Edifício-Sede do Banco Central: Copom decide manter taxa em 13,75% em decisão com dois votos contrários (./Exame)
Beatriz Quesada
Publicado em 21 de setembro de 2022 às 20h09.
Última atualização em 21 de setembro de 2022 às 20h14.
Chegou ao fim o ciclo de alta da taxa básica de juros, a Selic. Nesta quarta-feira, 21, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central confirmou a manutenção da taxa em 13,75% ao ano, mesmo patamar da última reunião.
Esta foi a primeira vez que o BC manteve a taxa de juros estável desde janeiro do último ano. Desde então, foram doze altas consecutivas, que levaram a Selic para seu maior patamar desde 2016.
Na última reunião, o BC havia elevado a Selic 0,5 p.p. e deixado a porta aberta para uma nova elevação de menor magnitude – ou seja, de 0,25%. Não foi o que ocorreu. O Comitê afirmou, no entanto, que se manterá vigilante e “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”.
Em agosto, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou negativo em 0,36% – no segundo mês seguido de deflação amparada na queda dos preços de combustíveis e energia.
Confira 5 opiniões do mercado sobre a decisão do Copom:
Paulo Henrique Duarte, economista da Valor Investimentos, lembra que o Banco Central brasileiro iniciou o ciclo de aperto monetário antes de outros pares globais, como os Estados Unidos.
“O Brasil é um País que, infelizmente, tem experiência no combate à inflação. Isso fez o BC tomar a decisão acertada de sair à frente de outros bancos centrais ao redor do mundo”, avalia.
A decisão de manutenção da taxa era esperada pelo mercado, e foi acompanhada de um comunicado considerado ‘hawkish’, ou seja, favorável a juros mais altos. João Savignon, economista da gestora Kínitro Capital, destaca dois pontos mais duros do comunicado.
O primeiro é o fato de que a decisão não foi unânime: dois dos nove membros do Comitê votaram por uma alta residual de 0,25 p.p. na taxa. O segundo é o trecho em que o BC afirma que pode voltar a subir os juros caso a deflação se reverta.
“Esses são elementos que podem ser considerados mais 'hawkish' (ou duros) no comunicado. No geral, o Copom reforçou o seu plano de voo de manter os juros elevados por um período prolongado de tempo”, afirma.
O tom mais duro do comunicado tem explicação e, segundo Nicolas Borsoi, economista-chefe da corretora Nova Futura, não envolve novas altas de juros.
“Acreditamos que o sinal do texto é de evitar que o mercado precifique cortes prematuros na curva de juros e, com isso, ocorra um alívio nas condições financeiras atuais, frustrando os esforços recentes do comitê. Em nosso cenário, o Copom deve manter a Selic em 13,75% até o segundo trimestre de 2023, pelo menos”, diz.
Para analistas, o principal ponto de debate com a decisão de hoje é entender até quando o Banco Central pretende manter os juros em 13,75% ao ano.
“O debate agora ficará voltado para o tempo que o BC deve manter os juros no patamar atual. A respeito do tema, o BC fez comentários vagos. Nas nossas projeções, alteramos as projeções de Selic para 13,75% no final deste ano e 11% no final de 2023”, afirma Luca Mercadante, economista da gestora Rio Bravo.
Para Bruno Viotto, economista e sócio da Acqua Vero Investimentos, o fim do ciclo de alta de juros é uma sinalização positiva para a renda variável, em especial para setores que vinham sofrendo com os juros altos, como o varejo. São companhias especialmente prejudicadas pela inflação e pelo corte no poder de consumo causado pelos juros mais altos.
“O varejo é um setor que sofreu muito com a alta dos juros e já começa a se recuperar com a perspectiva de encerramento do ciclo. Tanto que os papéis da Magazine Luiza subiram 6,5% hoje”, defende.
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