Cotação do ouro (Getty/Getty Images)
A cotação do ouro despencou nos últimos seis meses, perdendo mais de 20% de seu valor desde março.
Uma situação peculiar para o metal considerado o ativo "porto seguro" por excelência, que deveria ter registrado um movimento oposto, considerando as turbulências geopolíticas e econômicas que o mundo está vivendo.
Além disso, o ouro tende a ser um investimento válido para se proteger da inflação. Mas em um momento de alta generalizada dos preços, a cotação do metal acabou despencando.
As cotações do ouro dispararam no início de março, à medida que aumentavam os temores sobre as consequências da invasão da Ucrânia pela Rússia. Desde então, no entanto, outras dinâmicas de mercado vieram à tona.
Em primeiro lugar, pesou o efeito da alta dos juros por parte do Federal Reserve (Fed), que na semana passada elevou as taxas de 0,75 pontos percentuais pela terceira vez consecutiva.
O banco central dos Estados Unidos tem elevado agressivamente os juros tentando reduzir a inflação, que permanece alta, demostrando uma resistência inesperada. Alimentada principalmente pelos efeitos da guerra na Ucrânia, que elevou os preços dos alimentos e da energia elétrica.
Com essa política monetária restritiva, o dólar está ganhando cada vez mais força, subindo 16% somente este ano em relação a uma cesta das principais moedas, chegando a seu maior nível nas últimas duas décadas.
Essa conjuntura prejudicou o mercado acionário, mas também afetou a cotação do ouro. Isso pois as transações de commodities, como o ouro, são realizadas normalmente em dólares. E uma moeda mais forte acaba encarecendo também o valor das commodities, reduzindo assim a demanda e empurrando os preços para baixo.
E considerando que 50% da demanda global de ouro vem de compradores na China e na Índia, a forte valorização do dólar americano foi um vento contrário para a cotação do ouro.
Outro fator que está pesando na cotação do ouro é a alta dos rendimentos dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, que passaram de 1,5% no começo do ano para mais de 4% na última semana.
Os Treasuries, os títulos do Tesouro dos Estados Unidos, também concorrem com o ouro como um investimento considerado "porto seguro". E quando os investidores podem obter melhores retornos sobre os primeiros, o último parece muito menos atraente. Especialmente pelo fato que ouro não paga juros, e Treasuries sim.
Mas além do Fed, outros Bancos Centrais do mundo inteiro estão dando sinais claros que o ciclo de aperto monetário não vai terminar tão cedo. A prioridade nos próximos meses e anos será combater a inflação.
O Banco Central Europeu (BCE) também aumentou os juros da Zona do Euro para o maior nível dos últimos dez anos. Assim como o Banco da Inglaterra, aumentou as taxas de juros no Reino Unido para seu nível mais alto desde 2008. Os Bancos Centrais da Suécia, Indonésia, Vietnã, Noruega e Suíça fizeram o mesmo.
Por isso, é muito improvável que a cotação do ouro consiga se recuperar no curto prazo. Aliás, poderia cair muito ais.
O relatório semanal Commitments of Traders (COT) da Commodity Futures Trading Commission (CFTC) dos Estados Unidos, que fornece uma análise detalhada das posições líquidas das instituições nos mercados de futuros, mostra que a posição institucional a favor do Ouro diminuiu 11,72% na última semana, passando de 117,7 mil para 103,9 mil.
Isso poderia dar o ulterior impulso de baixa necessário para a cotação do ouro, já que os traders usam esses dados para descobrir qual posição tomar no mercado, piorando a situação.
A cotação do ouro acabou de cair abaixo do nível psicológico de US$ 1,7 mil, o que era considerado por muitos analistas como a última grande resistência antes da possível capitulação. O mercado está aguardando para entender até quando essa queda pode ir.