Banco Central: Copom manteve taxa de juros em 13,75% ao ano (Arquivo/Agência Brasil)
Beatriz Quesada
Publicado em 7 de dezembro de 2022 às 20h31.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil decidiu, nesta quarta-feira, 7, manter a taxa básica de juro da economia, a Selic, em 13,75% ao ano. A decisão já era esperada pelos investidores, e mantém a taxa no mesmo patamar em que se encontra desde agosto.
Analistas ouvidos pela Exame Invest ressaltaram que o tom do comunicado é bastante similar à última comunicação do BC. A grande novidade é a atenção reforçada sobre o quadro fiscal.
“A conjuntura, particularmente incerta no âmbito fiscal, requer serenidade na avaliação dos riscos. O Comitê acompanhará com especial atenção os desenvolvimentos futuros da política fiscal e, em particular, seus efeitos nos preços de ativos e expectativas de inflação, com potenciais impactos sobre a dinâmica da inflação prospectiva”, ressaltou o Copom na ata da decisão.
O Comitê se refere à política fiscal que será adotada a partir de 2023, no novo governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O temor é que o aumento de gastos possa resultar em aumento da inflação.
As perspectivas para a inflação, por sinal, também subiram. As projeções de inflação do Copom subiram de 5,8% para 6,0% para este ano, de 4,8% para 5,0% para o ano de 2023 e 2,9% para 3,0% para 2024.
Confira 5 opiniões do mercado sobre a decisão do Copom:
Para Laiz Carvalho, economista para Brasil do BNP Paribas, o tom da ata foi muito parecido com a última comunicação do BC, em outubro.
“De novidades temos a atualização do modelo para a inflação. É importante lembrar que a meta para 2024 é exatamente 3%, então vamos ficar em cima da meta em 2024 e acima da meta tanto este ano como em 2023. Outra novidade foi o aspecto fiscal: diferente de outras atas, BC comentou que vai acompanhar com bastante atenção a política fiscal e como pode impactar preços dos ativos e expectativa para a inflação”, afirmou em nota.
A expectativa do BNP Paribas é que a Selic permaneça em 13,75% nos primeiros meses de 2023, com cortes a partir do segundo semestre. A taxa encerraria o ano em 12% no final do próximo ano.
Leia também: Selic a 13,75% ao ano: quanto rendem R$ 5 mil, R$ 10 mil e R$ 15 mil
Gustavo Cruz, da RB Investimentos, entende que o BC está mais atento a políticas fiscais “criativas” que podem trazer efeitos adversos no mercado e na economia. “O Copom mostra que a questão fiscal é extremamente relevante em 2023 e passa recado que é independente. O comunicado vai afastar bastante a expectativa de corte de juros já no primeiro semestre de 2023”, destacou.
A percepção é reforçada por Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos. “Uma trajetória explosiva das contas públicas certamente afetará as expectativas, o que faria o Banco Central prolongar o atual patamar de juro ou até retomar o ciclo de altas”, disse em nota.
Por hora, a Ativa projeta que o BC irá manter a Selic em 13,75% até, pelo menos, a reunião de maio de 2023. “Contudo, estamos atentos às questões fiscais e não hesitaremos em alterar nosso call com a definição dos projetos fiscais em tramitação no congresso”, completou.
Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, não descarta uma retomada da trajetória de alta nos juros por conta da possível expansão fiscal no próximo ano.
"Uma deterioração maior [da inflação e das expectativas] nos próximos meses pode resultar na retomada do ciclo de alta da Selic. Ou seja, um aumento dos gastos fiscais em um cenário em que a economia já se encontra perto do potencial, pode ter como reflexo um maior aperto monetário", afirmou em nota.
Para Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura, é preciso aguardar novos sinais sobre a política fiscal para entender se o BC irá ou não subir os juros.
“Caso a PEC da Transição seja aprovada com licença em torno de $100 bilhões, esperamos que a taxa Selic siga em 13,75% até agosto de 2023, quando deve iniciar o ciclo de cortes, fechando 2023 em 11,50%. Caso a PEC da Transição seja aprovada com uma licença mais próxima de R$200 bilhões, acreditamos que ou Copom retomará o ciclo de alta no segundo trimestre do próximo ano ou então irá postergar o início do ciclo de cortes para o o final de 2023 ou início de 2024”, argumentou em nota.