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Coisas estranhas em Wall Street: séries podem derrubar ações da Netflix

Estudo liga estreias à meia-noite a quedas no S&P 500; na mesma semana, Netflix perde força na bolsa ao enfrentar guerra por Warner com a Paramount

Stranger Things: sucesso global da Netflix gerou milhões em receitas (Netflix/Reprodução)

Stranger Things: sucesso global da Netflix gerou milhões em receitas (Netflix/Reprodução)

Publicado em 9 de dezembro de 2025 às 06h16.

Maratonar séries da Netflix (NFLX), como Stranger Things, pode não ser uma boa notícia para o mercado financeiro. Um estudo recente mostra que os lançamentos à meia-noite de títulos populares provocam uma queda média de 0,25% no S&P 500 no pregão seguinte. O impacto anual acumulado gira em torno de 2,3%, considerando uma média de dez estreias por ano.

A pesquisa foi conduzida por Arbab Cheema, Arman Eshraghi, Raghavendra Rau e Qingwei Wang, que analisaram mais de 50 lançamentos de séries ao longo de uma década. Entre os títulos considerados estão Cobra Kai, Peaky Blinders, Dopesick, Sense8 e The Great British Baking Show.

A hipótese dos autores é que o hábito de assistir a uma temporada completa logo na noite da estreia (o chamado binge-watching) gera privação de sono entre profissionais do mercado financeiro, o que afeta a sua capacidade cognitiva no dia seguinte. Esse cansaço se traduz em maior aversão ao risco e decisões simplificadas, como a venda de ativos.

Onde o impacto é maior?

Ao contrário de estudos anteriores, que indicavam maior sensibilidade entre ações de pequenas empresas, mais populares entre investidores pessoa física, o novo levantamento identificou efeito mais forte em papéis de grande capitalização e alta participação institucional.

Segundo os autores, traders profissionais já dormem menos que a média da população, e por isso são mais suscetíveis aos efeitos de noites mal dormidas. Os papéis costumam ter baixa fricção operacional, como spreads menores e custos de corretagem reduzidos, o que facilita decisões de venda imediata.

A pesquisa também sugere uma alocação assimétrica de recursos cognitivos por parte de investidores privados de sono, que passam a tomar decisões rápidas e defensivas. Isso explicaria o movimento de baixa logo após noites de maratona de estreias, mesmo sem um gatilho econômico evidente.

Os autores não descartam que o fenômeno vá além do mercado financeiro. O modelo pode abrir caminho para investigar os efeitos econômicos e sociais dos lançamentos noturnos em massa promovidos por plataformas de streaming.

De controle em controle

De fato, coisas estranhas acontecem com a Netflix sempre que uma nova temporada de Stranger Things é lançada — e nem todas são negativas.

A 5ª temporada, lançada no final de novembro, somou 59,6 milhões de visualizações em cinco dias, a maior estreia de uma série em inglês no serviço.

Desde o início, em julho de 2016, a produção acompanhou a fase de expansão mais intensa da empresa. A base global de assinantes cresceu de 79,9 milhões em 2016 para 99 milhões em 2017, alta de 23,9%. A trajetória continuou com 124,3 milhões em 2018, 151,5 milhões em 2019 e 260,28 milhões em 2023. Estimativas da Parrot Analytics atribuem à série cerca de 2 milhões de novas assinaturas entre 2020 e o 2º trimestre de 2025.

A série também se refletiu nos resultados financeiros. A receita anual passou de US$ 8,83 bilhões em 2016 para US$ 11,69 bilhões em 2017, avanço de 32,4%. Em 2023, alcançou US$ 33,72 bilhões. Entre 2020 e o 2º trimestre de 2025, Stranger Things gerou mais de US$ 1 bilhão em receita de streaming, com projeção de ultrapassar US$ 2 bilhões ao final da franquia.

A rentabilidade avançou no mesmo período. O lucro líquido saiu de US$ 187 milhões em 2016 para US$ 559 milhões em 2017, e chegou a US$ 5,408 bilhões em 2023. O lucro operacional cresceu de US$ 380 milhões para US$ 6,661 bilhões nesse intervalo.

Uma Warner no caminho

As ações da companhia, no entanto, acumulam queda de 8,81% desde o lançamento da última temporada de Stranger Things, em 26 de novembro. Mas, neste ano, pode ser mais difícil atribuir o recuo a uma maratona de série blockbuster. Isso porque, dias antes, a Netflix anunciou a aquisição da Warner Bros. Discovery (WBD) por US$ 72 bilhões, em uma operação que inclui os estúdios Warner Bros, a plataforma HBO Max e propriedades como Harry Potter e Game of Thrones.

A notícia, no entanto, não agradou os investidores. Na segunda-feira, 8, as ações da Netflix fecharam em queda de 3,44% logo após a Paramount apresentar uma oferta hostil superior, de US$ 108,4 bilhões, para comprar toda a WBD, incluindo também os canais a cabo como CNN, TNT e Discovery. O movimento elevou as ações da Warner em 5,3% e impulsionou os papéis da própria Paramount em 7,3%.

Agora, investidores, reguladores e executivos do setor acompanham uma disputa que pode redefinir os rumos do entretenimento global. Para analistas, o embate entre Netflix, Paramount e WBD é o episódio mais decisivo até agora na chamada guerra do streaming — com potenciais efeitos sobre produção de conteúdo, distribuição, salas de cinema, política antitruste e fusões futuras.

"A aquisição da Discovery pela Warner Bros. está longe de terminar. A Paramount vai recorrer a acionistas, órgãos reguladores e políticos para tentar impedir a Netflix. A batalha pode se prolongar", disse o analista-sênior da eMarketer, Ross Benes, em entrevista à Reuters.

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