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A "morte" do Credit Suisse e o nascimento de uma nova crise no setor bancário

Turbulência deve levar a maior escrutínio e exigir mais jogo de cintura dos bancos centrais nas políticas monetárias

Credit Suisse, uma crise nova dos bancos (Arnd Wiegmann/Reuters)

Credit Suisse, uma crise nova dos bancos (Arnd Wiegmann/Reuters)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 20 de março de 2023 às 14h58.

Última atualização em 20 de março de 2023 às 15h39.

O título da reportagem do Wall Street Journal (WSJ) é forte: "A morte do Credit Suisse origina um novo tipo de crise bancária" (Credit Suisse’s Death Gives Birth to New Type of Bank Crisis, no original). Embora dura, a frase sintetiza o que está no radar dos agentes de mercado. Ou seja, a tentativa das autoridades suíças de trazer alívio com o anúncio da compra do Credit pelo UBS pode ter sido insuficiente para que os investidores tirassem as barbas de molho.

Presidente do Queens' College, em Cambridge, e principal consultor econômico da Allianz, o economista Mohamed A. El-Erian escreveu em seu perfil no Twitter que a evolução da turbulência do setor bancário deixou a sensação de enxugar gelo. Ainda que a novidade diminua o risco de contágio, o mercado olha para os outros problemas que estão no radar, como o First Republic Bank, que apesar de ter conseguido socorro de US$ 30 bilhões de grandes bancos americanos, ainda enfrente dificuldades de liquidez.

Segundo El-Erian, a "turbulência bancária" intensifica a necessidade de uma melhor formulação de políticas do Federal Reserve. "Uma âncora mais firme é necessária para lidar com o trilema da política sobre a economia dos EUA", escreveu o economista.

Por que a compra do Credit Suisse dá sinais de uma crise diferente de 2008?

A primeira lição, mostram Stephen Wilmot e Telis Demos em sue artigo no WSJ é que a última linha do balanço dos bancos não é tão tangível quanto se supunha.

O UBS concordou em comprar o Credit Suisse a 7% do valor contábil tangível, algo que traria enorme margem de segurança para o comprador. Em teoria, o valor contábil tangível do UBS vai aumentar 74%. Mas o banco terá que absorver 5 bilhões de francos suíços em perdas do Credit enquanto as autoridades suíças absorverão 9 bilhões, mas se as perdas forem maiores, o UBS e o governo terão de dividir os prejuízos.

Além disso, os US$ 45 bilhões de valor tangível podem se perder gradualmente ao longo do balanço do Credit Suisse.

Mas uma das principais diferenças está nos títulos de alto risco AT1. Os AT1 fazem parte de um amortecedor de dívida e patrimônio destinado a evitar que os contribuintes tenham que arcar com a conta do colapso de um banco. Esse tipo de dívida foi introduzido na Europa depois da crise de 2008 e é uma forma de título que pode ser convertido em patrimônio caso o banco tenha problemas.

Enquanto os acionistas do Credit Suisse saem com algumas ações do UBS, os detentores dos títulos de resgate são eliminados, dado que o regulador suíço determinou que os 16 bilhões de francos suíços nesse tipo de dívida sejam zerados.

Toda essa situação, destacou El-Erian em entrevista ao veículo britânico Sky News, faz com que os detentores desses "bonds" se preocuparem com a senioridade desses títulos. Isso fez com que os títulos desse tipo, que são comuns também a outros bancos, perdessem atratividade. "As pessoas estão recalibrando quanto de risco querem tomar", disse em entrevista.

O que acontece agora?

Para executivo do Banco Master, Eduardo Centola, agora o setor bancário vai passar por um período de escrutínio. "Houve proliferação no setor financeiro de tecnologia e abertura de plataformas financeiras diversificadas com base de capitais não tão fortes vai haver revisão disso. Pode haver movimento de consolidação", diz em entrevista à EXAME Invest. 

Com uma coluna no Financial Times, a jornalista com experiência na cobertura do mercado financeiro Helen Thomas propõe um debate em sua coluna desta segunda-feira no jornal britânico: quão competitiva vai ser a regulação dos bancos agora?

Um exemplo que Thomas dá é o próprio Silicon Valley Bank (SVB), que fornecia crédito a startups, cujos problemas foram agravados pelo choque da taxa de juro diante do afrouxamento das regulamentações da era Trump sobre bancos com menos de US$ 250 bilhões em ativos.

"Nos bons tempos, a ideia de “competitividade” da regulamentação bancária é usada para criticar as restrições domésticas que prejudicam o setor em comparação com outros mercados. Em tempos ruins, isso muda rapidamente: uma jurisdição bancária competitiva é aquela em que as instituições permanecem imaculadas ou ainda de pé", escreve ela.

 

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