Este banco estrangeiro está comprado em real. Conheça as razões
Banco de investimento de Wall Street destaca em relatório que clientes estão reticentes em assumir posição que implica expectativa de queda dos juros
Da Redação
Publicado em 18 de setembro de 2021 às 08h45.
Acertar a direção do dólar e a cotação ao fim do ano se tornou uma das tarefas mais desafiadoras do mercado em 2021. Na semana que passou, o ministro da Economia, Paulo Guedes , disse que o câmbio de equilíbrio deveria estar entre 3,80 e 4,20 reais não fosse o " barulho político " -- as declarações foram dadas no MacroDay, promovido pelo BTG Pactual .
O fato é que, depois de ser negociado abaixo do patamar de 5,00 reais no fim de junho, o dólar voltou a se fortalecer em relação à moeda brasileira nos últimos meses. Na sexta-feira, dia 17, encerrou com cotação de 5,28 reais.
Mas estrategistas do Citi decidiram manter a recomendação "overweight" (acima da média) para o real, bem como para moedas de mercados emergentes, citando que no caso brasileiro a comunicação do Banco Centra l continua "hawkish" (inclinada a mais altas de juros). Isso deve seguir como o principal determinante do câmbio no curto prazo, disseram em relatório.
A taxa Selic está em 5,25% ao ano e, segundo projeções do boletim Focus, do Banco Central, deve chegar ao fim de 2021 em 8,00%.
Em meio a riscos de menor crescimento da economia doméstica em 2022 e inflação mais alta -- há especialistas que alertam para estagflação --, tendo como pano de fundo externo a iminência do início de redução de estímulos pelo Fed, os profissionais do Citi avaliam que o principal risco para a taxa de câmbio segue do lado das contas públicas.
Na América Latina, o Citi se diz "levemente vendido" em dólar (ou seja, apostando na queda da moeda) dentro da carteira de bônus da região e ainda "comprado" (vendo movimento de alta) no real e no peso uruguaio.
Na região conhecida pelo acrônimo CEEMEA (Europa, África e Oriente Médio), o banco segue vendo ganhos para rublo russo e rand sul-africano. Na Ásia, as apostas são em iuan chinês e ringgit malaio contra peso filipino e baht tailandês.
Posição em juros
Em relação ao mercado de renda fixa do Brasil, os estrategistas do Citi dizem ter notado clientes "reticentes" para assumir posições "doadas" de juros -- ou seja, que ganham com a queda nas taxas. É uma postura mais visível entre os investidores locais.
Os motivos vão desde o receio antes da leitura do IPCA de setembro até a deterioração das expectativas de inflação para 2022 -- a projeção passou de 3,90% há quatro semanas para 4,03% na mais recente, segundo o boletim Focus --, passando pelo temor em torno da mudança nas regras de pagamento dos precatórios.
Profissionais de mercado observaram que a queda dos contratos DIs depois da divulgação da carta do presidente Jair Bolsonaro à nação no último dia 9 foi predominantemente ditada por redução de posições tomadoras de juros do que por abertura de posições doadoras.
A carta que sinalizou uma trégua com os demais Poderes e, em especial, com o Supremo Tribunal Federal se seguiu a uma péssima reação de investidores e políticos ao discurso do presidente no feriado de 7 de Setembro, com ataques ao STF e à ordem democrática.
"Por fim, destacamos que o IPCA deve agora atingir o pico em setembro, e não em agosto. Isso empurra um pouco mais para a frente quaisquer janelas para se iniciar posições doadoras em juros com base na lógica que se deve vender taxa quando o IPCA atinge o pico", disseram os estrategistas no relatório.
O IPCA de agosto veio bem acima do esperado, em 0,87%. Foi a taxa mais alta para o mês desde 2000 e, na variação acumulada em 12 meses, a inflação ficou perto de dois dígitos, em 9,68%. O IPCA de setembro será divulgado pelo IBGE em 8 de outubro.
(Com a Reuters)