'Bolsa de Valores das Favelas' começa com dois IPOs; veja como funciona
Com autorização da Comissão de Valores Mobiliários, as primeiras ofertas públicas de ações, uma espécie de “IPO”, foram realizadas na última sexta-feira, 19
André Martins
Publicado em 22 de novembro de 2021 às 11h41.
Última atualização em 22 de novembro de 2021 às 11h43.
O G10 da favelas , bloco liderado pelas comunidades com maior potencial econômico do país, lançou em parceria com a plataforma de investimento DIVI•hub, a “Bolsa de Valores das Favelas”. Com autorização da Comissão de Valores Mobiliários, as primeiras ofertas públicas de ações, uma espécie de “IPO”, foram realizadas na última sexta-feira, 19.
O grupo de líderes das favelas, a exemplo de blocos econômicos mundiais, uniram forças em prol do desenvolvimento econômico e social dessas áreas urbanas. O bloco é formado pelas comunidades da Rocinha (RJ), Rio das Pedras (RJ), Heliópolis (SP), Paraisópolis (SP), Cidade de Deus (AM), Baixadas da Condor (PA), Baixadas da Estrada Nova Jurunas (PA), Casa Amarela (PE), Coroadinho (MA) e Sol Nascente (DF).
A Bolsa de Valores das Favelas já conta com 18 empreendimentos. As duas primeira empresas estão disponíveis para os investidores adquirirem as cotas. Ao adquirir os fundos, o investidor receberá todos os rendimentos baseados em lucros ou receitas.
O investimento se dá através da compra de DIVIs, que é uma fração de um desses negócios, pelo preço de R$ 10 cada e que já traz as formas de remuneração que o investidor terá, como uma fatia das receitas ou dos lucros. No futuro, o dono dos DIVIs também poderá negociar seus ativos com outros investidores quando quiser e ao preço que estipular, abrindo também outra frente de ganhos financeiros.
“Todo mundo vai poder ser dono de um pedacinho de um projeto do G10 Favelas e receber de volta rendimentos por isso”, disse o CEO da DIVI•hub, Ricardo Wendel, em nota. Ele acrescentou que a remuneração obtida pela empresa com a operação será doada ao G10 Favelas para a compra de cestas básicas.
Na cerimonia de inauguração da venda de ações, realizada no sábado, 20, a favela de Paraisópolis recebeu Luiza Trajano, dona do Magazine Luiza, o apresentador Luciano Huck e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes. O evento teve até o tradicional sino presente nas bolsas de Nova York e São Paulo, a B3.
O empreendimento Favela Brasil Express, criado em Paraisópolis, que existe para resolver o problema de entrega onde os Correios não entram, foi uma das empresas disponíveis para investimento. A projeção da empresa é expandir para outras regiões do Brasil, com 50 novas bases em 50 favelas do país até o fim de 2022. Hoje, a Favela Brasil Express entrega 800 encomendas por dia, apenas em Paraisópolis.
O outro negócio para investimentos, é o G10 Bank, banco digital que nasceu este ano e pretende ser o BNDES das favelas,uma instituição financeira que pretende ser um gerador do crédito nas periferias.
O empreendedorismo é uma realidade nas favelas. Segundo dados do instituto de pesquisas Outdoor Social Inteligência, levantados em 2021, dos mais de 289 mil comércios registrados em 6 mil comunidades de todo o Brasil, 125 mil são provenientes do G10, o que corresponde a 43,5%. De acordo com o bloco, o potencial de econômico desses comércios do G10 é de 9,9 bilhões de reais.
Para Emília Rabello, fundadora do instituto de pesquisas, movimentar a economia local e trazer a visibilidade para a potência das favelas é o que falta para a transformação das comunidades e do país. “Temos uma enorme engrenagem capaz de se manter localmente e fazer todo o território caminhar rumo à evolução econômica. São empreendimentos sólidos, que se mantiveram na crise, resistiram ao lockdown e estão mais do que aptos a alcançarem altos níveis na curva crescente de faturamento”, destaca a especialista.