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Como a decisão do Fed afeta os mercados? Analistas respondem

Fed mantém política econômica mas sinaliza alta de juros a partir de 2023; decisão derrubou bolsas nos EUA e no Brasil

Mercados globais de ações e o fluxo de capital de economias emergentes podem ser afetados | Foto: Ricardo Moraes/Reuters (Ricardo Moraes/Reuters)

Mercados globais de ações e o fluxo de capital de economias emergentes podem ser afetados | Foto: Ricardo Moraes/Reuters (Ricardo Moraes/Reuters)

BQ

Beatriz Quesada

Publicado em 17 de junho de 2021 às 06h05.

Última atualização em 17 de junho de 2021 às 10h47.

O Federal Reserve (Fed, banco central americano) surpreendeu o mercado com sua decisão de política monetária nesta quarta-feira, 16 de junho. Na verdade, não com a decisão em si. Como era amplamente esperado, a instituição manteve a taxa de juros entre zero e 0,25%. Já o programa de compra de títulos, que era visto como um possível ponto de alteração, também foi mantido, com a continuidade das compras de 120 bilhões de dólares mensais em ativos.

Sem alterações na política monetária vigente, investidores se concentraram em mudanças importantes no comunicado que saiu com a decisão, que revelou como o Fed espera agir daqui para frente.

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A principal novidade foi a antecipação para 2023 do primeiro aumento nas taxas de juros pós-pandemia. As novas projeções apontam que uma maioria de 11 integrantes do Fomc (o comitê federal de mercado aberto) do banco central americano já enxergam dois aumentos de 0,25 ponto percentual nas taxas de juros para 2023. Até então, o mercado considerava que as taxas só começariam a subir em 2024.

Em discurso após a divulgação, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que autoridades também já começaram uma discussão sobre a redução das compras de títulos, mas que qualquer mudança será anunciada de forma bastante antecipada.

O Fed também revisou sua expectativa de inflação de 2,2% para 3% em 2021 e afirmou trabalhar com um cenário de três anos de inflação acima da meta de 2% ao ano estabelecida pela autoridade. 

Os aumentos de preços ainda foram descritos como "transitórios", pois estariam atrelados ao crescimento econômico dos EUA no pós-pandemia, que deve se estabilizar com o tempo. O indicador também foi revisado para cima, com a expectativa de avanço do PIB subindo de 6,5% para 7%. 

Ainda assim, as novas projeções sugerem que o superaquecimento da economia está cada vez mais no radar do Fomc, comitê responsável por definir a política monetária americana. 

“O conhecido gráfico de pontos das expectativas dos membros individuais do Comitê mostra agora duas altas em 2023. A possibilidade de aumento nos juros americanos mais cedo do que se estimava já é o suficiente para impactar, em certa medida, os ativos de risco, como os mercados globais de ações e o fluxo de capital de economias emergentes”, afirma Paloma Brum, analista da Toro Investimentos.

A decisão derrubou o Ibovespa, que encerrou o dia em queda de 0,64%, aos 129.259 pontos. Nos EUA, os principais índices também fecharam em terreno negativo, com o Dow Jones recuando 0,77%, o S&P 500 caindo 0,54%, e o índice de tecnologia Nasdaq em baixa de 0,24%. 

Já o rendimento do título de 10 anos do Tesouro americano (Treasury) -- utilizado como termômetro dos juros de longo prazo e da expectativa de inflação -- subiu cinco pontos-base, para 1,561%. A decisão também impactou o dólar, que se valorizou quase 1% frente a outras moedas fortes. Contra o real, a divisa subiu 0,34%, fechando a sessão negociada a 5,060 reais. 

“A decisão do Fed não surpreende, mas as perspectivas [de aumento de juros já para 2023] trazem uma quebra de expectativa para o mercado. Tanto que a bolsa passou por um momento de realização após o anúncio, enquanto o rendimento das treasuries subiu”, acrescenta Paulo Duarte, economista da Valor Investimentos.

Para o economista, a divulgação deve continuar a impactar as bolsas nas próximas semanas. “O Fed continua afirmando que as pressões inflacionárias são passageiras e que fazem parte da normalização econômica que deve ser mitigada no longo prazo. E o mercado segue acreditando que a inflação está muito alta, o que poderia demonstrar que o Fed está ficando para trás no aumento da curva [de juros]”, afirma.

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