões por ano. O capital é uma barreira de entrada, então é mais fácil confiar", explica Otero.
A TSMC é hoje a segunda maior aposta da Arbor, ficando atrás apenas da Microsoft, que a gestora investe desde a criação do fundo. Otero descreve três formas de investir em inteligência artificial: em chips (Nvidia e TSMC), em modelos de linguagem e em computação em nuvem. Segundo ele, a Microsoft está bem posicionada para liderar as áreas de modelos e nuvem.
"Nos modelos, temos a OpenAI (investida pela Microsoft), Google, Meta e a própria Microsoft. Em computação em nuvem, temos AWS, Microsoft Azure e Google GCP. Essas empresas vão capturar mais valor da IA do que as startups. Como o capital necessário é muito alto, os grandes players vencerão", diz.
Otero acredita que, embora o mercado já tenha impulsionado as ações de tecnologia para novas máximas, esse movimento está apenas no início. "Não há dúvidas de que esse será um tema para décadas. Essas empresas continuarão a se valorizar mais que a média por muitos anos, a perder de vista", afirma.