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Alta da bolsa vai depender de estrangeiros – e por que isso é uma boa notícia

Queda de juros nos Estados Unidos deve seguir aumentando fluxo de capital internacional, que representa metade do volume de negócios da B3 e ganha ainda mais relevância diante dos resgates de fundos domésticos

B3: bolsa vem operando próxima de níveis recordes, apoiada por entrada de estrangeiros (Germano Lüders/Exame)

Publicado em 2 de setembro de 2024 às 16h37.

A bolsa brasileira encerrou agosto com a melhor performance mensal desde novembro, com uma alta de 6,53% no mês. Ambos os ralis foram impulsionados pela expectativa de um iminente corte na taxa de juros dos Estados Unidos. A diferença agora é que não há dúvidas: o ciclo de queda vai começar.

O ponto de incerteza é sobre até quanto (ou quando) os fed funds, hoje no intervalo de 5,25% a 5,5%, vão cair. Não há consenso nem mesmo sobre o primeiro corte. O mercado precifica 69% de chance de uma redução de 25 pontos-base (bps) contra 31% de um corte mais agressivo, de 50 bps.

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O estrangeiro colocou R$ 10 bilhões na bolsa brasileira em agosto, o maior ingresso desde o fim do ano passado. O saldo em dois meses está em R$ 17,4 bilhões, insuficiente para apagar a saída de R$ 38,9 bilhões do primeiro semestre, mas o bastante para impulsionar a bolsa de volta a níveis recordes.

Rafael Oliveira, gestor de ações da Kinea Investimentos, projeta uma entradade capital externo mais maciça na bolsa brasileira a partir do início dos cortes de juros nos Estados Unidos.

“Deve haver um fluxo grande de investidores dos Estados Unidos para o Brasil e outros países emergentes. Esse fluxo também tende a apreciar o real”, disse o gestor em entrevista ao Vozes do Mercado.

A correlação entre o ingresso de estrangeiros e as recentes altas do índice MSCI Brazil ficou em 0,9 e em 0,5 em relação ao Ibovespa, segundo cálculos do Itaú BBA. O MSCI Brazil é o índice que serve de espelho para o ETF EWZ, com US$ 4,1 bilhões sob gestão e negociado nos Estados Unidos. O maior ETF do Ibovespa negociado no Brasil é o BOVA11, com menos da metade do tamanho.

No mercado interno, os estrangeiros representam 54,6% do volume negociado na bolsa. Em 2020, essa proporção era de 46,6%.

“A dependência dos fluxos estrangeiros pode ser parcialmente atribuída à dinâmica difícil da indústria de fundos local, que sofre com resgates. Outro motivo são as taxas de juros elevadas, gerando retornos de dois dígitos em ativos de renda fixa”, afirmam analistas do Itaú BBA.

Resgates de fundos

Apesar de um agosto positivo para a bolsa, fundos de ações e multimercados tiveram mais um mês de resgates. Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), a saída de fundos de ações ficou em R$ 3,25 bilhões no mês, enquanto os saques dos multimercados chegaram a R$ 42,6 bilhões em agosto e a R$ 148 bilhões no ano.

Fontes ouvidas pela EXAME afirmam que o desempenho aquém do esperado de grandes fundos e a competição com a renda fixa têm puxado a saída dos multimercados.

A captação de fundos de renda fixa está em nível recorde, com saldo positivo de R$ 327 bilhões no ano. Até então, o ano de maior entrada havia sido 2021, com o ingresso de R$ 240 bilhões.

Com a taxa Selic, hoje em 13,75%, voltando a subir, há baixa expectativa para uma volta mais expressiva de investidores brasileiros para a bolsa no curtíssimo prazo. No mercado de opções, investidores precificam uma chance de apenas 14% de o Comitê de Política Monetária (Copom) não subir o juro na próxima reunião.

Motivos para otimismo?

Apesar da alta de juros tornar o ambiente mais competitivo com a renda fixa, gestores afirmam que há motivos técnicos para otimismo com a bolsa. Uma das justificativas é o preço das ações, que seguem abaixo do preço/lucro (P/L) histórico. O EWZ, por exemplo, tem rodado a um P/L de 7,87 vezes contra a média de dez anos de 10,20 vezes.

Por essa ótica, em algum momento, os preços tenderiam a convergir à média, o que tornaria as empresas mais caras em relação aos lucros reportados. Mas ainda há expectativas de um fortalecimento do lucro das empresas.

Além do crescimento acima do esperado da economia brasileira, parte do mercado se apoia na expectativa de que a alta de juros esperada pelo Banco Central seja expansionista por forçar a queda dos juros longos.

“A alta de juros será positiva para ativos de risco, para a bolsa e o mercado financeiro. O BC vai subir a Selic para 11% ou 12%. Mas a taxa longa, em vez de ir para 13%, vai para 10%, porque vai abrir espaço para cortes no futuro”, afirmou um gestor de ações à Exame. “O que importa quando faço a conta do valor justo de uma ação é a taxa de longo prazo, não a de curto.”

Ações mais atrativas e a expectativa de valorização do real por uma taxa de juros mais alta são um prato cheio para o investidor estrangeiro, que, apesar das apostas táticas, ainda amarga perdas consideráveis no longo prazo. Em dólar, a bolsa brasileira ainda está 45% abaixo dos níveis históricos de 2008. Para voltar àquele patamar, a entrada de estrangeiros terá um papel crucial.

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