Abílio Diniz: tenho um pouco de receio de como vão fazer a reforma tributária (./Getty Images)
Sócio e conselheiro do Carrefour, o empresário Abílio Diniz é otimista com o Brasil, disse ele em apresentação em sala cheia de um evento promovido nesta terça-feira, 31, pelo banco de investimentos Credit Suisse. Seu receio, no entanto, é de que a reforma tributária proposta pelo governo Lula seja no modelo "Robin Hood": "que tire dos ricos para dar aos pobres", como ele definiu.
"A tributação de dividendos dever ser feita acima da pessoa jurídica, para haver compensação. Não sobre a pessoa física. Tenho um pouco de receio de como vão fazer a reforma tributária", disse. Diversos países tributam dividendos, mas o tema é mesmo complexo. Acadêmicos apontam que a ausência de tributação incentiva a distribuição, enquanto a tributação estimula investimentos.
O empresário estava acompanhado de Rubens Menin, fundador e presidente do conselho da construtora MRV, além do banco Inter. "A carga tributária no Brasil chegou no limite, não tem mais espaço para subir. Chegou num ponto que começa a ter evasão. Precisa melhora a carga e a base de arrecadação", disse Menin. Em sua opinião, dificilmente vai sair uma reforma tributária ampla, "mas dois passos é melhor do que nenhum".
Defendida pelos empresários, a reforma tributária foi apontada pelos dois como uma pauta necessária e urgente no país que, agora não deve falar em "revanchismo", segundo Diniz. "Temos instituições fortes, muito fortes", argumentou destacando a importância da segurança política para o ambiente de negócios. "Instabilidade política se esquece rapidamente, daqui para frente se precisa de algo tranquilo."
Dos BRICS (grupo composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o Brasil é o melhor ambiente para o investimento estrangeiro, argumenta Menin. "O mundo tem dinheiro e os investidores querem investir. É o trabalho deles", acrescenta o Diniz, destacando que o presidente Lula é "uma pessoa pragmática". "Mas não dá para pensar em crescimento só com o estatal. Tem que pensar no capital privado."
Em 2007, quando a MRV fez IPO, 85% dos investimentos vinham dos estrangeiros, argumenta Menin. "Nos mais recentes, estrangeiros estão entrando com 30% até 40% dependendo do setor. Claro, a indústria de fundos também cresceu aqui. Mas naquela época o gringo queria muito investir no Brasil."
Para aumentar a atratividade do ambiente de negócios brasileiro, os dois empresários argumentam que é preciso que a taxa de juros comece a ceder ou dê sinais de que essa queda está próxima. "Sou 100% favorável a um Banco Central independente, mas temos juros altíssimos. Raramente tivemos juros real igual a 8%. Isso é muito. Sangra as famílias, as empresas. Juros altos são medicamento, mas não podem ser muito longos porque acabam matando o paciente", afirma Menin.