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O despertar do ouro: por que a cotação voltou a subir após sete meses de queda

As cotações do mineral precioso subiram cerca de 10% na última semana, mas o mercado continua de olho no comportamento do Fed

Ouro (KTSDESIGN/SCIENCE PHOTO LIBRARY/Getty Images)

Ouro (KTSDESIGN/SCIENCE PHOTO LIBRARY/Getty Images)

Após sete meses em queda livre, a cotação do ouro recuperou repentinamente sua força. Na última semana o mineral precioso valorizou cerca de 10%, o melhor desempenho em sete dias desde março de 2020, quando explodiu a pandemia do novo coronavírus (Covid-19).

Uma recuperação notável, ainda mais marcante se comparada com a série negativa iniciada em fevereiro, a pior queda desde 1869, segundo os dados compilados pelo Deutsche Bank.

A forte alta das taxas de juros operada pelos Bancos Centrais do mundo inteiro, em particular pelo Federal Reserve (Fed), exerceu uma forte influência baixista sobre a cotação do ouro.

Tão forte que durante meses essa influência superou todos os fatores que deveriam levar o ouro para as alturas, como a inflação galopante no mundo inteiro, a e forte instabilidade geopolítica. Elementos que empurram naturalmente os capitais para ativos considerados portos seguros.

A reviravolta do ouro foi rápida, com a cotação do mineral retomando valor e superando resistências técnicas que barravam o caminho para o patamar psicológico de US$ 1,8 mil a onça. Os demais metais preciosos também subiram, com a prata voando acima de US$ 22 a onça, recorde dos últimos cinco meses, e a platina em patamares não alcançados há 8 meses, acima de US$ mil.

Reviravolta do ouro veio para ficar?

A pergunta que o mercado está se fazendo é se o setor já superou as baixas. Mesmo que o cenário pareça estar evoluindo – com alguns elementos novos que poderiam dar sustentação aos preços – quem ditará o ritmo do mercado nos próximos meses vai continuar sendo o Fed, com o desempenho do ouro que dependerá sobretudo do andamento da política monetária.

O verdadeiro ponto de virada nos últimos dias foi a percepção de um banco central dos EUA um pouco menos "hawkish". Vários diretores do Fed, incluindo o vice-presidente Lael Brainard, abriram para a possibilidade de um ritmo mais lento de alta das taxas de juros. As expectativas se reforçaram com os claros sinais de arrefecimento da inflação americana, graças a dados melhores que o esperado divulgados na última terça-feira, 15.

Com isso, o mercado está apostando em uma alta de 50 pontos-base dos juros em dezembro, mais leve do que o aperto de 75 pontos-base feito por quatro meses consecutivos.

A mudança de cenário provocou uma queda rápida no rendimento dos títulos do títulos do Tesouro americano com vencimento em dez anos (Treasuries), o dólar perdeu força e o ouro se movimentou na direção oposta, exatamente como previsto nos manuais de economia.

Nada de surpreendente, portanto. Mas o rali do ouro poderá diminuir rapidamente assim que a menor agressividade do Fed for precificada. Ou, pior, se o Banco Central americano mudar sua abordagem.

Todavia, existem também outros fatores potencialmente otimistas para o ouro. Entre eles, a acumulação sem precedentes de reservas de ouro pelos Bancos Centrais: no terceiro trimestre houve compras de quase 400 toneladas, três quartos das quais "fantasmas", ou seja sem destinação clara. Há boatos que teriam acabado nos cofres da Rússia e da China.

No mesmo período, o World Gold Council também destacou um boom nas compras de lingotes e moedas por investimento, +36%, chegando em 351 toneladas. Um recorde desde 2011, que contrasta com os resgates contínuos de ETFs, que perderam US$ 15 bilhões nos últimos seis meses.

A alta do ouro provavelmente continuará sendo favorecida pelo desastre das criptomoedas, que alguns consideraram uma alternativa válida ao mineral precioso. O Bitcoin já perdeu mais de 75% das máximas de um ano atrás e o escândalo Ftx pode ter dado o golpe de misericórdia, trazendo os investidores de volta para "ativos portos seguros" mais testados.

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