Entre rentabilidade e volume, mercado segue cético com a Cielo
Empresa de pagamentos cresceu em receita, mas decepcionou no volume financeiro transacionado
Repórter de Invest
Publicado em 2 de agosto de 2023 às 13h22.
Na guerra das maquininhas, a empresa de pagamentos Cielo ( CIEL3 ) apostou suas fichas na recuperação da rentabilidade – estratégia que tem dado frutos, mas já começa a sofrer questionamentos.A companhia apresentou ontem seu oitavo resultado trimestral consecutivo de expansão anual do lucro, que atingiu R$ 486 milhões no segundo trimestre. Ainda assim, o mercado está com uma pulga atrás da orelha com a Cielo, de olho no volume de pagamentos que segue caindo.
O volume total de pagamentos (TPV, na sigla em inglês) ficou em R$ 195,83 bilhões, uma queda de 11,4% na comparação anual e 2,6% frente ao trimestre anterior. O saldo acompanha uma perda de clientes no período e reage ainda a um cenário macroeconômico difícil. A companhia fechou a janela entre abril e junho com 958 mil clientes ativos, uma baixa de 13% ante o mesmo período do ano passado e de 5% contra o primeiro trimestre deste ano – a quinta queda trimestral consecutiva.
O tema foi o grande questionamento de analistas naconferência da diretoria da Cielo que discutiu os resultados na manhã desta quarta-feira, 2. Perguntado a respeito, o CEO da companhia, Estanislau Bassols, afirmou que a empresa continua buscando volume. O desafio é equilibrar a busca com a política de rentabilidade.
“Não vamos mudar a nossa estratégia de preço. A maneira pela qual buscamos eficiência e rentabilidade continua. Dito isso, vemos uma estabilização na base de TPV no segundo semestre do ano”, disse.
Um dos fatores que indicariam essa estabilização é o processo que a Cielo chama de “limpeza da base”, especialmente no segmento de varejo com menor faturamento. Isso porque a busca por rentabilidade trouxe um efeito inesperado: os clientes de faturamento mais baixo são sim mais rentáveis, porém demandam maior contato e tem chance mais alta de falir. A empresa achou que o desafio não compensava, e voltou suas atenções para clientes maiores. A mudança só deve se refletir nos números de forma mais clara nos próximos resultados.
Reação nos mercados: ação desaba 8%
As ações da Cielo operam em queda de quase 8% na bolsa de valores por volta das 13h, com investidores reagindo ao balanço. A surpresa negativa com o TPV se uniu a um momento mais desafiador para o negócio das adquirentes, que exige maiores gastos de capital para conquistar os volumes perdidos. Nesse cenário aCateno, negócio de gestão de cartões da Cielo, ganha mais relevância.
“Isso cria um ciclo vicioso, sugerindo que a Cateno, forte geradora de caixa, pode estar subsidiando o braço adquirente – que já era visto como um gerador de baixo valor e parece estar piorando ainda mais”, afirmaram, em relatório, os analistas do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME ).
O BTG mantém a recomendação de compra para os papéis, considerando especialmente o potencial de valor da Cateno e o valuation da ação, que segue atrativo na visão do banco. O Itaú BBA, por outro lado, acredita que o papel já está negociada a um preço justo, e que deve ter dificuldade para subir nos próximos meses. O BTG tem preço-alvo de R$ 7 para Cielo, e o BBA, de R$ 5,1. A ação é negociada hoje por volta dos R$ 4,33.
Outro ponto levantado por analistas é a até onde vai a tendência positiva nos númeors da Cielo. “Apesar do grande avanço na precificação e penetração de produtos de pré-pagamento, os volumes foram bem fracos, levantando-se dúvidas em torno de uma robusta recuperação esse ano – principalmente se a competição começar a acirrar no rentável meio da pirâmide de clientes com uma guerra de preços”, informou relatório da Genial Investimentos.
Na disputa por mercado, a estratégia da Cielo é reforçar o time de vendas em mil novos funcionários no segmento que atua diretamente com os bancos parceiros – grande diferencial da adquirente frente às rivais independentes comorivais como a PagSeguro e a Stone . Na projeção da companhia, a produtividade do modelo de atuação direta com os bancos pode ser até duas vezes maior.