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Novo CEO, bilhões em cortes e os planos: os detalhes da união de UBS e Credit Suisse

Negócio foi fechado a US$ 3,25 bilhões e cria um dos maiores gestores de patrimônio do mundo, com US$ 5 trilhões sob gestão

UBS compra Credit Suisse (Fabrice Coffrini/AFP)

UBS compra Credit Suisse (Fabrice Coffrini/AFP)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 19 de março de 2023 às 16h42.

Última atualização em 20 de março de 2023 às 09h02.

Os detalhes sobre a compra do Credit Suisse pelo UBS, um dos negócios mais importantes no setor bancário global nos últimos anos, começaram a ficar claros neste domingo, 19, numa corrida do governo suíço e dos dois bancos para encontrar uma solução para crise do Credit antes da abertura dos mercados na Ásia. A fusão dos dois negócios cria uma gestora de patrimônio com US$ 5 trilhões de recursos administrados, um dos maiores globalmente, com clientes não só na Europa, mas também nos Estados Unidos, Ásia, Oriente Médio e América Latina.

O valor ficou mais alto do que se previa anteriormente. As primeiras notícias davam conta de que o UBS pagaria US$ 1 bilhão pelo Credit. O valor passou a ser de mais de US$ 2 bilhões nas notícias seguintes, mas na coletiva à imprensa o valor final anunciado foi de 3 bilhões de francos suíços (algo em torno de US$ 3,2 bilhões)

A expectativa é de que a compra, que não depende de aprovação dos acionistas, seja concluida ainda no segundo trimestre deste ano (até o fim de junho).  O valor pago é equivalente a 0,76 francos suíços por ação do Credit Suisse e a relação de troca é de 22,48 ações do Credit Suisse para cada ação do UBS.

Além de suporte de liquidez e proteção financeira acordada com o banco nacional suíço, o Swiss National Bank (SNB), o UBS afirmou que vai suspender a recompra de ações para suportar a compra do Credit.

Uma saída para evitar "danos colaterais" e "contágio" no setor financeiro global

A compra foi definida pela ministra do Conselho Federal Suíço, Karin Keller-Sutter, como uma solução comercial. "Não é um resgate e, sim, um acordo comercial", disse. "Essa é uma crise de confiança, por isso o processo de aquisição não é tradicional", acrescentou Marlene Amstad, presidente da Finma, Autoridade Supervisora do Mercado Financeiro Suíço.

"Os acontecimentos recentes, começado nos títulos americanos, nos afetaram num momento inoportuno. No ano passado, conseguimos superar a perda de confiança nos mercados, mas não uma segunda vez. Desta vez, a espiral descendente da perda de confiança e a situação dos últimos dias deixaram claro que o Credit Suisse não poderia existir do jeito que está", disse o presidente do conselho do Credit Suisse, Axel Lehmann.

O SNB vai oferecer assistência de liquidez substancial para apoiar a aquisição. "É uma garantia para permitir ter liquidez", disse Keller-Sutter, destacando a proteção à economia suíça "em situação excepcional." Ainda de acordo com ela, a falência teria tido "enormes danos colaterais no mercado financeiro suíço e risco de contágio internacional".

Ambos têm acesso irrestrito às facilidades existentes do SNB, pelas quais podem obter liquidez.  Além disso, e com base em uma portaria de emergência do Conselho Federal suíço, o Credit Suisse e o UBS podem obter um empréstimo de assistência à liquidez com status de credor privilegiado em falência no valor total de até 100 bilhões de francos suíços.

Qual vai ser a estrutura da combinação entre UBS e Credit Suisse?

De acordo com os presidentes do conselho dos dois bancos, com a combinação das duas companhias, o CEO da nova empresa será o atual CEO do UBS, Ralph Hamers. O negócio também cria uma gestora de patrimônio com US$ 5 trilhões investidos, a maior do mundo.

"Os acionistas querem nosso modelo de banco de investimentos", disse o presidente do conselho do UBS, Colm Kelleher. Mas muitas coisas vão ser ajustadas. "Vamos reduzir o risco de negócios 'complicados' do Credit Suisse", disse.

A parte mais relevante dessa redução de risco está na redução do banco de investimentos do Credit. Kelleher afirmou que objetivo é alinhá-lo com nossa cultura conservadora de risco. 

Na coletiva, os representantes dos dois bancos afirmaram que a combinação levará a uma redução de custos de US$ 8 bilhões até 2027, o que incluirá empregos. Lehmann, do Credit Suisse, no entanto, buscou afirmar que "embora não tenha sido fácil, a venda foi uma boa decisão" e que os 50 mil colaboradores do Credit estavam no foco das atenções dos dois bancos.

Além disso, cerca de 16 bilhões de francos suíços (US$ 17,3 bilhões) em títulos do Credit Suisse perderam o valor após a aquisição da empresa pelo UBS. “O apoio extraordinário do governo desencadeará uma redução total do valor nominal de todas as ações AT1 do Credit Suisse no valor de cerca de 16 bilhões de francos suíços e, portanto, um aumento no capital principal.”

Em 2022, o UBS lucrou US$ 7,6 bilhões, enquanto o Credit Suisse registrou um prejuízo de US$ 7,9 bilhões. 

Por que o Credit Suisse entrou em crise?

A situação do Credit Suisse foi acentuada pela crise do Silicon Valley Bank (SVB), foi a vez do Credit Suisse adicionar doses de preocupação ao mercado. Na terça-feira, 14 de março, o banco afirmou ter encontrado “fraqueza material” em seus balanços e descartou o pagamento de bônus a executivos após o pior desempenho anual da instituição desde a crise financeira global.

Mas a verdade é que desde 2022, o banco já vem fazendo cortes de custos, o que incluiu fechamento de postos de trabalho. Em 2021, o banco sofreu uma perda de R$ 5,5 bilhões, relacionada ao fundo Archegos Capital Management. O banco também sofreu perdas bilionárias com o Greensill.

Agora, em março de 2023, Securities and Exchange Commission (SEC), que é a CVM dos EUA,  apresentou questionamentos sobre a evolução do fluxo de caixa de 2019 e 2020.

*Com informações da Bloomberg

 

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